“Wakȟáŋ Tȟáŋka,
Ó Grande Mistério (ou “O Grande Espírito”),
Ensina-me a confiar no meu coração,
Ensina-me a confiar na minha mente,
Ensina-me a confiar na minha intuição,
Ensina-me a confiar no meu conhecimento interior,
nos sentidos do meu corpo,
nas bênçãos do meu espírito.
Ensina-me a confiar nestas coisas
para que eu possa entrar no meu espaço sagrado
e amar para além do meu medo
e assim caminhar em equilíbrio
com a passagem de cada sol glorioso.”
Oração Lakota
Queridos alunos e amigos ✨,
MARÇO já está a bater à porta e os horários vão manter-se inalterados durante os meses de Primavera🌸.
O Shala🪷🍃 continuará a estar encerrado às quartas e sextas-feiras, sendo que este mês estará igualmente ENCERRADO na segunda-feira, 25/03, mas haverá aula excepcionalmente na quarta-feira, 27/03, para compensar.
Relembro que, apesar de estar agora ENCERRADO às quartas e sextas-feiras, assim como aos feriados e fins-de-semana, o Shala🪷🍃 está sempre disponível em qualquer dia e qualquer hora, para os alunos que aí queiram fazer a sua auto-prática, como tem acontecido até agora (a menos que seja necessário encerrar para fazer limpezas ou obras).
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“A probabilidade que cada um de vós tem de despertar é
diretamente proporcional à quantidade de verdade que conseguem suportar sem fugir a correr. Quanto é que estão preparados para aguentar? Quanto de tudo o que vos é querido estão prontos para ver desfeito, sem fugir a correr? Até que ponto estão preparados para pensar em algo que não vos é familiar? A primeira reação é sempre o medo. Não é que tenhamos medo do desconhecido. Não se pode ter medo de algo que não se conhece. Ninguém tem medo do desconhecido. Do que realmente se tem medo é da perda do conhecido.
É isso que se teme.”
Anthony de Mello
Na prática de Yoga, como na Vida (sempre disse que não eram coisas distintas…), é quando nos encontramos “sob pressão” que podemos verdadeiramente observar e verificar Quem Somos, quais são as nossas forças e virtudes, as nossas vulnerabilidades e defeitos, o que precisa de ser adquirido, aperfeiçoado ou polido ou aquilo que é tempo de simplesmente descartar, pois deixou de servir a nossa Expressão Mais Elevada. É nesses momentos de grande intensidade física, psicológica, emocional ou espiritual, que a prática e a integração plena dos princípios éticos e de disciplina pessoal do Yoga (Yama/Niyama) tanto em cima do tapete como ao quotidiano, se revela simultaneamente como uma bússola (ou um mapa), capaz de nos revelar o justo caminho a seguir, mesmo no meio dos mais intensos nevoeiros, e uma firme e pesada âncora, capaz de nos manter focados e estáveis, no centro da mais agreste das tempestades dos nossos tempos.
“Cada um nasce no momento mais adequado para a sua salvação.”
Santo Ambrósio de Optina
Individualmente, todos nós atravessamos quotidianamente certas situações ou desafios que testam a nossa integridade (seja física, psicológica, emocional, energética ou espiritual) e nos apresentam a oportunidade de encararmos com sinceridade os nossos limites pessoais e a influência dos kleśa (क्लेश - causas do sofrimento humano) sobre os nossos diferentes corpos (físico, mental, emocional ou espiritual) e, consequentemente, essa influência sobre as nossas escolhas e decisões, a forma como escolhemos viver a nossa vida. São oportunidades únicas e só nós podemos decidir se lhes resistimos ou se escolhemos acolhê-las com Humildade e Gratidão. Essa escolha é só nossa, depende do nosso Livre-Arbítrio e, por muito que nos custe admitir (porque muitas vezes é mais fácil descartar a nossa responsabilidade sobre outrem, relativamente ao que pensamos, dizemos ou fazemos, principalmente quando as consequências são difíceis de acolher ou nos provocam dor, vergonha ou culpa…), NÓS TEMOS SEMPRE ESCOLHA e somos sempre responsáveis pela nossa realidade física, mental, emocional e espiritual. Sempre. Só depende do que estamos prontos a deixar para trás…
“Ainda ontem eu não era diferente deles, no entanto, eu fui salvo. Eu estou a explicar-vos o modo de vida de um povo que diz todo o tipo de coisas perversas sobre mim, porque sacrifiquei a sua amizade para alcançar a minha própria alma. Deixei os escuros caminhos da sua dualidade e voltei o meu olhar na direcção da luz, onde existe salvação, verdade e justiça. Então, eles exilaram-me da sua sociedade, no entanto, eu estou contente. A humanidade apenas exila aqueles cujos espíritos são imensos e se revoltam contra a injustiça e a tirania. Aquele que não prefere o exílio à servidão não é livre, no verdadeiro e necessário sentido de Liberdade.”
Kahlil Gibran
Cada pensamento, palavra ou acção que nasça dessa influência dos kleśa, é inevitavelmente submetida à Lei do Karma, a Lei de Causa e Efeito e gera, agora ou mais tarde, inevitáveis consequências, que dependem igualmente da fonte e da natureza desses pensamentos, palavras ou acções. Assim sendo, essas consequências, por sua vez, podem também vir a transformar-se em novos desafios, num ciclo muitas vezes constante, regular e infelizmente interminável… A não ser que a nossa vontade de nos libertarmos de forma definitiva e permanente dessa influência sobre nós e sobre a nossa vida, a nossa vontade de nos libertarmos da escravidão inerente ao saṃsāra (संसार - ciclo de transmigração das almas) e ao sofrimento (duḥkha दुःख) associado a condição humana enraizada em avidyā (अविद्या - ignorância), assim como a nossa vontade de libertar o nosso potencial mais elevado e de encarnar plenamente esse Ser Divino, Soberano e Livre, relembrar Quem Realmente Somos, de onde viemos e o que fazemos aqui, a menos que toda essa vontade transborde de dentro do nosso Coração, empurrada pela Fé e pela vontade indomável da nossa Alma para recuperar a sua LIBERDADE… Essa é a condição! E esse é também o único objectivo do Yoga, método soteriológico concebido como uma técnica, uma filosofia e forma de vida, um caminho que leva a mokṣa (मोक्ष), a Libertação. Sofremos, é certo. Mas existem soluções para acabar de forma definitiva e permanente com esse sofrimento e o Yoga é-nos apresentado como sendo uma delas.
Yogasūtra II.12
क्लेशमूलः कर्माशयो दृष्टादृष्टजन्मवेदनीयः॥१२॥
kleśa-mūlaḥ karma-aśayo dr̥ṣṭa-adr̥ṣṭa-janma-vedanīyaḥ ॥12॥
« As latências das acções enraizadas nas causas de sofrimento, são vivenciadas agora ou mais tarde. »
ॐ
Yogasūtra II.13
सति मूले तद्विपाको जात्यायुर्भोगाः॥१३॥
sati mūle tad-vipāko jāty-āyur-bhogāḥ ॥13॥
« Enquanto essas raízes existirem, elas vão influenciar nascimento, longevidade e experiência. »
ॐ
Yogasūtra II.14
ते ह्लादपरितापफलाः पुण्यापुण्यहेतुत्वात्॥१४॥
te hlāda paritāpa-phalāḥ puṇya-apuṇya-hetutvāt ॥14॥
« As suas consequências serão o prazer ou a dor causado pela virtude ou pelo vício, respectivamente. »
Colectivamente, essas situações ou desafios que testam a integridade do grupo e estão directamente ligados ao Karma colectivo, podem tornar-se mais evidentes (e mesmo mais insistentes!) no final de cada ciclo (युग yuga - idade do mundo) como neste momento em que nos aproximamos do final do movimento da precessão dos equinócios (ciclo de 25 770 anos, também conhecido como “O Grande Dia”). Nestes períodos excepcionais (como o que vivemos actualmente), não é só a cada indivíduo, enquanto parte integrante da população mundial, que é dada a oportunidade de se libertar das limitações, de encarnar a mudança que quer ver manifestada no mundo e de se libertar do sofrimento, mas a toda a Humanidade. É todo o colectivo que é confrontado com diferentes escolhas e possibilidades, capazes de proporcionar uma extraordinária elevação espiritual e a libertação das causas de aflição do ser humano (kleśa) e deixar para trás todos os paradigmas obsoletos que criam as desigualdades, a separação, a guerra e o sofrimento. Isto se, obviamente, for efectivamente essa a escolha de cada indivíduo que o constitui… O oposto também é válido e possível, é claro, tendo em conta que ainda vivemos numa realidade dual onde, se é possível subir, também será possível descer e, se podemos escolher a Luz, a sombra também é uma opção… A oportunidade é colectiva, o trabalho é individual e a bifurcação é inevitável durante o período de transição (que pode durar centenas ou milhares de anos…), dependendo das escolhas de cada um. São momentos extraordinários estes que vivemos (pessoalmente estou muito grata por estar aqui, agora, por muito difícil que seja por momentos!) e é importante nunca nos esquecermos que temos sempre escolha. Sempre.
“O sistema entrará em colapso, se nos recusarmos a comprar o que eles estão a vender - as suas ideias, a sua versão da história, as suas guerras, as suas armas, as suas noções de inevitabilidade.
Lembrem-se disto : Nós somos muitos e eles são poucos.
Eles precisam mais de nós do que nós precisamos deles.
Outro mundo não é apenas possível, ele está a caminho.
Num dia calmo, consigo ouvir a sua respiração.”
Arundhati Roy
Se essa for realmente a nossa vontade, somos guiados pela nossa Fé, a nossa energia, a nossa memória, a nossa capacidade de concentração, assim como pelas diferentes tomadas de consciência que vão acontecendo em nós, à medida que vamos avançando, movidos pela nossa vontade de procurar, de ver e encarnar a Verdade, por muito difícil ou dolorosa que ela possa parecer à primeira vista. Só a Verdade pode destruir os véus da ilusão (māyā माया), só a Verdade pode desfazer as amarras de avidyā, só a Verdade pode libertar do sofrimento, de forma definitiva e permanente.
Yogasūtra I.20
श्रद्धावीर्यस्मृतिसमाधिप्रज्ञापूर्वक इतरेषाम्॥२०॥
śraddhāvīryasmṛtisamādhi-prajñāpūrvaka itareṣām ॥20॥
« Para os outros, a fé, [precede] a energia, a memória, a concentração, a alta inteligência [tomadas de consciência]. »
Por muito difícil ou doloroso que possa parecer à primeira vista, por muito que isso nos obrigue a sair da nossa zona de conforto, enquanto indivíduos ou enquanto colectivo, num momento ou noutro da nossa existência, todos já fomos (e continuaremos a ser…) submetidos a essa imensa “pressão” que permite a transformação alquímica de todo o nosso Ser (da mesma forma que o carbono se transforma em diamante!), independentemente da nossa vontade pessoal. Não importa quantas vezes caímos no chão, de joelhos, estatelados, ou mesmo estilhaçados e espalhados por todo o lado. Não importa quanto tempo levamos para recuperar todos os pedaços dispersos, para voltar a colocá-los em ordem, na solitude e no silêncio interior da meditação, acompanhados pela nossa Alma e na Presença de Deus, ou com a ajuda de uma mão amiga ou de uma comunidade de semelhantes. Não importa se é difícil crescer e erguermo-nos de novo ou se isso exige um imenso esforço da nossa parte, porque ficar de rojo pelo chão nunca é uma opção! Não é essa a vontade da nossa Alma, nem nunca é essa a Vontade Divina (infelizmente, nem todos conseguem ouvir a sua voz interior ou distingui-la das frequências externas inorgânicas às quais somos constantemente submetidos…).
“Desde criança que tenho esta necessidade instintiva de expansão e crescimento. Para mim, a função e o dever de um ser humano de qualidade é o desenvolvimento sincero e honesto do seu potencial.”
Bruce Lee
Podemos reconhecer essa Verdade agora ou no momento da nossa transição, podemos agir em conformidade agora ou esperar pela próxima vida, mas essa escolha continuará a ser-nos apresentada, sob as mais diversas formas, uma e outra vez, inevitavelmente, até que façamos a escolha da Sabedoria e, silenciando o medo, os apegos, as repulsas e o ego, arregacemos as mangas e nos entreguemos a esse trabalho pessoal, para remover os véus da ignorância, através da busca incessante da Verdade (Satya सत्य). A Verdade sobre nós mesmos, a Verdade sobre os outros, a Verdade sobre o mundo que nos rodeia. A Verdade não pode existir através do filtro do medo, incluindo o medo da morte (abhiniveśa अभिनिवेश). A Verdade não pode existir enquanto tivermos apegos (rāga राग) ou repulsas (dveṣa द्वेष). A Verdade nunca, nunca, NUNCA nos é revelada pelo ego (asmitā अस्मिता), nem pela lógica ou racionalidade do nosso corpo mental, que muitas vezes é apenas um escravo das suas múltiplas facetas. A Verdade ficará sempre fora do nosso alcance, enquanto existir ignorância (avidyā अविद्या) e não fizermos a escolha consciente e o trabalho pessoal necessário para nos libertarmos dela.
“O simples passo de um indivíduo corajoso é não participar na mentira.”
Aleksandr Solzhenitsyn
A Verdade, como parte integrante dos membros do Yoga, faz parte do caminho que leva à União (yoga योग) e à Libertação (mokṣa मोक्ष) e é indissociável desta prática. A prática de Satya (सत्य - verdade) é um caminho difícil, que nem todos terão coragem para percorrer durante esta encarnação, pois apesar de libertador, não é um caminho sereno e tranquilo… Mas para aqueles que a escolheram como linha de conduta, nesta ou noutras vidas, escutando o apelo, o murmúrio da Alma e o sopro de Deus que se manifesta dentro do nosso Coração, não importa quantas vezes é preciso repetir o mesmo processo para a alcançar, fazer o mesmo āsana (आसन - postura), repetir a mesma sequência, recitar os mesmos mantra (मन्त्र), fazer os mesmos exercícios de respiração e de concentração e de meditação, para disciplinar a mente… Cada um vai fazendo o melhor que pode, com as ferramentas que tem e há algo de particularmente belo nesta nesta manifestação de Paciência, de Humildade, de Perseverança e Resiliência… Não importa quantas vezes “caímos” e, no final, nem sequer quantas vezes nos “levantamos”, mas sim reconhecer que aquele que se levanta, já não é o mesmo que caiu e que tudo o que ficou para trás são apenas fragmentos de construções mentais e do ego que nos cegavam, nos prendiam, nos limitavam e nos impediam de aceder a Satya, de aceder à nossa Verdadeira Essência!
“Ninguém cometeu um erro maior do que aquele que não fez nada porque só podia fazer um pouco.”
Edmund Burke
Há quatro anos, foi oferecida à Humanidade a possibilidade de aceder à Verdade de forma brutal e acelerada, a extraordinária oportunidade de sair do campo das teorias e de colocar em prática a encarnação plena e consciente da Verdade (não se esqueceram, quando em Março de 2020, nos disseram que era preciso ficarmos todos fechados em casa, custasse o que custasse, para “aplanar a curva”, senão íamos todos morrer, pois não?). Foi-nos dada a possibilidade de aceder (ou aprofundar) à Verdade sobre nós mesmos, aceder à Verdade sobre os outros, aceder à Verdade sobre o mundo e o Universo que nos rodeia (é um processo que nunca está terminado e que continuará até ao último instante da nossa existência…). Desde então, alguma vez pensaram sobre qual será a “percentagem” dessa Verdade que vos foi possível acolher? Foram atrás das “migalhas de pão” em busca da Verdade, por muito tortuoso que parecesse o caminho? Ou deixaram-se estar, regressando assim que possível à vossa zona de conforto, voltando aos vossos “velhos” hábitos e à vossa vida “como antes”? Será que conseguiram identificar os vossos limites e a manifestação da influência dos kleśa, a cada novo patamar de realidade a que acederam desde então? Já pararam para reflectir sobre onde se encontram agora e perceber e sentir até onde estão dispostos a ir, na busca dessa Verdade, que não é diferente do que SOMOS, da Verdade da nossa verdadeira Essência Divina, de SAT-CIT-ĀNANDA (सच्चिदानन्द) Verdade (Existência), Consciência e Felicidade.
“As pessoas não se apercebem de como é difícil dizer a verdade, num mundo cheio de pessoas que não se apercebem que estão a viver uma mentira.”
Edward Snowden
A minha vida nunca mais foi a mesma desde que o Yoga entrou na minha vida… Nem nunca mais foi a mesma desde Março de 2020… Nunca tropecei tanto, nunca caí tanto, nunca andei tanto de rojo pelo chão, como desde que a minha Alma me sussurrou que o Yoga seria a minha Vida, porque o Yoga é Quem Eu Sou… Belas cambalhotas me trouxe também o Universo, nos últimos quatro anos, quando não pude senão constatar que a minha compreensão e integração de Satya, da Verdade é muito diferente da forma como a compreendem e vivem as outras pessoas à minha volta (não todas, mas a maioria, incluindo uma grande parte da comunidade do Yoga), constatando igualmente que eram muito poucos os que conseguiam efectivamente sentir a Frequência da Verdade (como tudo, a Verdade tem uma frequência específica e se nos alinharmos a essa vibração, podemos senti-la dentro do nosso Coração e reconhecê-la em toda a parte, tanto dentro de nós, como à nossa volta, independentemente de toda e qualquer tentativa para a distorcer ou subverter!).
“Todos os documentos foram destruídos ou falsificados, todos os livros rescritos, todos os quadros pintados de novo, todas ruas, estátuas e edifícios rebaptizados, as datas alteradas. E este processo avança dia após dia, minuto após minuto. A História parou. Nada existe exceto um infinito presente em que o Partido tem sempre razão.”
George Orwell, in 1984
Desiludi-me vezes sem conta e agradeci profundamente cada uma dessas desilusões, pois é esse mesmo o trabalho do Yoga, desenvolver a capacidade de remover os véus da ilusão, para poder ver as coisas como elas realmente são, sem julgamentos. Levantei-me uma e outra vez, mas acima de tudo, aprendi a cair, sem medos, porque a minha Fé e a Confiança em Deus são inabaláveis e sei que terei sempre a Sua ajuda para me levantar. Seja qual for a forma ou ser escolhidos para se manifestar, o Amor, a Compaixão, a Generosidade e a Bondade, isentos de qualquer tipo de interesse pessoal ou necessidade de gratificação ou retribuição, são sempre a constante que nos permitirá reconhecer esse toque Divino em acção, em nós ou à nossa volta e cultivar a Gratidão…
धर्मो रक्षति रक्षितः ।
dharmo rakṣati rakṣitaḥ |
“O Dharma protege aquele que protege o Dharma.”
Por momentos, sentindo que ia cair, optei simplesmente por me atirar, deixar-me ir, deixar-me levar pela Vontade Divina, pedindo apenas para ver a Verdade, toda a Verdade, sobre o que me está a ser pedido para viver naquele instante preciso, quais as lições que ainda tenho para aprender. Se me mentem sobre um assunto, porque me diriam a verdade sobre um assunto diferente? E se reconheço que os outros me mentem, ou mentem a si mesmos (ou distorcem a verdade…), de forma a servir propósitos ou intenções egoístas ou simplesmente porque a verdade é demasiado dolorosa, para ser plenamente revelada e acolhida, porque seria eu diferente dos outros? Quais são as partes de mim que ainda não foram trazidas à Luz e que continuam escondidas por debaixo do manto da mentira, seja por ignorância, egoísmo, conforto, medo, culpa, vergonha ou qualquer outra razão enraizada nos kleśa e nos mecanismos de defesa do ego? São questões válidas que me permitem aprofundar de forma saudável o conhecimento de mim mesma, desde que sejam conscientemente processadas com Compaixão e sem julgamentos, obviamente! Avanço lentamente com muito Amor, muita Compaixão e tanta capacidade para perdoar quanto possível, tanto a mim mesma, como aos outros, plenamente consciente que nunca nada acontece por acaso e, na realidade, todo este processo é sempre muito menos doloroso quando não resisto, quando não me debato, quando aceito voluntariamente e com equanimidade que há um tempo para tudo, um tempo para rir e outro para chorar, um tempo para nos interiorizarmos e um tempo para nos abrirmos ao mundo, um tempo para aprender e integrar e outro para ensinar e partilhar o que já foi plenamente integrado.
“Diz a tua verdade para que os outros possam encontrar coragem para dizer a sua. Partilha as tuas histórias para que os outros possam unir-se através da partilha das suas. Ama-te a ti próprio para que os outros possam descobrir como amar-se a si mesmos. Cura-te para que os outros possam encontrar a esperança de também se curarem a si mesmos. Liberta-te para que os outros possam descobrir as ferramentas para também se libertarem. Se queres salvar o mundo, salva-te primeiro a ti. O mundo aprenderá através do teu exemplo.”
Emily Maroutian
“Quanto mais brilhante for a luz,
mais escura será a sombra.”
Carl Jung
Há quatro anos, quando o mundo ficou virado de pernas para o ar, eu já tinha aprendido a fazer śīrṣāsana (शीर्षासन) durante longos períodos de tempo, com muita paciência e muita resiliência. Aprendi essencialmente sozinha, demorei muitos, muitos anos para lá chegar, enfrentei muitos medos e dei muitos trambolhões, mas no momento certo, eu estava pronta… Desde então, de forma simbólica, tenho ensinado śīrṣāsana a tantas pessoas quanto possível…
É que, não sei se já repararam, mas o mundo continua voltado de pernas para o ar e quem o colocou assim, não tem qualquer intenção de o colocar voluntariamente no alinhamento da sua Expressão Mais Elevada… Nesta batalha final entre a Luz e a sombra (dentro e fora de nós), nesta intensa luta para restabelecer o equilíbrio do Dharma (da Ordem Cósmica, tal como relatado na Bhagavad-Gītā) é apenas dentro de nós que encontraremos as ferramentas necessárias para desenvolver o discernimento indispensável para ultrapassarmos as nossas limitações e a dualidade, olharmos para a realidade tal como ela é, sem filtros, sem distorções, nem embelezamentos, recuperando assim plenamente a nossa Autonomia, Soberania e Liberdade, a nível físico, mental, emocional e espiritual!
“Conhecer a sua própria escuridão é o melhor método
para lidar com a escuridão das outras pessoas.”
Carl Jung
O Yoga é a minha caixa de ferramentas e Satya, a Verdade, a bússola que me permite escutar a voz do meu Coração, a minha ligação a Deus, para melhor navegar estes tempos extraordinários de revelação e de Ascensão…
E vocês? O que têm na vossa caixa de ferramentas, qual é a vossa bússola e até que ponto estão dispostos a seguir as suas indicações, deixando para trás tudo o que já não serve a Expressão Mais Elevada da vossa Alma, sabendo que isso vos levará inevitavelmente para fora da vossa zona de conforto? Não há forma de encher um copo que já está cheio… Para escutar a voz de Deus dentro do nosso Coração, é preciso espaço para que a mensagem da Vontade Divina possa ressoar…
"The Messenger" by Akiane Kramarik
🙏💜🙏
Excerto de “CASAS”, de Khalil Gibran
“(…)
E dizei-me, povo de Orfalés, que tendes dentro das vossas casas? Que guardais no interior das vossas portas trancadas?
Tendes paz, o impulso subtil que revela o vosso poder?
Tendes memórias, os arcos luminosos que cobrem as montanhas da mente?
Tendes a beleza, que afasta o coração das criações de madeira e pedra e conduz na direção da montanha sagrada?
Dizei-me, tende-lo nas vossas casas?
Ou tendes apenas conforto e desejo de conforto, aquela coisa secreta que vos entra em casa como convidado, que se torna anfitrião e depois mestre?
Sim, e torna-se o vosso domador, e com astúcia e flagelo, manipula os vossos maiores desejos.
Embora as suas mãos sejam de seda, o seu coração é de ferro.
Embala-vos para vos adormecer só para ficar à beira da vossa cama e troçar da dignidade da carne.
Troça dos vossos sentidos são e envolve-os em algodão, como vasos frágeis.
De facto, o desejo de conforto assassina a paixão da alma e depois caminha com um sorriso no funeral.
Mas vós, crianças do espaço, inquietas no descanso, não sereis capturadas nem domadas.
A vossa casa não será uma âncora mas sim um mastro.
Não será uma película brilhante que cobre uma ferida, mas uma pálpebra que protege o olho.
Não fecheis as asas para que possais passar pelas portas, nem baixeis a cabeça para que não bata no teto, nem receeis respirar sob pena de as paredes se racharem e desmoronarem.
Não vivais em tumbas feitas pelos mortos para os vivos.
E apesar de magnificente e esplendorosa, a vossa casa não guardará o vosso segredo nem acolherá a vossa ânsia.
Pois aquilo que não tem fronteiras dentro de vós reside na mansão do céu, cuja porta é a bruma da manhã, e cujas janelas são as canções e os silêncios da noite.”
Como sempre, deixo-vos a minha mais profunda e sincera GRATIDÃO pela vossa leitura e atenção e peço-vos que, como de costume, acolham apenas o que ressoa convosco e coloquem de parte tudo o resto, já que tudo o que partilho convosco é apenas o fruto dos meus próprios questionamentos, experiências de vida, compreensões e integrações alcançadas através dos ensinamentos do Yoga, da minha própria prática espiritual e do meu sādhana (साधन). Com todo o meu AMOR e REVERÊNCIA, desejo-vos coragem, bons questionamentos e boas práticas… Dentro e fora do tapete! Para que um dia, possamos ver no mundo, a mudança que ocorre em nós através do Yoga!
Namaste
🙏💜✨
Rita
ॐ लोकाः समस्ताः सुखिनो भवन्तु
ॐ शान्तिः शान्तिः शान्तिः॥
Oṁ lokā samastā sukhino bhavantu
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ
Oṁ
Que todos os seres, em todos os lugares, sejam felizes.
Que haja Paz, Paz, Paz.
Oração de São Francisco de Assis
Senhor, fazei de mim um instrumento da Vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida eterna.
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