top of page

Junho 2025

  • Foto do escritor: Rita
    Rita
  • 31 de mai.
  • 21 min de leitura

Atualizado: 1 de jun.


As pessoas dizem que andar sobre a água é um milagre. Mas, para mim, andar na Terra de forma pacífica, é o verdadeiro milagre.”

Thich Nhat Hanh




Queridos alunos e amigos ✨,

Em JUNHO, apesar de as aulas se manterem nos horários habituais, às segundas, terças e quintas-feiras, entre as 6h30 e as 8h30, e entre as 17h30 e as 19h30, por questões pessoais, ESTAREI AUSENTE durante a semana de 9 a 13/06 e igualmente na terça-feira, 17/06


Estas questões pessoais ainda têm um factor de imprevisibilidade e é possível que existam alterações de última hora, que estarão além da minha vontade pessoal. Se for o caso, serão informados o mais rapidamente possível e, desde já, peço desculpa por todo e qualquer inconveniente que isso vos possa ocasionar.


Na quinta-feira, 19/06, por ser feriado, darei aula apenas de manhã, entre as 7h00 e as 9h00. Será uma AULA GUIADA, da primeira parte da Primeira Série de Ashtanga Vinyasa Yoga, seguida de uma curta sessão de YOGANIDRĀ, relaxamento e meditação guiada.


Volto a relembrar que, apesar da minha ausência, o Shala🪷🍃 está sempre disponível para que possam fazer a vossa auto-prática, em qualquer horário que vos seja conveniente. 



💜🙏🧘‍♀️☺️🧘‍♂️🙏💜





ree


Caso não haja imprevistos, em JUNHO, vamos continuar a explorar certos temas espirituais, na 4ª quarta-feira do mês, entre as 17h30 e as 19h00. Como de costume, este encontro mensal é  gratuito e está aberto a todos, mas requer uma inscrição prévia por parte de quem não frequenta regularmente o Shala🪷🍃, de forma a que seja possível aceder ao espaço (a menos que estejam acompanhados pelos alunos do Shala🪷🍃, que já têm o seu código pessoal).


QUARTA-FEIRA, 25/06

- das 17h30 às 19h00 -

🪷 Yoganidrā e Dhyāna 🪷



Como estes últimos tempos têm sido bastante intensos para a maioria das pessoas, tanto de um ponto de vista físico, como energético, psicológico, emocional e espiritual, vamos aproveitar esta ocasião para, mais uma vez, desacelerar o ritmo, relaxar, cuidar de nós e trazer a nossa atenção para dentro, de forma a encontrar o caminho de regresso ao centro, em consciência. 





Se não prestarmos atenção a nós mesmos na nossa prática,

então não podemos chamar-lhe yoga.

T.K.V. Desikachar




Como sempre, acolham apenas o que ressoa para vós dentro do vosso Coração e lembrem-se que são sempre livres de ficar ou de partir, dependendo da forma como se sentem, ou não, em alinhamento com o que ensino, a forma como ensino ou com a própria energia do Shala🪷🍃.



Quando o aluno está pronto, o professor aparece.

Quando o aluno está realmente pronto, o professor desaparece.

Lao Tzu




ree


O Despertar, no seu sentido mais autêntico, é um processo interno. Acontece quando se levanta, não só o véu pousado sobre a sociedade que nos rodeia, mas também todos os véus que cobrem a ligação à nossa Alma e a Deus. É um relembrar de quem éramos, antes de termos sido moldados e formatados pelos nossos condicionamentos, antes de nos transformarmos na versão de nós mesmos que precisávamos ser, de forma a sobreviver.


Este processo de Despertar nem sempre é bonito, porque implica um imenso despojamento, uma morte. Muitas vezes requer uma descida às profundezas do nosso ser e uma vontade imensa, para atravessar uma noite negra da alma.


E, sinceramente, pode custar-nos tudo. Mas em troca, dá-nos a única coisa que não nos pode ser retirada - quem realmente somos, o nosso verdadeiro eu, a nossa verdadeira essência, muitas vezes escondida por baixo de todas as máscaras que usamos, das feridas que carregamos e das ilusões às quais nos agarramos.


Quer este Despertar se manifeste a partir de uma crise de cura, de uma noite negra da alma, de uma ruptura numa relação, ou simplesmente através de questões mais profundas, muitas vezes desencadeadas pelo caos à nossa volta e no mundo, como “Quem sou eu realmente?”, este Despertar vai sempre exigir de cada um de nós a mesma e única coisa: a coragem para nos libertarmos da pessoa que éramos, para nos autorizarmos a ser quem realmente somos.”

Laura Matsue



Um shala de Yoga (शाला śālā - casa, sala ou espaço de estudo), pode ser um sítio muito especial, um espaço de cura, de auto-conhecimento, de libertação, dependendo de quem nos abre a porta e da forma como escolhemos atravessá-la. Obviamente, cada espaço é único e, da intenção, do consentimento e da integridade energética de quem o cria de raiz ou de quem nele ensina (quando existe mais que um professor), dependerá igualmente a assinatura energética da sua arquitectura, da sua estrutura, assim como o Dharma (धर्म - Ordem Cósmica) e a Autoridade que o rege e que dentro dele se manifesta. Afinal, é através dessa Autoridade, que pode ou não estar colocada em Deus (dependendo da intenção e do consentimento de quem criou, mantém e sustenta a estrutura energética), que os praticantes e os alunos serão acompanhados, apoiados, ensinados e guiados. Como todo e qualquer outro espaço ou estrutura, quer seja espiritual ou não, um shala de Yoga nunca é apenas um espaço físico de 3 dimensões, mas sim um espaço multidimensional, cuja frequência vai inevitavelmente interagir e impactar, de forma única e pessoal, cada um dos corpos de quem nele entra ou o frequenta regularmente, seja o corpo físico, energético, mental, emocional ou espiritual. É assim que em alguns espaços ou sítios vamos sentir-nos bem e mais próximos da Expressão Mais Elevada da nossa Alma, enquanto outros podem ser desafiantes ou deixar-nos indiferentes e, outros ainda, nos deixam completamente esgotados, drenados de todas as nossas forças, desmotivados, frustrados ou mesmo zangados (pessoalmente, não conheço ninguém que goste de ir aos Correios, às Finanças ou qualquer outro serviço burocrático, mas já se sabe que eu conheço pouca gente e não se pode generalizar…). Quanto mais tempo passamos nestes espaços, benéficos ou prejudiciais, maior o impacto, quer estejamos plenamente conscientes dele ou não…


Aprenda a ver. Perceba que tudo se liga a tudo o resto.

Leonardo da Vinci




ree


Apesar de me parecer uma competência bastante útil para identificar e reconhecer as diferentes forças que nos animam e rodeiam e a frequência da Verdade além dos véus da ilusão (माया māyā) e da ignorância (अविद्या avidyā) e  ajudar-nos assim a navegar, de forma tão consciente e serena quanto possível, todas as complexidades do mundo actual, é certo que nem todas as pessoas são, à partida, sensíveis a estes aspectos subtis que os olhos não vêem, que dependem essencialmente da nossa intuição, da nossa sensibilidade, mas também de uma forte dose de humildade, condições indispensáveis para desactivar certos mecanismos de defesa do ego, que nos impedem de ver as coisas tal como elas são e que, permanentemente, nos empurram para a ilusão do que gostaríamos que fossem ou que achamos que deveriam ser…

 

Assim, na vida como no Yoga, no início da nossa caminhada espiritual, se não tivermos uma predisposição natural, enquanto não desenvolvermos a nossa capacidade de discernimento (विवेक viveka) e estivermos ainda sujeitos à influência dos kleśa (क्लेश - causas de sofrimento), é mais frequente que sejamos iludidos pelo aspecto exterior dos espaços ou das pessoas, pelas ferramentas utilizadas para efeitos de publicidade ou propaganda, ainda vítimas das nossas próprias expectativas, apegos (राग rāga), repulsas (द्वेष dveṣa) ou medos (अभिनिवेश abhiniveśa). Obviamente, isto aplica-se igualmente a tudo na nossa vida, dentro de nós e à nossa volta, que já se sabe que o Yoga não é diferente da Vida. Um shala de Yoga, seja ele qual for, é apenas um microcosmo que reflete o macrocosmo, constituído pelo nosso planeta e o nosso Universo de um ponto de vista multidimensional, com todas as suas componentes visíveis e invisíveis e a manifestação inevitável das diferentes forças que o animam. Tudo é energia e tudo é consciência e, consequentemente, quanto mais espessos os véus de māyā ((माया - ilusão) e de avidyā (अविद्या - ignorância), maior a tendência para nos deixarmos manipular e controlar, afastando-nos assim do Conhecimento de nós mesmos, da nossa Verdadeira Essência Divina, da nossa Soberania e da Libertação (मोक्ष mokṣa) de todo e qualquer sofrimento (दुःख duḥkha), o que é o verdadeiro objectivo do Yoga.


A manipulação consciente e inteligente dos hábitos e opiniões organizados das massas é um elemento importante na sociedade democrática. Aqueles que manipulam este mecanismo invisível da sociedade constituem um governo invisível que é o verdadeiro poder dominante do nosso país. Somos governados, as nossas mentes são moldadas, os nossos gostos formados, as nossas ideias sugeridas, em grande parte por homens de quem nunca ouvimos falar. Este é um resultado lógico da forma como a nossa sociedade democrática está organizada. Um grande número de seres humanos tem de cooperar desta forma se quer viver em conjunto numa sociedade que funcione bem. Em quase todos os actos da nossa vida quotidiana, seja na esfera da política ou dos negócios, na nossa conduta social ou no nosso pensamento ético, somos dominados por um número relativamente pequeno de pessoas que compreendem os processos mentais e os padrões sociais das massas. São elas que puxam os fios que controlam a mente do público.

Edward L. Bernays





ree


Por vezes, só à medida que a própria prática vai fazendo o seu efeito e desenvolvendo e amplificando as nossas capacidades sensoriais mais elevadas, a nossa intuição e o nosso discernimento, ajudando com o processo de remoção dos véus da ilusão (माया māyā) e da ignorância (अविद्या avidyā), é que vai sendo possível fazer a distinção entre a verdadeira Luz do Conhecimento ou uma falsa luz (que deriva de uma compreensão apenas mental dos ensinamentos, em vez de uma prática integrada através da experiência), reconhecer a Autoridade que habita no Coração de cada pessoa, de cada espaço, de cada grupo, de cada instituição, sistema, etc., assim como as nossas próprias barreiras, obstáculos e limitações, que nos impedem de abrir plenamente os nossos Corações, de colocar a intenção de procurar e reconhecer a Verdade em toda e qualquer situação (sobre os outros, mas também sobre nós mesmos!) e de nos entregarmos à prática da nossa espiritualidade, sem restrições, nem condições.


O Espírito Cósmico usa a Verdade e a Falsidade, o Conhecimento e a Ignorância e todas as outras dualidades como elementos na manifestação e trabalha o que precisa ser trabalhado até que tudo esteja finalmente pronto para um trabalho mais elevado.

Sri Aurobindo




ree

Na vida, como no Yoga, todo este processo leva o seu tempo e é único para cada indivíduo. Ao entrar no mundo da espiritualidade e do Yoga, se alguns têm uma impressão clara e sem equívocos, logo no primeiro contacto com o espaço, com o professor, com os colegas ou mesmo com o próprio método de ensino e o conteúdo do que está a ser partilhado, outros podem levar meses ou mesmo anos, até chegar a este ponto de discernimento e confiança em si mesmos (e no outro), que lhes permite ir além do que é apreendido pelo olhar, discernir o que é seu e o que pertence ao outro e, finalmente, sem comparações ou julgamentos, sentir plenamente a Frequência do Coração e a essência da Alma do próprio espaço e de quem o mantém, enquanto estrutura multidimensional.


Outros acabam por nunca chegar a esta compreensão, pelas mais diversas razões, sendo as mais comuns a incapacidade de sair da sua zona de conforto ou a negação (um dos mais poderosos mecanismos de defesa do ego, directamente enraizado em avidyā, a ignorância metafísica da nossa Verdadeira Essência Divina!). É importante termos consciência que vamos mudando ao longo do tempo, que vamos adquirindo novas ferramentas que nos permitem ir mais em profundidade dentro do nosso ser e que, à medida que isso acontece, é natural que nos despojemos daquilo que já não nos serve e que sejamos divinamente guiados a mudar coisas em nós ou à nossa volta. Se é a que dá o impulso inicial para os primeiros passos, será sempre a Paciência e o Desapego o combustível capaz de nos manter sem hesitações neste caminho ao longo dos anos, ao longo da vida. Até que se manifeste a compreensão plena e integrada de que o verdadeiro e mais importante de todos os professores, o único guru (गुरु - mestre, guia divino) que ainda faz sentido nos tempos que correm, não é outro senão a própria prática (e, como podem calcular, não estou a falar apenas de āsana, mas sim de todos os membros do Yoga!). Até que realizemos plenamente e em cada uma das células e átomos que constituem o nosso Ser, que o único espaço que é efectivamente importante e necessário para o Conhecimento de nós mesmos, é o espaço que criamos dentro do nosso Coração, dia após dia, para que Deus se revele e manifeste em cada um dos nossos pensamentos, das nossas palavras e das nossas acções. E, porque cada caminho é único, é importante que possamos avançar ao nosso próprio ritmo, acolhendo sempre apenas aquilo que ressoa no nosso Coração e deixando de parte tudo o resto, sem pressões, sem imposições, sem comparações e, acima de tudo, sem julgamentos.


Todas as grandes realizações requerem tempo.

Maya Angelou 





ree


Quando me cruzei com o método de ensino tradicional e a prática de Ashtanga Vinyasa Yoga, em contexto dito de Mysore Style, já tinha para trás uma década de prática regular, uma formação de professores de Yoga de 1000 horas feita ao longo de 4 anos (e pensar que não tinha qualquer intenção de dar aulas, apenas aprender mais sobre Yoga…), já tinha tido inúmeros professores que, da melhor forma que lhes foi possível, aturaram a minha impaciência, a minha arrogância e a minha insolência, características muito comuns na grande maioria dos iniciantes que reconhecem esta prática das suas vidas passadas, mas que se deixam envolver pela influência do ego espiritual (e, por iniciantes, estou a referir-me, pelo menos aos primeiros 10 anos de prática regular e, preferencialmente, quotidiana…) e já dava aulas de Hatha Yoga há vários anos. Alguns dos véus da ilusão e da ignorância já tinham começado a cair e, pela experiência e dedicação a uma prática regular, a impaciência já tinha começado a dar lugar à Paciência, uma Pacífica Aceitação (क्षान्ति kṣānti) de que as coisas são como são, e a arrogância começara a transformar-se em Humildade, graças à experiência, compreensão e integração plena de que é impossível encher um copo que já está cheio (muito grata a todos os professores e alunos que, ao longo dos anos, em contexto de sala de aula, me foram servindo de espelho e me foram permitindo identificar o que o meu ego espiritual preciosamente tentava ocultar, justificar ou desculpar!) e a insolência já tinha desaparecido completamente, deixando lugar a um imenso respeito e gratidão por todos aqueles que, dia após dia, da melhor forma que podem e conseguem, trabalham incessante sobre si mesmos, sobre as suas partes de sombra, sobre as suas feridas e procuram a libertação definitiva da influência dos kleśa, para poderem colocar-se plenamente ao serviço de Deus, ao serviço do Dharma, ao serviço das suas missões de vida e ao Serviço ao Outro, com altruísmo, paciência, compaixão e muito, muito Amor, assumindo o papel de verdadeiros professores e de autênticos guias espirituais, longe de todo e qualquer abuso de poder e de autoridade, mas também de toda e qualquer forma de sacrifício.


Ama e faz o bem a todos, mas não te tornes um escravo.

Swami Vivekananda





ree


Por essa altura, também já tinha plenamente consciência de que nem todos os professores e guias espirituais fazem a escolha consciente de trabalhar sobre si mesmos com dedicação e humildade, em busca da Libertação do sofrimento e que muitos se inebriam com a sensação de poder, de autoridade ou de valorização pessoal e, prisioneiros do orgulho e dos seus egos espirituais, se perdem pelo caminho, perpetuando inúmeros desvios, distorções e abusos inerentes ao “programa do guru” (que nada tem a ver com a Frequência do Coração e da Verdade), deixando um rasto de ilusões e de incompreensões sobre o que é realmente o Yoga, enfim, um rasto de sofrimento… Ninguém pode estar verdadeiramente e genuinamente ao Serviço ao Outro, se não tiver como prioridade um trabalho pessoal constante e ininterrupto de Cura e de Conhecimento de si mesmo, através da sua própria prática pessoal, do seu sādhana (साधन). Ensinar não chega! É preciso encarnar o que se transmite.


Não serão bons professores se se concentrarem apenas no que fazem e não em quem são.” 

Rudolf Steiner





ree


Talvez tenha sido por já ter consciência desta dualidade e deste paralelo entre macrocosmo e microcosmo que inevitavelmente nos acompanha neste mundo, nesta dimensão e nesta realidade, que fui profundamente tocada por esta dinâmica específica que, até hoje, apenas encontrei nas aulas de Ashtanga Vinyasa Yoga em contexto Mysore Style (eu faço parte do pequeno grupo de praticantes de Ashtanga que não ressoa particularmente com as aulas guiadas, que sempre foram mais um calvário do que outra coisa, para mim…). Quando entramos numa aula Mysore Style, antes mesmo de colocar o nosso tapete no chão e de iniciarmos a nossa prática, já nos tornámos absolutamente transparentes. Como se nos colocássemos a nu, tudo fica visível aos olhos da Alma e, para quem se autoriza a escutar com o Coração, nada mais pode ser escondido. Caem todas as máscaras, o ego revela-se e torna-se vulnerável, permitindo que um trabalho profundo sobre todas as nossas partes de sombra e as nossas feridas seja finalmente possível, se tivermos a Coragem, a Determinação e a Paciência para o fazer, dia após dia, prática após prática, saindo da nossa zona de conforto, mas sem expectativas, sem agenda. Tudo é possível, se essa for realmente a nossa intenção sincera e fé incondicional, se assim o escolhermos e colocarmos em prática, colocando a nossa vontade pessoal única e exclusivamente ao Serviço da Vontade Divina… 


E agora que não tens necessidade de ser perfeito, podes ser bom.

John Steinbeck



ree



Através do calor e da energia dentro da sala, através da forma como o professor sustenta o campo energético de forma individual e colectiva simultaneamente, equilibrando e harmonizando a estrutura energética à medida que os alunos entram ou saem, através da autonomia oferecida a cada aluno e, ao mesmo tempo, do acompanhamento pessoal e do respeito pelo ritmo e pelas características específicas de cada indivíduo, gera-se uma consciência colectiva que respeita de igual forma a unicidade e a diversidade. E é assim que, apesar de poder não existir propriamente um momento de confraternização antes ou depois da aula (claro que isso vai mudando com o passar dos anos!), já que cada um tem os seus próprios ritmos, entrando e saindo muitas vezes em silêncio, ainda assim podemos aprendemos a conhecer profundamente os nossos colegas praticantes (às vezes sem sequer sabermos os seus nomes…), sentindo e reconhecendo o seu campo energético, prática após prática, movimento após movimento, respiração após respiração, autorizando que venham à superfície memórias que vão além do tempo e do espaço e que permitem que as Almas se reconheçam, finalmente. Mas, acima de tudo, temos a oportunidade de nos conhecermos profundamente, observando conscientemente as nossas resistências e repulsas, mas os nossos apegos e as nossas compatibilidades também. Em silêncio, através apenas da pulsação e do ritmo da nossa respiração, aprendemos a conhecer o outro, aprendemos a conhecer-nos a nós mesmos através do outro, aprendemos a sentir o mundo que nos rodeia, o macrocosmo através do microcosmo e vice-versa. Nada é casual ou aleatório, por isso tudo nos despe e nos revela, tudo é uma oportunidade para que possamos finalmente ver a Verdade sobre nós mesmos e reconhecer Quem Realmente Somos. Desde que abrimos a porta, a forma como deixamos os nossos sapatos na entrada (idealmente, também aí ficaria o nosso ego…), como subimos as escadas, como utilizamos os espaços comuns, como entramos na sala, como e onde colocamos o nosso tapete, ao lado de quem preferimos praticar (é será que é uma preferência, ou um apego, uma repulsa, um medo?), a forma como reagimos ao campo energético que é sempre, sempre, sempre diferente, dependendo dos dias e das pessoas presentes… Tudo nos revela e tudo nos é revelado, quando escolhemos ver com os olhos da Alma, quando escolhemos escutar com o Coração. Consequentemente, tudo pode ser uma oportunidade de transformação, de cura, de libertação, tanto individual como colectiva.


Nada acontece por acaso ou como uma ocorrência aleatória. Cada ação ou efeito tem uma causa subjacente, e não há excepções a isto - nunca.


Existe uma ordem divina superior. O aparente “caos” no mundo ou nas nossas vidas pessoais baseia-se na ignorância das leis universais, na vontade divina e na perceção limitada da nossa mente de macaco [metáfora utilizada no budismo e nas práticas de meditação, que se refere a um estado de espírito inquieto, distraído e incontrolável].


As causas são estabelecidas no invisível/não visto ou desconhecido para nós e depois manifestam-se no visível como efeito. E o ego vive sob a ilusão de que está no controlo.

Bernhard Guenther




ree

Apesar de todos os meus anos precedentes de prática e mesmo de ensino, apesar de tudo o que pensava que já tinha alcançado e que já sabia, a minha presença num shala de Ashtanga Vinyasa Yoga, enquanto aluna e depois também como professora, foi definitivamente um elemento catalisador e transformador para a minha prática e, consequentemente, para a minha vida. É evidente que tudo isto é extremamente pessoal e cada indivíduo pode reagir de forma diferente em situações, condições e circunstâncias semelhantes. Aliás, a maioria das pessoas tem tendência a ficar mais ou menos “aflita” nas primeiras aulas Mysore Style, sentindo-se assoberbada ou confusa, incapaz de acompanhar ou acolher todas as informações que lhe chegam de todas as partes e todo o movimento à sua volta. Pela forma como está organizada a estrutura energética da nossa sociedade e o seu sistema de ensino e hierarquia, hoje em dia, a maioria das pessoas duvida das suas capacidades de aprendizagem, de concentração, de disciplina e prefere optar por ser guiada do início ao fim da aula, “levada ao colo”, como costumo dizer (sem julgamentos!). É preciso disciplina, determinação e coragem, para escolher ser autónomo e soberano, na prática como na Vida, e nem toda a gente se sente preparada para o fazer no momento presente (e, mais uma vez, não tem de haver qualquer tipo de comparação ou julgamento em relação a isso!). Por todas estas razões, esta forma de praticar e de ensinar vai naturalmente manifestar resultados diferentes em diferentes indivíduos e pode facilmente transformar-se numa ferramenta de Ascensão ou de descensão (o mesmo se aplica a todas as diferentes expressões do Yoga ou de qualquer outra forma de espiritualidade!). O ego (अस्मिता asmitā) pode diluir-se ou reforçar-se, dependendo da intenção, do consentimento e da Autoridade escolhida e declarada, na prática como na vida. Quando o nosso Coração não procura constantemente a Verdade e a Pureza ou quando não está disposto a acolher Deus (seja qual for a razão, estará sempre inevitavelmente enraizada nos kleśa!…), a ignorância prevalece sempre, assim como o ego, independentemente dos anos de prática. Há quem fique estagnado durante anos a fio, com o Coração fechado, escolhendo a negação, recusando-se a olhar para dentro e a fazer o necessário trabalho de limpeza e cura das suas feridas e partes de sombra, de forma holística e em cada um dos seus corpos (físico, energético, mental, emocional e espiritual), por ser demasiado doloroso ou difícil de suportar. Há quem continue saltitando de professor em professor, de método em método, de shala em shala, sempre à espera que o trabalho se faça de fora para dentro, quando no fundo, a Verdade não pode senão vir de dentro para fora, com o tempo… Ao longo dos anos, muitas foram as vezes que o testemunhei, não só à minha volta, mas também em mim. Muito provavelmente, continuarei a testemunhá-lo, enquanto por cá andar e não posso senão continuar a colocar a intenção de o fazer sempre com o máximo de Paciência e Compaixão que me seja possível, a cada instante, por mim e pelos outros… 



Lembrem-se que a paciência, a equanimidade e o bom sentimento para com todos são as primeiras necessidades do sādhaka [praticante espiritual].”

Sri Aurobindo

 




ree


Ainda assim, apesar de todas as distorções, de todos os abusos, de todas as interferências (inerentes à dualidade do mundo em que vivemos), continuo a sentir uma imensa ressonância com esta forma de aprender e de ensinar Yoga e uma imensa Gratidão por assim ser. Num mundo onde a tendência é fragmentar, compartimentar, separar e isolar tudo e mais alguma coisa (incluindo no mundo do Yoga, com aulas para crianças, para adolescentes, para iniciantes, para avançados, para seniores, para grávidas, para atletas, etc. e, quem sabe, um dia, também para pessoas com unhas encravadas!), é um bálsamo para o meu Coração sentir que ainda existe um espaço para estruturas energéticas e multidimensionais, onde todos são acolhidos sem qualquer julgamento ou diferença de valor, independentemente da idade, do género ou da condição física e onde praticantes ditos “avançados” praticam ao lado de quem está apenas a começar, de quem está lesionado, a atravessar uma fase difícil da vida ou em processo de recuperação, de crianças, adolescentes, grávidas ou idosos, em equilíbrio e harmonia. É tão bonito quando, apesar de tudo aquilo que nos separa, nos autorizamos a simplesmente praticar e respirar juntos, sem necessidade de comparação, de competição, de valorização pessoal ou de gratificação instantânea. É tão bonito quando, através da , da Confiança, da Perseverança, da Paciência e da Compaixão que manifestamos em cima do nosso tapete, começamos a ver o ego a dissolver-se e a finalmente deixar espaço para que a nossa Verdadeira Essência Divina possa manifestar-se também fora do tapete. Nesse instante, dentro do nosso Coração, realizamos que vai finalmente ser possível encarnar a mudança que queremos ver manifestada no mundo! Sem filtros, sem mentiras, sem ilusões, apenas Verdade e transparência, por muito doloroso que possa ser por momentos. Porque apenas a verdade Liberta


Tu és o que é o teu profundo desejo condutor. Tal como o teu desejo é, também o é a tua vontade. Tal como é a tua vontade, também é a tua acção. Tal como é a tua acção, assim é também o teu destino.

Bṛhadāraṇyakopaniṣad, IV.4.5





ree

O caminho é longo e tudo isto pode levar muito, muito tempo, por vezes anos, outras vezes décadas, uma vida inteira ou muitas, muitas vidas… 


Para mim, tem sido uma aventura e um privilégio fazer parte deste processo colectivo de Ascensão, com o Yoga como fundação e como fio condutor (सूत्र sūtra), enquanto praticante, enquanto aluna, enquanto professora, e sinto-me muito, muito grata por ter tido a coragem de cultivar e desenvolver kṣānti (क्षान्ति - Espírito da Paciência), a tal pacífica adaptabilidade (como lhe chamava Swāmi Dayānanda Saraswatī), que me tem acompanhado e que, sem dúvida, me trouxe até aqui. A minha avó dizia-me quase todos os dias que a paciência é uma virtude, reflexo claro da sua ausência na minha pessoa. Estou plenamente consciente de que não é uma característica inata em mim, mas sim um trabalho e um desafio quotidiano para que possa encarná-la plenamente, de forma ilimitada, constante e permanente. Enquanto houver impaciência, saberei que ainda há julgamento, que o ego não foi plenamente desconstruído e que ainda há véus de ignorância por remover. Há quem ache que eu “tenho” muita paciência, mas será que a paciência, tal como o Yoga (योग - União com o Divino) é algo que temos ou fazemos, ou será algo que encarnamos plenamente, algo que SOMOS?


A paciência é a serena aceitação de que as coisas podem acontecer numa ordem diferente daquela que temos na nossa mente.”

David G. Allen




ree


No próximo mês, o Padma Yoga Shala🪷🍃 celebra os seus oito anos e, apesar de ter começado a dar aulas há outros tantos antes de abrir as suas portas, em “contagem yóguica”, esta estrutura energética e a consciência colectiva que a constitui ainda pode ser considerada “iniciante”. Consequentemente, individualmente e colectivamente, é muito possível que inúmeros erros, deslizes e desvios, distorções e interferências desencadeados pela influência dos kleśa (क्लेश - causas de sofrimento) tenham ocorrido ao longo dos anos e mesmo que continuem a acontecer. Tal como todos vós, eu continuo a caminhar, ainda não cheguei ao destino! Mas a minha intenção, o meu consentimento e a minha Autoridade encontram-se em Deus e apenas em Deus e é com essa intenção, esse consentimento e essa Autoridade que o espaço foi criado e que vos acolho dia após dia, aula após aula, prática após prática, ano após ano. Individualmente e colectivamente (para quem assim o desejar e ressoar com o que ensino e a forma como ensino, obviamente!), sinto que ainda há muito para (des)aprender, muito para curar, muito para libertar. Talvez possamos continuar a fazê-lo juntos, talvez cada um seguirá o seu próprio caminho solitário, mas isso não é o mais importante. O mais importante é continuar sempre a avançar com a plena compreensão de que não se trata do que fazemos ao longo do caminho, mas sim de QUEM SOMOS (pois é isso que cria e manifesta o caminho!), para que os Espíritos da Paciência e da Compaixão possam finalmente encarnar-se em nós, para que possamos sair do julgamento, encarnar essa tal pacífica adaptabilidade e, independentemente de tudo o que nos rodeia, de todas as tempestades, de todos os sismos, de todos os tsunamis, relembrar a cada instante a nossa Verdadeira Essência e SIMPLESMENTE SER, seres plenos e conscientes, Divinos, Soberanos e Livres, em alinhamento com as Leis Universais, com o Dharma e ao Serviço da Vontade Divina, apesar da dualidade do mundo em que vivemos… Isto é o que eu peço a Deus e à Vida. Isto é também o que eu entrego a Deus e à Vida.


E vocês?

O que pedem?

E o que dão em troca?…




"Alguns dizem que meu ensinamento é absurdo.

Outros chamam-no de elevado, mas impraticável.

Mas para aqueles que têm olhado para dentro de si mesmos,

este absurdo faz perfeito sentido.

E para aqueles que o praticam,

esta elevação tem raízes profundas.

Eu tenho apenas três coisas a ensinar:

Simplicidade, paciência, compaixão.

Estes três são os seus maiores tesouros.

Simples em acções e pensamentos,

você retorna para a fonte da existência.

Paciente com amigos e inimigos,

você está de acordo com o modo como as coisas são.

Tendo compaixão por si mesmo,

você reconcilia todos os seres do mundo."


Lao Tzu

Tao Te Ching, Capítulo 67



Peach Blossom by Akiane



Como sempre, deixo-vos a minha mais profunda e sincera GRATIDÃO pela vossa leitura e atenção e peço-vos que, como de costume, acolham apenas o que ressoa convosco e coloquem de parte tudo o resto, já que tudo o que partilho convosco é apenas o fruto dos meus próprios questionamentos, experiências de vida, compreensões e integrações alcançadas através dos ensinamentos do Yoga, da minha própria prática espiritual, do meu sādhana (साधन), com o apoio incondicional das minhas Equipas Divinas. Com todo o meu AMOR e REVERÊNCIA, desejo-vos coragem, bons questionamentos e boas práticas… Dentro e fora do tapete! Para que um dia, possamos ver no mundo, a mudança que ocorre em nós através do Yoga!


Namaste

✨ 💜 🙏 💜 ✨

Rita





ॐ लोकाः समस्ताः सुखिनो भवन्तु

ॐ शान्तिः शान्तिः शान्तिः॥

Oṁ lokā samastā sukhino bhavantu

Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ


Oṁ

Que todos os seres, em todos os lugares, sejam felizes.

Que haja Paz, Paz, Paz.



🍃🪷🧘‍♀️💜🧘‍♂️🪷🍃


ree

 
 
 

Comentarios


Ya no es posible comentar esta entrada. Contacta al propietario del sitio para obtener más información.

Subscrever a Newsletter

Padma Final 01.jpg

Padma Yoga Shala

Largo de São João, nº18, 2º andar

9500-106 Ponta Delgada

2017 - 2025

bottom of page