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  • Photo du rédacteurRita

Junho/20...


... Finalmente, a REABERTURA do espaço físico do Padma Yoga Shala🌿, mas as aulas online continuam e haverá aulas ao AR LIVRE,

no final de semana...


 

Para viver, é preciso coragem. Tanto a semente intacta como aquela que rompe a sua casca têm as mesmas propriedades. No entanto, só a que rompe a casca é capaz de se lançar na aventura da vida.

Khalil Gibran


 

Queridos alunos e amigos 🌱,


Como estão? Como se sentem, neste momento? Como se encontra o vosso corpo, a vossa respiração, a vossa mente, no momento presente? 



 

Foram dois meses e meio com as portas do Padma Yoga Shala🌿 fechadas, ao longo dos quais me fui questionando sobre como estariam vocês a viver estes estranhos tempos… Todos nós fomos confrontados à mudança, à eventual ansiedade resultante dos nossos pensamentos e acções face a essa mesma mudança (conscientes ou inconscientes, naturais ou condicionadas), aos desequilíbrios manifestados inclusivamente na própria matéria que nos constitui, este nosso corpo que a maioria das tradições orientais descreve como sendo o veículo da alma. Será que conseguiram minimizar o sofrimento que Patañjali nos anuncia como sendo inevitável mas, ao mesmo tempo, afirma que pode e deve ser evitado?

Yogasūtra II, 16


परिणामतापसंस्कारदुःखैर्गुणवृत्तिविरोधाच्च दुःखमेव सर्वं विवेकिनः॥१५॥

heyaṁ duḥkhamanāgatam||16||


« O sofrimento que ainda não surgiu, deve ser evitado ».

Patañjali fala-nos aqui de eliminar a ignorância (avidyā), para realizar finalmente que somos UM com o Universo, para ultrapassar a dualidade que cria o sentido de individuação e a consequente sensação de separação do outro, do ambiente que nos rodeia. Como já ouviram tantas vezes, o Yoga não é diferente da própria vida e o ensinamento contido nos sūtra de Patañjali, aplica-se bem à nossa experiência da vida quotidiana. Pergunto-me se, individualmente, conseguiram colocar em prática este sūtra, ao qual já tinha feito referência no final de Março, nas primeiras Reflexões Esporádicas?



 


Como cuidaram do vosso corpo? Houve tempo para a prática de āsana ou qualquer outra actividade física regular? Tiveram o cuidado de ter uma alimentação equilibrada e saudável, em horas convenientes? Houve repouso suficiente cada dia, sono reparador cada noite?


E a vossa respiração? Cuidaram da vossa respiração? Trouxeram cada inspiração e expiração para o momento presente? Ou pelo menos algumas respirações? Observaram o privilégio único de poder efectuar, sem restrições, esta troca de energia com o Universo, com cada ser vivo do nosso planeta? Ou deixaram que o medo limitasse a vossa respiração? Podemos viver sem respirar? E sem medo, podemos viver sem medo?


E a vossa mente? Pensaram igualmente em cuidar dela? Cultivaram momentos de observação sobre a sua agitação e o seu conteúdo? Cultivaram momentos de silêncio? Ou, pelo contrário, estimularam a sua actividade, através da estimulação dos sentidos? Autorizaram-se a aceitar os momentos de prazer e de dor, mantendo a mesma equanimidade? Cultivaram a vossa capacidade de resiliência? Deixaram-se levar pelas vossas emoções regularmente ou, apesar das vagas emocionais, conseguiram encontrar o caminho de volta ao vosso centro, à vossa estabilidade?


Repararam como a respiração se encontra intimamente ligada à mente? Repararam na forma como cada inspiração traz consigo o germinar de um novo pensamento, que brilha em todo o seu esplendor, suspenso por um breve instante do qual muitas vezes nem sequer nos apercebemos, para seguir caminho à medida que vamos expirando, deixando lugar ao pensamento seguinte, que virá com a inspiração seguinte (tantas vezes um pensamento distante e desligado do precedente)?… Repararam na forma como a respiração condiciona a mente e a mente condiciona a respiração, se não estivermos conscientes do acto de respirar? Conseguiram controlar todo esse processo físico e mental? Ou sentiram-se assoberbados e deixaram-se ir, como que empurrados pelo vento?

 

Não nasci para ser forçado a nada.

Respirarei a meu próprio modo.


Henry David Thoreau

 


E o todo? Observaram de forma consciente este TODO? Questionaram-se sobre ele? Questionaram-se sobre vós mesmos? Questionaram-se sobre o vosso relacionamento com os outros, com o ambiente que vos rodeou durante os últimos dois meses e meio? Questionaram-se sobre o vosso lugar neste mundo, neste momento? Questionaram-se sobre o que vos parecia indispensável e o que parecia supérfluo? Era realmente indispensável/supérfluo? E as vossas prioridades, questionaram-se sobre elas? Sobre o que é realmente importante? Sobre o verdadeiro valor de cada coisa pensada, dita, feita? Qual o valor de cada ser vivo, seja planta, animal, pessoa, o próprio planeta em que vivemos? Questionaram-se sobre o valor da vida e da morte? Será o mesmo para todos?


Questionaram-se de forma verdadeira, justa, imparcial, com discernimento e compaixão? Ou enraizaram as vossas questões no medo, na repulsa, no apego, no ego e na ignorância (kleśa), antes de as formularem? Questionaram-se sobre vós mesmos e a vossa responsabilidade pessoal no momento presente, ou questionaram-se apenas sobre os outros, sobre o que estava a acontecer “lá fora”, sobre a responsabilidade colectiva? Ou será que não se questionaram de todo? Porquê?


 


Este conjunto do corpo-respiração-mente impermanente e mutável, que posicionado neste espaço e neste tempo, se relaciona com os outros e o com o ambiente que o rodeia, só pode ser observado e questionado à luz da Consciência, a parte de nós que, não estando submetida à mudança, não se deixa perturbar pelo exterior e nos permite manter o alinhamento com o Dharma, agir em vez de reagir, ser LIVRES…  É através da Consciência que fala a voz do nosso discernimento (viveka) e é essa a voz que nos aproxima da verdade, da plenitude, do Conhecimento. Não foi sempre fácil manter esse discernimento, pois não?

Procure saber o que as coisas realmente são,

não simplesmente o que parecem ser.

Henry David Thoreau

Tantas, tantas questões sobre nós mesmos, às quais fomos tentando responder, através do estudo dos textos sagrados do Yoga (como o Yogasūtra de Patañjali e a Bhagavad-Gītā) nas aulas online do Padma Yoga Shala🌿, durante os últimos dois meses… Tantas e tantas questões que eu me fui colocando a mim mesma, à medida que o tempo passava e que tive, felizmente a oportunidade de as ver tratadas e cuidadas pelo meu professor de Vedanta, Arvind Pare (esta foi uma das boas coisas deste confinamento, as distâncias reduziram-se e a Índia entrou todos os dias em minha casa, através dos ensinamentos deste meu professor do 💚, que não ensina āsana, mas que sabe bem como remover a ignorância (avidyā) dos seus discípulos!).

 

E no final de todo este auto-questionamento?

O que sobra?


 

Ele supõe saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco suponho saber. Parece que sou um pouco mais sábio que ele, exatamente por não supor que saiba o que não sei.

Sócrates

Pelo meio de tantas dúvidas, sobra-me apenas uma certeza! O Yoga tem um papel bastante importante a desempenhar neste mundo de dualidades onde, apesar de quase todos os Governos do mundo afirmarem que estamos a salvar vidas, há muito tempo que não se via tanta vida destruída, tanta angústia, tanto desemprego, tanta pobreza, tanta fome, tanta injustiça, tanta violência e tantos abusos de poder, em todas as partes do planeta… Pergunto-me se, tal como eu, também terão reflectido intensamente sobre isso?  Será que, apesar de haver uma maioria que espera ansiosamente por um regresso ao “normal”, as mudanças deveriam ficar por aqui? Será que devemos voltar ao “normal”, ou será que algo muito mais positivo poderá emergir destes tempos de crise e questionamento? Será que podemos sair desta crise mais conscientes, mais fortes, mais empenhados em viver uma vida mais harmoniosa, connosco mesmos, com os outros, com o nosso planeta TERRA? Ou será que vamos regressar aos antigos padrões destrutivos e egoístas, onde não há lugar para uma consciência social, cultural e ecológica mais alargada no espaço e no tempo? Será que vamos finalmente começar a preocupar-nos com o planeta que deixaremos aos nossos filhos e, ao mesmo tempo, com os filhos que deixaremos ao nosso planeta? Será que vai ficar tudo bem? 




"Assim, eu expus o mais secreto dos conhecimentos. Após refletir plenamente sobre isto, age como desejares."


Bhagavad-Gītā, 18:63


 


A verdadeira revolução não é a revolução violenta, mas a que se realiza pelo cultivo da integração e da inteligência de entes humanos, os quais, pela influência de suas vidas, promoverão gradualmente radicais transformações na sociedade.”

Jiddu Krishnamurti


Sem dúvida que pode ficar tudo bem! Mas para que isso aconteça, será certamente necessário que, cada um de nós, tome a responsabilidade pessoal de encarnar na sua vida quotidiana, todos esses valores e o dharma que queremos ver presente no mundo. É importante perceber que não se trata daquilo que nos separa e diferencia dos outros, mas sim do que é comum a todos nós e que, conscientemente ou inconscientemente, é a principal busca de cada ser humano,

SER FELIZ

Para que isso seja possível, é preciso agir, em vez de reagir, com a perfeita noção de karman, através da qual tomamos consciência das nossas acções e, ao mesmo tempo, das consequências das mesmas : “se o homem sente que toda e qualquer decisão de ordem moral tem uma importância extrema, que qualquer acto que cometa vai ter consequências cuja influência se exercerá sobre toda a natureza do seu ser, agora e no futuro, ele pensará sem dúvida duas vezes antes de viver uma vida imoral. A salvação reside na iluminação ; a moralidade ajuda a alcançá-la.  Quem não age de forma moral está condenado ao saṃsāra ” [Eliot Deutsch. Qu’est-ce que l’Advaita Vedanta?(trad. Sylvie Girard), éd. Les Deux Océans, Paris, 1980, p. 86, em tradução livre]. Sem nos perdermos na arrogância de pensar que, sozinhos, podemos mudar o mundo, nada nos impede de fazer a nossa parte, com humildade e a consciência de que fazemos o que nos é possível para “ser a mudança que queremos ver no mundo”, como dizia Gandhi.


 

Fábula do Colibri na floresta em chamas

(de origem ameríndia)

Havia um grande incêndio numa floresta. Preocupados, os animais fugiam da selva em chamas. Quando todos se encontraram num lugar seguro, bem distante do fogo, ficaram apenas a olhar. Eles sentiam que nada podiam fazer pois o incêndio era enorme. No entanto, um pequeno colibri decidiu que tentaria apagar o fogo. O pássaro foi até um rio próximo, apanhou uma gota de água, sobrevoou a floresta em chamas e lançou a gota que carregava no bico. Enquanto ele ia e vinha, os outros animais perguntavam: “O que estás a fazer? Não vais conseguir! Tu és muito pequeno e este incêndio é muito grande!”. 

Mas o colibri estava convencido de que podia ajudar a apagar o incêndio e continuou atirando pequenas gotas às chamas que consumiam as árvores, respondendo “Eu faço a minha parte! Faço o que é possível!”


(Texto adaptado)


 

EM JUNHO… 

Agora que o Governo Regional já autorizou a reabertura dos ginásios e espaços equiparados (como o Shala) e já se conhecem as recomendações da DGS relativas às medidas de segurança e distanciamento a manter ao longo das próximas semanas, posso continuar a participar na construção de um mundo no qual eu gostaria de viver, de forma activa, consciente e através da partilha dos ensinamentos do Yoga, agora também com uma presença física. As aulas retomam já amanhã, dia 1/06, segundo horário específico para o mês de JUNHO e com limitações a nível de horários e número de participantes. Alguns horários já estão completos, tendo sido preenchidos pelos alunos que acompanharam as aulas online ao longo dos últimos dois meses, mas outros ainda têm vagas disponíveis. O Shala só estará encerrado na sexta-feira, dia 5 de Junho, dia de LUA CHEIA🌕, e vai funcionar em vários moldes, de forma a adaptar-se, tanto quanto possível, às possibilidades de cada um. Assim, para além das aulas presenciais, continuamos com as aulas online e teremos igualmente aulas ao ar livre, ao sábado ou ao domingo de manhã, sempre que o clima caprichoso da nossa ilha, o permita.

Todas as aulas requerem marcação prévia e têm um número limitado de participantes, de forma a respeitar as recomendações de distanciamento preconizadas pela DGS.



 

Todos os interessados em frequentar as aulas de Junho, deverão obrigatoriamente enviar um e-mail para padmayogashala@gmail.com, para conhecer as actuais Condições e Regras e Tarifas do Padma Yoga Shala🌿 e verificar se existe disponibilidade no horário pretendido, aguardando uma confirmação por escrito da parte do Shala, antes de poder frequentar as aulas. Como podem calcular, existem mais limitações que anteriormente... 


IMPORTANTE : Peço a todos os alunos que não vão ter a possibilidade de regressar ao Padma Yoga Shala🌿 em Junho, que entrem em contacto comigo com a maior brevidade possível, por e-mail, para encontrarmos uma solução adaptada para que possam para recuperar os vossos tapetes, de preferência antes do final do mês, de modo a facilitar o processo de limpeza regular e higienização do espaço.



 

Depois de dois meses e meio de ausência na prática presencial de āsana e de reflexão sobre a verdadeira essência de nós mesmos e sobre o sentido da vida (pelo menos assim o espero), muitos de vós terão certamente igualmente reflectido sobre qual o papel do Yoga na vossa vida… E então? Será que estão prontos para regressar?


A todos aqueles que continuaram a “desaprender” comigo tudo aquilo que achavam que já sabiam sobre Yoga e sobre vós mesmos, para se verem um pouco mais próximos da vossa verdadeira essência, livre de condicionamentos e ilimitada, todos os que continuaram o ensino online e apoiaram assim a continuidade das aulas, mais uma vez, toda a minha gratidão! Sem o vosso apoio incondicional, o Shala provavelmente não teria tido a possibilidade de reabrir as suas portas! Espero que tenha sido tão benéfico para vós, como foi para mim, para o Shala e para todos aqueles que vão poder continuar a frequentar as aulas no futuro e a receber os ensinamentos do Yoga que tenho tanto gosto em partilhar convosco! Espero que mantenham, sempre, a vontade de continuar a avançar, pelo caminho do Yoga! Porque sem vocês, o caminho do Yoga teria continuado, mas o caminho do Padma Yoga Shala🌿, teria certamente sido mais curto... 🙏💚🌱




 

ॐ लोकाः समस्ताः सुखिनो भवन्तु⎜ ॐ शान्तिःशान्तिःशान्तिः⎜⎟ Oṃ

Oṁ lokā samastā sukhino bhavantu

Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ

Hariḥ Oṁ Oṃ

Que todos os seres, em todos os lugares, sejam felizes.

Que haja Paz, Paz, Paz.


 

Obrigada por me lerem… Com todo o meu amor e carinho, desejo-vos coragem, bons questionamentos (hoje e sempre) e boas práticas… Dentro e fora do tapete! Para que um dia, possamos ver no mundo, a mudança que ocorre em nós através do Yoga!

Namaste, 🙏💚🌿 Rita



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