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  • Photo du rédacteurRita

Agosto/20...


“A natureza está bem ajustada, quer à nossa fraqueza, quer à nossa força. A incessante ansiedade e tensão de alguns é quase uma forma incurável de doença.”

Henry David Thoreau


Queridos alunos e amigos, Em Agosto, as aulas vão continuar a ser presenciais, online e ao ar livre ao fim de semana (preferencialmente ao sábado de manhã), sempre que as condições climatéricas assim o permitam.  O Padma Yoga Shala🌿 estará encerrado no dia de LUA CHEIA 🌕, segunda-feira, 03/08/2020, MAS no dia de LUA NOVA 🌑, quarta-feira, 19/08/2020, teremos como habitualmente, as nossas aulas de Meditação e Textos Sagrados ONLINE, de manhã e ao final do dia.

Abaixo encontram o horário actualizado do mês de Agosto.

Boas práticas! Namaste 🙏💚🌱

(Para quem faz sentido, a Newsletter continua mais abaixo…)



 

📷 de António Pinto

“Eu bem sei que aquilo que estou a dizer-vos não é para todos, mas somente para aqueles que, apesar de tudo o que têm obtido na vida, não estão satisfeitos : sentem que lhes falta algo essencial. Então cabe-vos a vós ver…”

Omraam Mikhaël Aïvanhov


Na primeira parte de Sādhanapāda, capítulo sobre a via ou método que constitui o segundo capítulo do Yogasūtra, Patañjali expõe a filosofia dos kleśa (aflições). Dos cinquenta e cinco aforismos que constituem esta segunda secção, Patañjali dedica à filosofia dos kleśa os primeiros vinte e seis sūtra, ao longo dos quais se debruça sobre as causas do sofrimento inerentes à condição humana e, ao mesmo tempo, apresenta uma solução eficaz para eliminar esse mesmo sofrimento. 

A filosofia dos kleśa não é exclusiva ao Yoga, mas poder-se-ia dizer que é na compreensão da sua essência, que foram assentes as suas fundações. O Yoga, como aliás as outras cinco darśana da ortodoxia hindu (pontos de vista, escolas de pensamento ou sistemas filosóficos), tem o seu ponto de partida na tomada de consciência do carácter insatisfatório da condição humana, e o seu objectivo é libertar-se do sofrimento e atingir a Libertação (mokṣa ou mukti), utilizando como meio, a prática e a realização de cada um dos membros do aṣṭāṅgayoga. Assim, a compreensão da filosofia dos kleśasurge como indispensável, não só à compreensão do tratado de base desta escola de pensamento, mas também dos próprios ensinamentos do Yoga e, essencialmente, da sua prática ao quotidiano.


“A liberdade é tudo o que quero, mas fico envergonhado de ter a esperança de obtê-la.”

Rabindranath Tagore


 

Várias vezes me disseram que, visto deste ângulo, o Yoga parece algo muito “pessimista”, mas nada poderia ser mais afastado da realidade!

Para quê falar tanto de sofrimento, se à partida nós adoptámos este estilo de vida, essencialmente porque queremos sentir-nos bem? Porque não fazer umas Newsletters leves e inspiradoras, para podermos ver apenas o “lado bom” da vida? Porque não usar uma psicologia positiva e focar a nossa atenção apenas nos aspectos positivos de cada coisa? Pois… E não será isso que estamos realmente a fazer, ao abordar estes temas? Será que podemos realmente ultrapassar algo que ainda não compreendemos, aceitámos e realizámos integralmente? Será que a leveza e a plenitude poderão manifestar-se em nós de outra forma ou através da compreensão e aceitação do que “realmente é” e pela integração de um estilo de vida harmonioso, independentemente das condições exteriores e daquilo que achamos que “deveria ser”? Eu acredito que para “ver” a realidade e a verdade, temos que estar “prontos” e “querer” ver “aquilo que é”!


“Quando vivermos todos os dias com «o que é» e observarmos «o que é», não apenas lá fora, mas interiormente, criaremos então uma sociedade sem conflito.”

Jiddu Krishnamurti



 

Ouso afirmar que, nos dias que correm, todas as mudanças a que assistimos quotidianamente no nosso mundo e na nossa vida e grande parte das atitudes e decisões tomadas, tanto a nível global, como a nível pessoal, se encontram, sem sombra de dúvida, enraizadas nestas “aflições” ou “causas de sofrimento” (a sua influência é sentida desde já, mas as suas marcas serão provavelmente sentidas durante muito tempo…). Questionar, compreender e realizar a forma de nos libertarmos destes kleśa, identificando e reconhecendo a sua influência sobre nós, não só se tornou indispensável, como adquiriu igualmente um carácter de urgência!

Vivemos uma época extraordinária em que, cada vez mais, uma parte da população mundial se questiona sobre todos os actuais paradigmas, que apesar de acompanharem a humanidade há tantos séculos, nunca foram capazes de nos trazer a felicidade e plenitude à qual todos os seres humanos aspiram…


“É bom duvidar, ter uma mente que questiona, que não aceita; uma mente que diz: não podemos continuar a viver assim, desta maneira cruel e violenta. Por essa razão, duvidar, questionar, tem uma importância extraordinária. Não nos podemos limitar a aceitar o modo de vida de há trinta anos, ou a forma como o Homem vive há um milhão de anos.”

Jiddu Krishnamurti


 

Mas, acima de tudo, vivemos uma época extraordinária em que, além desse questionamento que sempre existiu entre pequenas minorias (entre as quais se encontram todos os inconformados que, num momento ou noutro da sua vida, procuraram um sentido para a sua vida e deram consigo numa aula de Yoga 😉😂), existe uma autêntica e real vontade de criar novos paradigmas, que possam realmente aproximar-nos de mokṣa, dessa Liberdade! Por momentos, podemos até desesperar, por não nos sentirmos de todo em acordo com o mundo actual (às vezes podemos sentir-nos completamente extra-terrestres, como diria Simone de Beauvoir 💚 : «Fui feita para outro planeta. Enganei-me no destino.»), mas é importante não nos esquecermos que não estamos sozinhos, mesmo que por vezes possamos sentir-nos assim… A vida de Yoga, por muito solitária que possa parecer por vezes, tem como único objectivo a UNIÃO : connosco mesmos, com os outros, com o Universo inteiro, que em nada é diferente de nós!


“Nunca vemos a vida como um todo, porque estamos demasiado fragmentados, tão terrivelmente limitados, tão insignificantes! E nunca temos essa sensação de totalidade, em que as coisas do mar, da terra e do céu, da Natureza, do Universo, fazem parte de nós.”

Jiddu Krishnamurti



O termo kleśa, derivado da raiz verbal KLIŚ, significa tormento, dificuldade, sofrimento, aflição ou paixão, mas de um ponto de vista filosófico pode assumir igualmente o significado do próprio factor de aflição, da causa do sofrimento (segundo o “Sanskrit Heritage Dictionary”). Através da filosofia dos kleśa,  Patañjali efectua uma análise da causa fundamental do sofrimento humano, fornecendo em seguida uma forma eficaz de erradicar de forma permanente e definitiva essa causa.

Segundo Vyāsa e o Sāṃkhyakārikā, o tratado de base da doutrina Sāṃkhya (S.K. 1), o sofrimento pode ter três origens diferentes : o sofrimento que emana de nós próprios (ādhyātmika), o sofrimento provocado pelos outros (ādhybhautika) e o sofrimento devido a elementos exteriores, como as catástrofes naturais, por exemplo (ādhydaivika). O Yoga de Patañjali, ao agir directamente sobre o nosso mental, vai atenuando (e esperemos que também vá eliminando) esse sofrimento, adaptando-se particularmente bem à atenuação do sofrimento do primeiro tipo, aquele que depende única e exclusivamente de nós e que, por essa mesma razão, temos a possibilidade e capacidade de reduzir (como tantas vezes já referi, ao apresentar-vos o Yogasūtra II, 16 : “हयें दुःखमनागतम्॥१६॥ heyaṁ duḥkham-anāgatam ॥16॥ «O sofrimento que ainda não ocorreu pode ser evitado.»).


Desde a época das Upaniṣad, a Índia tentou encontrar uma solução para aquele que considera um dos maiores problemas existentes, a estrutura da condição humana. Os maiores filósofos, contemplativos, ascetas, pensadores em geral, todos eles se debruçaram sobre a questão dos “condicionamentos” do ser humano e principalmente tentaram descobrir se existe algo para além desses mesmos condicionamentos. Por esta razão, muito antes do aparecimento da psicologia, sábios e ascetas da Índia exploraram o inconsciente. Tendo constatado que os condicionamentos físicos, sociais, culturais e religiosos eram relativamente fáceis de identificar e, consequentemente, mais fáceis de controlar, preferiram direccionar o objecto do seu estudo para a actividade, o conteúdo e a estrutura do inconsciente, de modo a tentar encontrar uma solução para “descondicionar” o ser humano.

Entrando cada vez mais profundamente na essência do indivíduo, até chegarem ao Conhecimento do verdadeiro “Eu”, descobriram não só a causa fundamental do sofrimento humano, mas também a forma de ultrapassar e erradicar definitivamente esse sofrimento.


“A atenção que se dá a um problema é a própria energia que o resolve.”

Jiddu Krishnamurti


 

Estas aflições presentes em cada um de nós, quer tenhamos ou não consciência delas, constituem o maior obstáculo que existe na evolução espiritual do ser humano, já que o simples conhecimento intelectual das mesmas não é suficiente para as eliminar. Enquanto não for atingido o estado de Yoga, tal como é descrito no YogasūtraI, 2 (योगश्चित्तवृत्तिनिरोधः॥२॥ yogaś cittavṛttinirodhaḥ ॥2॥ : «O Yoga é a paragem dos movimentos da consciência [da agitação existencial].»), enquanto não houver uma realização do Conhecimento, os kleśaestarão sempre presentes, mais ou menos activos, e é extremamente importante ter consciência deles e da forma como se manifestam na nossa vida ao quotidiano. É muito difícil realizar que estamos no domínio de avidyā (mesmo se os seus aspectos mais grosseiros como rāga, dveṣa ou abhiniveśa são mais facilmente identificáveis), pois o ser humano vive na ilusão de que todas as suas actividades mentais (actividade dos sentidos, dos sentimentos, pensamentos e volições) são idênticas ao “Si” e confunde assim duas realidades autónomas e mesmo opostas, cuja única ligação é apenas ilusória. A experiência psico-mental não pertence ao domínio de Puruṣa, do Princípio Transcendente, mas sim da Natureza, a Prakṛti, ou seja, os estados de consciência não são mais que produtos refinados da mesma substância que está na origem de todo o mundo físico e da vida em geral.


“Contemplar mergulhado em silêncio e espaço. Nessa observação, nessa atitude de vigilância, existe algo que está além das palavras, além de toda a medida.”

Jiddu Krishnamurti


 


 

Vyāsa (o mais importante comentador do Yogasūtra), no seu comentário ao Yogasūtra II, 3, diz-nos dos kleśa que eles fazem parte do conhecimento errado, lembrando-nos assim que eles fazem parte das agitações mentais (cittavṛtti). Tanto para Vyāsa, como para Vijñāna Bhikṣu, outro importante comentador do Yogasūtra, a influência dos kleśa vai além da vida actual, determinando mesmo as circunstâncias segundo as quais se efectua a lei da transmigração e a lei do karman, já que eles são produtores de vāsanā, traços deixados em estado latente no mental pelas acções e experiências passadas. Segundo esta lei do karman, ao vir ao mundo, trazemos já dentro de nós, o resultado de tudo o que fomos, fizemos e pensámos noutras vidas, e que é a base das nossas predisposições e tendências. Estas forças inconscientes, muitas vezes sob a influência dos kleśa, determinam a vida da grande maioria dos seres humanos. Também Patañjali, nos sūtra II, 12 a 14, aponta os kleśacomo sendo a causa subjacente ao karman que geramos através dos nossos pensamentos, dos nossos desejos e das nossas acções.

 

Yogasūtra II.12

क्लेशमूलः कर्माशयो दृष्टादृष्टजन्मवेदनीयः॥१२॥ 

kleśa-mūlaḥ karma-aśayo dr̥ṣṭa-adr̥ṣṭa-janma-vedanīyaḥ ॥12॥


«As latências das acções enraizadas nas causas de sofrimento [kleśa], são vivenciadas agora ou mais tarde.».

Yogasūtra II.13

सति मूले तद्विपाको जात्यायुर्भोगाः॥१३॥ 

sati mūle tad-vipāko jāty-āyur-bhogāḥ ॥13॥


«Enquanto essas raízes existirem, elas vão influenciar nascimento, longevidade e experiência.».

Yogasūtra II.14

ते ह्लादपरितापफलाः पुण्यापुण्यहेतुत्वात्॥१४॥ 

te hlāda paritāpa-phalāḥ puṇya-apuṇya-hetutvāt ॥14॥ 


«As suas consequências serão o prazer ou a dor causado pela virtude ou pelo vício, respectivamente.».


Mesmo se, para Patañjali, tanto a causa como a origem da associação do espírito com a natureza estão fora da compreensão do ser humano, a solução é bem real. Para acabar com o sofrimento decorrente da ignorância, é necessário suprimir a confusão feita entre o “Si” (Puruṣa, Ātman) e os estados psicológicos e mentais que são um produto da natureza (Prakṛti), o que afirma ser possível através da prática de Yoga na acção e ao quotidiano (não, o Yoga não é algo que acontece apenas em cima de um tapete, mas sim um estilo de vida, que nos acompanha em cada um dos nossos pensamentos, intenções e acções…), capaz de reduzir as causas de sofrimento e levar-nos ao estado de samādhi, para que possamos finalmente realizar que JÁ SOMOS a felicidade e a plenitude que procuramos fora de nós. 


 

Yogasūtra II.1

तपःस्वाध्यायेश्वरप्रणिधानानि क्रियायोगः॥१॥ 

tapaḥ svādhyāy-eśvarapraṇidhānāni kriyā-yogaḥ ॥1॥


«O esforço sobre si mesmo, o estudo de si [através das Escrituras Sagradas] e o abandono dos frutos das suas acções a Īśvara constituem o Kriyā Yoga (que poderíamos também traduzir por Yoga da Acção ou Karmayoga).»

Yogasūtra II.2

समाधिभावनार्थः क्लेशतनूकरणार्थश्च॥२॥ 

samādhi-bhāvana-arthaḥ kleśa tanū-karaṇa-arthaś-ca ॥2॥


«Os objectivos são o aparecimento progressivo do estado de samādhi e a redução das causas do sofrimento.».


 

Assim, através do esforço que fazemos sobre nós mesmos para viver uma vida correcta e assente no dharma, com respeito pelosYama/Niyama, em harmonia connosco mesmos, com os outros e com o ambiente que nos rodeia, através da procura do conhecimento de nós mesmos (não do ego, mas da nossa verdadeira essência, que é plenitude e consciência e que é comum a todos os seres humanos, mesmo que não haja consciência disso!) e aceitando com equanimidade os resultados de todas as nossas acções, quer esses resultados correspondam às nossas expectativas, sejam inferiores, superiores ou opostos às mesmas, conscientes de que eles não dependem da nossa vontade pessoal, mas fazem parte de uma ordem universal, vamos aos poucos, poder libertar-nos da influência das causas de sofrimento e observar, reflectir, compreender e agir a partir da nossa verdadeira essência e consciência, que é AMOR, CONHECIMENTO e LUZ e não tem espaço para a influência dos kleśa



“Aquele que se contenta com o ganho que vem automaticamente, que está livre da dualidade e que não inveja, que é estável tanto no sucesso quanto no fracasso, nunca se enreda, embora execute ações.”

Bhagavad-Gītā, 4.22

 

De todos os assuntos tratados por Patañjali no Yogasūtra, o estudo da filosofia dos kleśa é provavelmente o que mais diz respeito a todas as pessoas, independentemente da duração ou da intensidade da sua prática do Yoga. Nem toda a gente teve uma experiência consciente de samādhi, as pessoas que desenvolveram poderes extraordinários (siddhi) através da prática do Yoga não se encontram em cada esquina, indivíduos capazes de realizar o Conhecimento da sua verdadeira essência são raríssimos, no entanto, não há nada mais comum a todos os seres humanos que o sofrimento. Todos sofremos. Quer pratiquemos ou não Yoga, quer tenhamos desenvolvido a nossa capacidade de discernimento (viveka) ou não, quer estejamos conscientes desse sofrimento ou não. Ele está sempre presente. A cada um de nós, cabe escolher se/quando estamos prontos e/ou queremos reconhecê-lo, se estamos dispostos a eliminá-lo…

 

“Então o que é a verdade?… Temos de dar tudo por tudo para fazer isto, temos de empenhar-nos de corpo e alma, não nos podemos limitar a aceitar qualquer coisa absurda. Precisamos de ter a capacidade de investigar, não a capacidade que o tempo desenvolve, como a aprendizagem de uma técnica; esta capacidade surge apenas quando estamos verdadeira e profundamente empenhados em descobrir, quando é um caso de vida ou de morte.”

Jiddu Krishnamurti


 

ॐ असतो मा सद्गमय । तमसो मा ज्योतिर्गमय ।

मृत्योर्मा अमृतं गमय । ॐ शान्तिः शान्तिः शान्तिः ॥

oṁ asato mā sad gamaya tamaso mā jyotir gamaya

mṛtyor mā amṛtaṁ gamaya oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ

Oṁ

Possamos nós ser conduzidos da ilusão para a verdade.

Possamos nós ser conduzidos da escuridão para a luz.

Possamos nós ser conduzidos da morte para a imortalidade.


Que haja Paz, Paz, Paz.

 

Obrigada por me lerem… Com todo o meu amor e carinho, desejo-vos coragem, bons questionamentos (hoje e sempre) e boas práticas… Dentro e fora do tapete! Para que um dia, possamos ver no mundo, a mudança que ocorre em nós através do Yoga!

Namaste, 🙏💚🌿 Rita



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