... o Padma Yoga Shala está ENCERRADO, mas o Yoga pode e deve continuar, também além do tapete...
Queridos alunos e amigos 🌿, Desde o primeiro dia em que abri o Padma Yoga Shala🌿 (há quase três anos), depois de vários anos a dar aulas noutros espaços e escolas de Yoga, sempre fiz questão de transmitir o Yoga na sua globalidade.
Nunca partilhei os ensinamentos do Yoga como um simples exercício físico, ou uma série de posturas, mas sim como um sistema, uma técnica de auto-conhecimento e uma espiritualidade, onde o trabalho sobre o corpo, a respiração e a mente, nos permitiriam desenvolver um estilo de vida integrado (através do estudo e da prática, regular e sem interrupções, de cada um dos membros do Yoga), capaz de influenciar e transformar todas as áreas da nossa vida (obviamente, para quem esteja disposto a levar esses ensinamentos além do tapete), ajudando-nos a viver uma vida mais saudável, equilibrada, plena e em harmonia connosco mesmos, com os outros e com o ambiente que nos rodeia.
Aliás, para quem já visitou este site internet, isso está bem explícito, logo na primeira página : “O Padma Yoga Shala🌿 é um espaço dedicado ao estudo e à prática de Yoga, no centro de Ponta Delgada, na belíssima ilha de São Miguel, Açores. Nasceu da vontade de criar um espaço seguro onde qualquer pessoa possa estudar, praticar e viver em Yoga, construindo ferramentas que permitem levar os ensinamentos do tapete para a vida quotidiana e que desenvolvem a capacidade de estar consciente do "aqui e agora". Pretende igualmente ser um espaço de partilha, de abertura para o mundo exterior e de ligação entre o individual e o colectivo, sempre com um respeito profundo pela tradição do Yoga na sua globalidade.”
Obviamente, ao utilizar o termo “espaço seguro”, não estava a fazer referência a máscaras, álcool-gel, luvas e desinfectante a ser passado de cinco em cinco minutos 😂, mas sim a um espaço de confiança, tanto no próprio Yoga, como na capacidade transformadora e benéfica dos seus ensinamentos e da sua prática, confiança entre professora e alunos, confiança na sabedoria infinita do Universo e na ordem de Īśvara, que faz com que cada coisa esteja no sítio certo, no momento certo e aconteça exactamente como tem que acontecer, para que cada um de nós possa viver, ao seu próprio ritmo, da melhor forma possível e em plena aceitação, este processo único a que chamamos VIDA.
Dentro desse estilo de vida integrado, o Yoga inclui padrões éticos que a grande maioria dos seres humanos acharia, em princípio, aceitáveis. A esses padrões, a que Patañjali se refere como os Yama ou “refreamentos”, e que estão codificados no primeiro dos oito “membros” do caminho do Rājayoga [não violência (ahimsā), veracidade (satya), não-roubo ou não-cobiça (asteya), castidade (brahmacharya) e desapego ou não-possessão (aparigraha)], vêm depois juntar-se cinco “observâncias” (o segundo “membro”), os Niyama [purificação (śauca), contentamento (saṃtoṣa), esforço sobre si mesmo (tapas), estudo de si mesmo [através dos textos sagrados do Yoga] (svādhyāya) e a dedicação a Īśvara, o Ilimitado (īśvarapranidhāṇa), dos quais já falei inúmeras vezes nos textos que escrevo nas Newsletters e que tenho vindo também a “ensinar”, durante o último mês e meio, nas aulas online.
Noutras escrituras importantes do Yoga, como a Bhagavad-Gītā, por exemplo, esses princípios éticos, morais e de conduta pessoal são apresentados em maior número (são vinte, os valores transmitidos por Kṛṣṇa a Arjuna, em pleno campo de batalha de Kurukṣetra) e sempre como virtudes que definem um bom caráter, devendo, obviamente, manifestar-se no mais alto grau, na vida dos grandes mestres de Yoga. Podem igualmente encontrá-los, neste excelente artigo do Pedro Kupfer, aqui.
Bhagavad-Gītā, 13:8
amānitvam adambhitvam ahiṃsā kṣāntir ārjavam |
ācāryopāsanaṃ śaucaṃ sthairyam ātmavinigrahaḥ || 13.8 ||
Ausência de vaidade, ausência de pretensão, não-violência,
acomodação, retidão, dedicação ao mestre, pureza, persistência, autocontrole;
Bhagavad-Gītā, 13:9
indriyārtheṣu vairāgyam anahaṃkāra eva ca |
janmamṛtyujaravyādhiduḥkhadośānudarśanam || 13.9 ||
desapego em relação aos objetos dos sentidos,
ausência de egoísmo e compreensão das limitações
do nascimento, a morte, a velhice, a doença e a dor;
Bhagavad-Gītā, 13:10
asaktir anabhiṣvaṅgaḥ putradāragṛhādiṣu |
nityaṃ ca samacittatvam iṣṭāniṣṭopapattiṣu || 13.10 ||
ausência de apego à ideia de posse, ausência de apego
em relação aos filhos, o cônjuge, o lar e outros,
equanimidade constante independente da realização
do desejado ou do não desejado;
Bhagavad-Gītā, 13:11
mayi cānanyayogena bhaktir avyabhicāriṇī |
viviktadeśasevitvam aratir janasaṁsadi || 13.11 ||
devoção inquebrantável a mim, [sabendo que] não há
outro [além de Īśvara], apreço por um lugar tranquilo,
ausência da necessidade da companhia de pessoas;
Bhagavad-Gītā, 13:12
adhyātmajñānanityatvaṃ tattvajñānārthadarśanam |
etaj jñānam iti proktam ajñānaṃ yad atonyathā || 13.12 ||
busca constante do conhecimento de Ātma, apreciação
do sentido do conhecimento da verdade, isso é chamado
jñāna, conhecimento. O contrário a isto é ajñāna, ignorância.
Tendo em conta que são estes os VALORES do YOGA, apesar da imensa complexidade da sociedade contemporânea, tão diferente daquela em que, na Índia, foram transmitidos pela primeira vez (apesar de serem universais e intemporais) e já para não falar da imensa complexidade da situação actual de crise, que já não se justifica dizer pandémica ou sanitária, pois a crise já “transbordou” a todos os níveis de vida da população mundial, fazendo mesmo esquecer a crise ambiental ou social em que nos encontramos há tantos anos, e à qual já estávamos infelizmente “habituados”, não deixa de ser apropriado que os professores de Yoga de hoje, se esforcem para governar as suas vidas de acordo com estes princípios éticos, adoptando um estilo de vida sustentável. É também normal que, se estão integrados na nossa forma de viver, se reflictam na forma como partilhamos os ensinamentos do Yoga, dando aos alunos uma oportunidade para desenvolverem um questionamento mais profundo sobre si mesmos, sobre a forma como se relacionam com os outros e com o ambiente que os rodeia, principalmente em tempo(s) de crise(s).
Da mesma forma que um governante tem uma grande responsabilidade para com o povo que o elegeu e deve reger-se segundo as propostas que levaram à sua eleição, protegendo os interesses de todos (partindo do princípio que nos estamos a referir a regimes democráticos, já que nos regimes autocráticos, essa escolha é inexistente…), um médico tem uma grande responsabilidade para com os seus pacientes e tem como guia o juramento de Hipócrates, onde lhe é pedido que pratique a medicina de forma honesta, que proteja a vida e respeite a integridade do seu paciente, (e poderíamos continuar citando exemplos e alargando a um código ético e/ou deontológico que estará na base de toda e qualquer profissão, quer esteja juridicamente estabelecido ou venha simplesmente do bom senso dos profissionais de cada área), também os professores de Yoga possuem uma grande responsabilidade para com a sua linhagem, mas acima de tudo, para com os seus alunos, devendo ser esperado que espelhem os altos padrões éticos e morais defendidos pelo Yoga. Os meus filhos certamente citariam, neste momento, a frase famosa de Peter Parker, mais conhecido como SPIDERMAN ou HOMEM-ARANHA : “Com um grande poder, surge uma grande responsabilidade!”. 😂 Mas como os meus "super-heróis" pessoais, são a imensa linhagem de yogins e yoginīs que ao longo de milénios procuraram a Verdade e a Liberdade, deixo como referência o mantra que cantamos no final das aulas de Ashtanga Yoga (a mensagem é a mesma!):
Ōṃ
svastiprajābhyaḥ paripālayantāṁ nyāyena mārgeṇa mahīṃ mahīśāḥ | gobrāhmaṇebhyaḥ śubhamastu nityaṁ lokāssamastāḥ sukhino bhavantu||
Ōṃ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ
Ōṃ
Que a prosperidade e o bem-estar sejam glorificados.
Que os governantes governem com virtude e justiça.
Que a sabedoria e o conhecimento sejam protegidos.
Que todos os seres, em todos os lugares, sejam felizes.
Ōṃ
Georg Feuerstein, um dos mais reconhecidos estudiosos da Índia e do Yoga do século XX (e início do séc. XXI), criou uma lista de directrizes como proposta a uma razoável adaptação destes valores para a situação moderna, mas que reconhecem, apropriadamente, a sabedoria contida na herança do Yoga. É segundo estes valores, tal como transmitidos pelo Yogasūtra de Patañjali e pela Bhagavad-Gītā e tão bem compilados e adaptados à sociedade actual por Georg Feuerstein, que eu vivo a minha VIDA DE YOGA.
Se estiverem interessados em lê-los, para poderem compreender(-me) melhor, poderão encontrá-las no final desta reflexão, traduzido na íntegra e respeitando a fonte, tal como pedido pelo autor, para a sua reprodução livre.
Os mais atentos e os que gostam de ler tudo até ao final, já me ouviram dizer que o YOGA não é diferente da VIDA. O Yoga não é algo que praticamos apenas uma hora por dia em cima de um tapete, com o objectivo de nos sentirmos melhor, de emagrecer, de ser mais saudáveis, de manter o bem-estar físico, emocional ou psicológico, ou qualquer outra razão que nos leva a praticar, mesmo se tudo isto é válido e se é precisamente por aí que começa, na maioria das vezes, o nosso percurso pela via do Yoga.
O Yoga é, como referido acima, um estilo de vida integrado, que nos permite acalmar a nossa mente, desidentificarmo-nos dos nossos pensamentos e agitações mentais, libertar-nos dos nossos condicionamentos, viver no “aqui e agora”, aceitar a vida como ela é e, quem sabe, realizar o Conhecimento de nós mesmos, para que possamos viver a tal vida plena e consciente, em harmonia connosco mesmos, com os outros, com o ambiente à nossa volta (todo o ambiente, vírus incluídos 😉!) e agir em consciência, em vez de reagir com base nos kleśa.
Num momento de crise global como o que vivemos actualmente, face às incertezas, angústias, medos, falta de disponibilidade, solicitações externas, para alguns de vós foi difícil, ou mesmo impossível incluir o estudo e a prática de Yoga na vossa vida. Se já em condições “normais”, com o trabalho, os filhos, os afazeres da casa, as inúmeras actividades que nos pareciam tão indispensáveis (seriam mesmo?), às vezes não era fácil…
Para outros, o estudo e a prática de Yoga tornou-se uma evidência! Face a todos os questionamentos (sobre nós mesmos, sobre os outros, sobre o mundo em que vivemos) a que somos inevitavelmente submetidos, quando nos retiram a nossa “normalidade”, que outra prática seria mais adaptada a manter-nos centrados, focados, calmos, com confiança e fé na sabedoria do Universo, apesar da tempestade à nossa volta? Se a tempestade já é tão grande à nossa volta, qual é a necessidade de recrearmos a mesma tempestade dentro de nós, perdidos nas nossas agitações mentais, nas nossas emoções, nos nossos sentimentos?
O que é importante relembrar é que, mesmo para quem se encontrou distante da prática do tapete, a prática destes valores do Yoga, pode ser uma imensa ajuda para que nos mantenhamos alinhados com o nosso centro, para ajudar-nos a compreender melhor a nossa mente, os pensamentos, emoções e sentimentos que podem surgir de forma mais exacerbada em momentos de tamanha incerteza. Para fazer face à incerteza de tudo o que não depende de nós, fica a certeza inabalável, a fé (śrāddha) de que o Yoga é o nosso caminho e a confiança que esse caminho nos mostra, cada dia, mesmo que por pequenos instantes, que já somos a felicidade que procuramos fora de nós e que essa felicidade se manifesta na UNIÃO (yoga) com tudo e todos, não no que nos separa ou diferencia do que(m) está à nossa volta.
Podemos ter opiniões diferentes? Claro que sim! Podemos ter razão, apesar de nem toda a gente concordar connosco? Claro que sim! E o outro, pode ter razão também, mesmo que não pense como nós? Pois claro que sim...
A nossa visão do mundo e da vida dentro do saṃsāra, está sempre submetida aos véus da nossa ignorância metafísica (āvidya) e de todas as causas de aflição (kleśa) que dela resultam. Segundo o grau de domínio delas sobre nós, seremos levados a pensar de uma ou de outra forma. Essa é a nossa “razão”, a nossa “verdade” e dentro desses limites, temos obviamente todo o direito de a ter. Mas, tendo em conta que ela acontece dentro dos limites das causas de aflição, ela é igualmente limitada e não representa a verdade ABSOLUTA (a única válida para todos). Por essa razão, não devemos impô-la aos outros ou recusar escutar/compreender/aceitar diferentes pontos de vista (lembram-se que foi assim que foi possível passar de uma Terra plana, à concepção que temos do nosso planeta actualmente, não lembram?). Mantendo essa consciência de que o nosso ponto de vista é limitado e cultivando estes valores do Yoga, surge uma necessidade de Conhecimento, através do qual vamos poder afastar esses véus de āvidya, que nos impedem de ver a nossa verdadeira essência, que nos impedem de realizar que não somos apenas uma onda do mar, diferente das outras ondas do mar, mas somos todo o OCEANO e que não há onda que possa existir sem o oceano… Da mesma forma que um fruto, não poderá existir sem uma flor, nem uma árvore poderá existir, sem uma semente… E, de āvidya, passamos a Vidya, o CONHECIMENTO! "O" Conhecimento (em oposição a "um" conhecimento) de nós mesmos, de nós em relação aos outros, de nós em relação a todos os seres vivos, incluindo o planteta no qual vivemos e sem o qual não podemos existir!
Yogasūtra II.5
अनित्याशुचिदुःखानात्मसु नित्यशुचिसुखात्मख्यातिरविद्या॥५॥
anityā-aśuci-duḥkha-anātmasu nitya-śuci-sukha-ātmakhyātir-avidyā ॥5॥
« Avidyā é considerar o efémero como eterno, o impuro como puro, o sofrimento como prazer e o relativo como Absoluto.».
Há dois meses, dei a última aula prática de āsana, no Padma Yoga Shala🌿. Durante os quase três anos em que dei aulas neste espaço (assim como em todos os outros espaços antes desse), sempre mantive a porta aberta e sempre me disponibilizei para partilhar os ensinamentos do Yoga com toda e qualquer pessoa com uma motivação sincera e genuína para receber esses ensinamentos, independentemente das suas capacidades físicas, psicológicas, emocionais e mesmo financeiras, independentemente de estarem interessados no todo ou apenas numa parte, mantendo um espírito de troca e de partilha. E, quando as portas foram fechadas por causa de força maior e por ordem do Governo Regional, depois de um curto período de adaptação que durou cerca de duas semanas, o Padma Yoga Shala🌿 reabriu as suas “portas”, no único formato possível ou autorizado no momento actual, ou seja, ONLINE.
Desde então, mantendo a “porta aberta” e, sem apegos, expectativas ou ilusões, fui continuando a transmitir os ensinamentos do Yoga, a quem “ousou” entrar. Continuei a partilhar os ensinamentos do Yoga na sua globalidade, fazendo o melhor que posso neste momento e insistindo nestes valores referidos acima, porque para mim, mais que nunca, continua a fazer sentido a frase que já escrevi tantas e tantas vezes, nas minhas reflexões e Newsletters :
“O SUCESSO do yoga não reside na capacidade de realizar posturas,
mas em como isso muda positivamente
a maneira como vivemos a nossa vida
e os nossos relacionamentos.”
TKV Desikachar
E assim, as aulas no Padma Yoga Shala🌿 CONTINUARAM, para todos aqueles cujo conteúdo se manifestou como sendo mais importante que a forma!
Não foi fácil, no início… Mas não podem dizer que eu não avisei, porque eu avisei!😉 E, juntos, continuámos a trabalhar com grande energia, para que o nosso estudo sobre nós mesmos, possa trazer o Conhecimento e possa servir a todos, mesmo quem nunca ouviu falar de Yoga, pela consciência que vamos desenvolvendo! É preciso ter fé e confiança na ordem de Īśvara, esta infinita sabedoria do Universo, que faz com que cada coisa aconteça exactamente como tem que acontecer, para que cada um de nós possa viver ao seu próprio ritmo, da melhor forma possível e aceitando plenamente este processo que é único para cada um de nós e ao qual chamamos vida e que acontece dentro do saṃsāra.
ॐ सह ना ववतु । सह नौ भुनक्तु ।
सह वीर्यं करवावहै । तेजस्विनावधीतमस्तु मा विद्विषावहै ।
ॐ शान्तिः शान्तिः शान्तिः ॥
oṁ saha nā vavatu । saha nau bhunaktu
saha vīryaṁ karavāvahai । tejasvināvadhītamastu mā vidviṣāvahai ।
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ ॥
Oṁ
Que nós dois sejamos protegidos, que nós dois sejamos nutridos. Que trabalhemos juntos com grande energia, que nosso estudo seja brilhante e traga frutos, e que não traga hostilidade ou mal-entendidos entre nós.
Que haja Paz, Paz, Paz.
Eu vivo a minha vida segundo os valores do Yoga e é a partir desses valores que vos escrevo, falo e partilho os ensinamentos do Yoga. Se não puder estar em acordo com os mesmos, perde-se uma parte importante da pessoa que sou e da professora de Yoga que conhecem (só passaram dois meses, não estão já esquecidos da intransigência, pois não? 😉😂). Nesse sentido e porque é importante para mim que não hajam mal-entendidos entre professora e alunos, na transmissão do Yoga, ou mesmo nestas reflexões esporádicas, eis o que gostaria de deixar tão claro quanto possível :
O Padma Yoga Shala🌿 vai muito além de um simples espaço físico. Estes dois meses têm sido a prova viva disso mesmo. O Padma Yoga Shala É e SERÁ enquanto for possível, simplesmente um “espaço” onde possa partilhar os ensinamentos do Yoga, com quem esteja disposto a recebê-los, seja ele qual for ou onde for. Mesmo que seja uma plataforma online ou um espaço público ao ar livre 🍃🌳! E mesmo se não tenho especial apreço por uma ou outra solução, é preciso aceitar que não podemos controlar tudo, que há coisas que são inevitáveis, que talvez não seja possível salvar ou proteger tudo e/ou todos e que é preciso aceitar que as coisas são como são, mesmo se não correspondem ao que gostaríamos que fossem. É preciso desenvolver, a partir daí, a prática de Kṣānti, a pacífica adaptabilidade, prova da agradável aceitação de uma ordem cósmica e da infinita sabedoria do Universo e o primeiro passo para o desapego.
O Padma Yoga Shala🌿 é uma comunidade constituída por todos os que estão presentes no momento presente, dispostos a receber os ensinamentos que tenho para transmitir. Essa comunidade evolui, obviamente, ao longo do tempo e dependendo das condições externas. Se não estão interessados em assistir às aulas online, está tudo bem! Não há e não tem que haver qualquer tipo de julgamentos sobre isso, nem de uma parte, nem de outra! Eu faço a minha parte e mantenho a “porta” e o 💚 aberto, para quem sente que é a altura certa para avançar um pouco mais longe, na via do Yoga. As “portas” do Shala estão e estarão sempre protegidas pela prática de anabiśvaṅgaḥ putradaragṛhādiśu, a equanimidade afetiva, onde o cultivo de uma atitude de extremo cuidado e compaixão em relação às pessoas e coisas é equilibrada pela prática do desapego e da objectividade.
Para já, o Padma Yoga Shala🌿 NÃO ESTÁ propriamente encerrado, apenas mudou de formato. Enquanto existirem alunos para escutar ou aprender comigo, o Padma Yoga Shala🌿 mantém-se “vivo” e os ensinamentos do Yoga continuam a ser partilhados na sua globalidade e a trazer benefícios a quem os recebe (ou pelo menos assim o espero). Se não estão presentes simplesmente porque não vos é possível, porque não têm disponibilidade, ou porque o que ensino neste momento não ecoa convosco, com a vossa vibração ou com os vossos valores, ou se não sentiram necessidade, é importante que saibam que todas essas razões são válidas e que está tudo bem. “Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece”, é um preceito tão válido para os ensinamentos que estão a ser transmitidos neste momento, como quando estava a dar aulas de āsana. Se não está acontecer, é porque não era suposto acontecer…
O “espaço físico” do Padma Yoga Shala🌿, está “seguro” até ao final de Junho. Por favor, não me peçam para aceitar mensalidades com o intuito de “salvar o espaço”, porque como referido acima, o Padma Yoga Shala🌿 não depende apenas um espaço “físico”. Eu compreendo que esse gesto vem de um espaço de amor e solidariedade, mas ele coloca sobre mim uma pressão que não estou disposta a assumir (e todos os que “contornaram” este pedido, saibam que o vosso dinheiro vos será devolvido na íntegra assim que possível, pois eu não o posso aceitar, nem mesmo para vos agradar). É importante ter uma visão correcta e realista sobre a situação e perceber que, se as medidas sanitárias não forem aliviadas ou se a situação económica actual se mantiver como está, é provável que não seja sustentável manter o espaço que conheceram até agora aberto ao público e não me faz qualquer sentido estar a receber mensalidades. É uma questão de arjavam, a rectidão através da qual existe um alinhamento entre o pensamento e a palavra, ou entre a palavra e a acção. Só ao fazer coincidir intenções, palavras e acções, posso verdadeiramente manter-me fiel aos meus próprios valores e manter, mesmo em tempo de crise externa, a coesão na minha própria vida de Yoga. Ainda temos um mês e meio, para ver a evolução da situação e encontrar eventualmente soluções ou alternativas, vamos manter a confiança nesta ordem cósmica. Daqui até lá, não aceito mensalidades. Aceito apenas donativos da parte de quem está, efectivamente, a assistir às minhas aulas.
Caso seja possível reabrir o espaço novamente, a todos os que decidam voltar sem medo às aulas presenciais e que manifestaram a intenção de se mostrar solidários (apesar de não estarem a participar nas aulas online), esse será o momento certo para o fazerem, caso ainda queiram e possam. Por favor, deixem-me ser eu a pedir a vossa ajuda, caso ela seja necessária. Como já referi várias vezes, para mim, é extremamente importante manter a Liberdade de decidir se tenho ou não, a capacidade e a disponibilidade para manter o espaço aberto (já que tantas outras liberdades têm vindo a desaparecer, desta que depende de mim, eu faço questão de não abrir mão). O esforço para manter o espaço, pode deixar-me numa situação mais difícil para mim e para a minha família, que abrir mão dele.
Penso que agora, já todos nós compreendemos que as coisas não vão voltar ao “normal” ou a ser como eram. O Yoga ensina-nos a viver no “aqui e agora”, ensina-nos o desapego, ensina-nos que a mudança é inevitável na vida, assim como a morte. O Yoga ensina-nos também que, depois da morte, o renascimento é inevitável (que me desculpem os incrédulos) e, por isso, mais uma vez, é preciso confiar na sabedoria do Universo… Não foi por acaso, que no momento de abrir o Shala, escolhi o nome Padma (पद्म padma - flor de lótus). Nas tradições orientais, a flor de lótus reveste-se de uma simbologia espiritual bastante forte. Com as suas raízes bem ancoradas nas lamas profundas dos lagos e lagoas, a flor de lótus vai subindo à superfície para florescer com notável beleza. E se, ao querer controlar tudo, estivermos a impedir que se materializem as condições necessárias para que, da lama, possa emergir a mais pura das flores de lótus? É obviamente mais fácil aceitar essa possibilidade, quer ela venha a acontecer ou não, com a ajuda da prática de Aśakti, ausência de apego à ideia de posse e de nityam samacittatvam iśtaniṣṭopapattiṣu, equanimidade constante…
Dar e receber… Ando a insistir nisto há tanto tempo, que já nem sei se ainda tenho palavras suficientes ou diferentes para o dizer… E, no entanto, tendo em conta a situação global, nunca foi um tema tão importante e tão necessário trazer à superfície… Pergunto-me muitas vezes se seria mais fácil ser ouvida/lida, se fosse um velho hindu, com uma barba comprida e um cabelo emaranhado, sentado por baixo de uma árvore, vestido de laranja e com um japa mala à volta do pescoço? As minhas palavras estariam revestidas de mais ou maior sabedoria e fariam mais sentido, nesse caso? 😉😂😂😂 Nunca se trata do que temos para dar, mas sim do que os outros estão dispostos a receber e de que forma ambas as partes consideram justa e correcta essa troca, essa partilha, que deve sempre valorizar quem dá e, ao mesmo tempo, quem recebe. Da mesma forma, nunca se trata das palavras que usamos, mas da forma como elas são interpretadas. Nunca se trata daquilo que dizemos, mas daquilo que os outros estão dispostos a escutar. E vice-versa, obviamente… E, face a tudo isso, é preciso fazer a prática de amanitvam, ausência de vaidade, arrogância ou necessidade de elogio, que nos levam, por vezes, a pensar que podemos mudar os outros, impor-lhes a nossa concepção das coisas (ou o mundo ou o karma de uma pessoa ou de um colectivo), mesmo se por vezes queremos apenas ajudar, mostrar, partilhar, trazer à “razão”, “despertar”… É preciso apenas SER, manter-se autêntico e humilde, encontrar o seu centro e, a partir daí, agir em consciência e sem violência! Agir sem apego aos frutos das nossas acções!
De momento, vivemos num mundo em que a maioria da população mundial tem medo da doença e da morte e escolheu fechar-se em casa, para “salvar vidas”, se não a sua, pelo menos a dos outros. Paradoxalmente, estamos face a uma crise mundial de tal maneira ampla, que nunca se viram tantas vidas em perigo, de forma directa ou indirecta, face à pobreza, à fome, à crise climática que não desapareceu com a chegada do vírus, aos abusos de autoridade, às restrições da liberdade pessoal e social… Haverá melhor altura para cultivar Janmamṛtyujaravyādhiduḥkhadośānudarśanam, a reflexão sobre as limitações do nascimento, a morte, a velhice, a doença e a dor? Temos verdadeiramente alguma influência sobre tudo isto? E, face a todas as informações que nos chegam pelos meios de comunicação social, tantas vezes contraditórias, fazendo referência a uma doença que se propaga a grande velocidade, trazendo a morte para uns, sintomas leves ou nenhuns para outros, e sobre a qual se sabe tão pouco, como podemos posicionar-nos? Será que a prática de tattvajñānārthadarśanam, o foco e clareza na verdade, pode ajudar-nos a valorizar e aplicar aquilo que já se sabe verdadeiramente, desenvolvendo a nossa capacidade de confiança, em vez continuar a expandir o medo?
Poderia continuar assim, enumerando todos os valores do Yoga e dando exemplos práticos… Mas a reflexão já vai longa e, no fundo, isso é o que tenho vindo a fazer quase diariamente nas aulas online e que continuarei a fazer enquanto haja quem retire disso alguns benefícios (se gasto todos os temas nas reflexões, de que falarei nas próximas aulas? 😂) e enquanto não me seja possível dar novamente aulas presenciais (nem que seja ao “ar livre” 🌿🌱🍀🍃).
Porque, no final, é apenas no momento presente, no “aqui e agora”, que posso ser a “vossa” professora de Yoga. Quem sabe o que reserva o futuro? A vossa presença nestas aulas tem sido o maior presente, o maior acto de amor, de carinho e de solidariedade, pois graças a ela, mantém-se vivo este espírito de partilha, de troca, de aprendizagem mútua, mantêm-se viva a transmissão destes valores do Yoga. A vossa escuta e esforço para compreender o que tenho para partilhar convosco revela-se o melhor apoio que me podem dar e tenho todo o gosto em recebê-lo, pois mantém-me motivada, confiante na ordem de Īśvara e na sabedoria do Universo. Porque, no final, a única coisa que pode realmente “salvar” o Padma Yoga Shala🌿, é a minha motivação pessoal para continuar a partilhar os ensinamentos do Yoga e a vossa dedicação e esforço pessoal para continuar a recebê-los.
1. Professores de Yoga entendem e valorizam o fato que ensinar Yoga é um esforço nobre e dignificante que os conecta a uma longa linhagem de professores ilustres.
2. Professores de Yoga se comprometem em praticar o Yoga como um estilo de vida, adotando os princípios morais fundamentais do Yoga e tornando seus estilos de vida ambientalmente sustentáveis (“Yoga Verde”).
3. Professores de Yoga se comprometem em manter padrões impecáveis de competência profissional e integridade.
4. Professores de Yoga dedicam-se ao estudo e prática, completa e contínua, do Yoga, em particular os aspectos teóricos e práticos do ramo de Yoga que estão ensinando.
5. Professores de Yoga se comprometem em evitar o vício em substâncias químicas e, se por alguma razão, sucumbirem a dependência química, concordam em parar de ensinar até que estejam livres do vício de drogas e/ou álcool. Farão, então, tudo a seu alcance para permanecerem livres, incluindo serem totalmente comprometidos com um grupo de apoio.
6. Professores de Yoga adotam o ideal de veracidade, principalmente quando lidando com estudantes e outras pessoas, o que inclui actuar de maneira consistente com o seu treinamento e experiência, relevante para as aulas de Yoga que ministra.
7. Professores de Yoga se comprometem em promover o bem estar físico, emocional, mental e espiritual de seus estudantes.
8. Professores de Yoga, especialmente os que ensinam Hatha-Yoga, se absterão de dar conselhos médicos ou conselhos que possam ser interpretados desta forma, a menos que possuam a qualificação médica necessária.
9. Professores de Yoga estão abertos para ensinarem a qualquer estudante, sem levar em consideração raça, nacionalidade, gênero, orientação sexual e situação social ou financeira.
10. Professores de Yoga aceitam estudantes com deficiência física, com a condição de possuírem a habilidade de ensiná-los apropriadamente.
11. Professores de Yoga concordam em tratar seus estudantes com respeito.
12. Professores de Yoga nunca imporão suas próprias opiniões para os estudantes e valorizarão o fato de que cada indivíduo tem direito a sua visão de mundo, ideias e crenças. Ao mesmo tempo, professores de Yoga devem comunicar a seus estudantes que o Yoga procura gerar uma transformação profunda na personalidade, nas atitudes e nas ideias humanas. Se um estudante não está aberto a mudanças ou se as opiniões do estudante impedem a comunicação dos ensinamentos do Yoga, então o professor é livre para desobrigar-se a ensinar aquele indivíduo e, se possível, deve encontrar um caminho amigável para desfazer o relacionamento aluno-professor.
13. Professores de Yoga concordam em evitar qualquer forma de assédio sexual aos alunos.
14. Professores de Yoga, desejosos em começarem um relacionamento sexual em consenso mútuo com um aluno ou ex-aluno, antes de qualquer atitude, devem procurar o conselho imediato de seus colegas professores, para assegurar a suficiente clareza sobre suas intenções.
15. Professores de Yoga farão todo o possível para não tirar proveito da confiança e a da potencial dependência de seus alunos. Ao contrário, se esforçarão em encorajar seus alunos a encontrarem grande liberdade interior.
16. Professores de Yoga reconhecem a importância do contexto apropriado para ensinar e concordam em evitar ensinar de uma maneira negligente, incluindo a observação do decoro apropriado dentro e fora da sala de aula.
17. Professores de Yoga esforçam-se para praticar a tolerância para com outros professores, escolas e tradições do Yoga. Se houver a necessidade de fazer alguma crítica, ela deve ser feita com clareza e baseada em fatos.
Estes preceitos éticos não estão completos e o fato de uma determinada atitude não estar especificada, não indica algo sobre a natureza ética ou não ética da atitude. Professores de Yoga sempre se esforçam em respeitar e, visando o melhor para suas habilidades, adotam o código de conduta yogue tradicional, assim como as leis existentes em seus países ou estados.
For a more detailed account of Yoga's moral teachings, see Georg Feuerstein's book “Yoga Morality” (2007).
You may copy these guidelines on your website or a bulletin board providing you use the copyright notice below.
No prior permission is needed.
Copyright ©2003, 2006, 2011 by Georg Feuerstein. All rights reserved.
ॐ लोकाः समस्ताः सुखिनो भवन्तु⎜ ॐ शान्तिःशान्तिःशान्तिः⎜⎟ Oṃ
Oṁ lokā samastā sukhino bhavantu
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ
Hariḥ Oṁ Oṃ
Que todos os seres, em todos os lugares, sejam felizes.
Que haja Paz, Paz, Paz.
Mais uma vez, o meu mais sincero agradecimento, não só pelos donativos e mimos que têm trazido até mim os alunos que estão a participar nas aulas online (🍌🥒🌶🥕🌽🍎🍓), mas também por toda a motivação, palavras de encorajamento e, acima de tudo, pela vossa presença, que faz com que sinta verdadeiramente que o trabalho que estou a fazer neste momento é VÁLIDO e faz sentido!
Muito grata!
Namaste,
🙏💚🌿
Rita
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