Novembro 2025
- Rita

- há 3 dias
- 21 min de leitura
Atualizado: há 20 minutos
“Quatro regras principais regem a conduta humana, seguindo uma escala ascendente. A primeira é a necessidade pessoal e a preferência, o desejo do indivíduo; a segunda é a lei e o bem da colectividade; a terceira é o ideal moral; a quarta é a mais elevada lei divina da nossa natureza.(…) Num estágio avançado do yoga, o aspirante é indiferente à acção que realizará ou não realizará — indiferente no sentido de não ter preferências pessoais; agir ou não agir não depende da sua escolha ou do seu prazer pessoal. Faça o que fizer, será sempre levado a fazê-lo em conformidade com a Verdade, e fará tudo o que o Divino exija da sua natureza.”
Sri Aurobindo
Queridos alunos e amigos ✨,
Estamos a aproximar-nos rapidamente do final do ano e, com a chegada dos dias mais curtos, da chuva e do frio, pode tornar-se mais desafiante manter a prática pessoal ou a frequência das aulas, tanto pela manhã, como ao final do dia… Ainda assim, em NOVEMBRO, o horário mantêm-se às segundas, terças e quintas-feiras de MANHÃ, entre as 6h30 e as 8h30, e à TARDE, entre as 17h30 e as 19h30 e é claro que continuo a recomendar que mantenham, tanto quanto possível, a regularidade e a constância da vossa prática mesmo durante o Inverno ou durante as minhas ausências que, neste momento, estão a acontecer com maior regularidade.

Informo igualmente que, depois de seis anos essencialmente “estacionada” por aqui, parece que o Universo voltou a dar-me asas e, por essa razão, voltarei a estar ausente da nossa ilha em Dezembro/25 e Janeiro/26 e o PADMA YOGA SHALA🪷🍃, estará ENCERRADO de 20/12/2025 a 01/02/2026.
As aulas retomam, se essa for a Vontade Divina, na segunda-feira, 02/02/2026, com o mesmo horário ou com horário actualizado, de acordo com as necessidades do momento. Todas as informações relativas a essa nova etapa do PADMA YOGA SHALA🪷🍃 ser-vos-ão disponibilizadas assim que se tornarem mais claras também para mim, mas muito provavelmente perto do final do mês de Janeiro de 2026, após o meu regresso à ilha.
🍃🪷 ॐ 🪷🍃
Em NOVEMBRO, na 4ª quarta-feira do mês, entre as 17h30 e as 19h00, naquele que será o nosso penúltimo encontro do ano, continuamos a explorar diferentes temas espirituais (o último será muito provavelmente antes que o Shala🪷🍃 encerre, na 3ª quarta-feira do mês de Dezembro, 17/12, para que possamos finalizar esta aventura que partilhámos juntos, ao longo de todo o ano de 2025!). Como tem sido o caso desde o início do ano, este encontro mensal é gratuito e está aberto a todos os interessados, mas requer uma inscrição prévia por parte de quem não frequenta regularmente o Shala🪷🍃, de forma a que seja possível aceder ao espaço (a menos que estejam acompanhados pelos alunos do Shala🪷🍃, que já têm o seu código pessoal).
QUARTA-FEIRA, 26/11
- das 17h30 às 19h00 -
🪷 Satsaṅga 🪷
“A prática do DESAPEGO”
Yogasūtra I.15
दृष्टानुश्रविकविषयवितृष्णस्य वशीकारसंज्ञा वैराग्यम्॥१५॥
dṛṣṭānuśravikaviṣayavitṛṣṇasya vaśīkārasaṁjṇā vairāgyam ॥15॥
« O desapego é o controle de si mesmo para alcançar a ausência de desejo pelos objectos, vistos ou ouvidos [reais ou imaginários]. »
Algures ao longo do caminho do Yoga, quando se torna evidente que a prática (e o “sucesso” da mesma) não pode acontecer fora ou dissociado da esfera do equilíbrio constante entre assiduidade (अभ्यास abhyāsa) e desapego (वैराग्य vairāgya) é quase inevitável que sejamos confrontados a uma questão simples, mas altamente transformadora : “Aprendemos ou Desaprendemos, para poder simplesmente SER?”… o Equilíbrio entre o que adquirimos ao longo do caminho e aquilo que deixamos para trás, é muitas vezes frágil e, muitas vezes, parece que avançamos com mochilas cheias, muito mais pesadas do que aquilo que podemos carregar…
De que forma se manifesta o DESAPEGO (do mais grosseiro e material ao mais subtil e espiritual…) na prática de Yoga e como podemos praticá-lo ao quotidiano, para que seja uma ferramenta útil, plenamente ao Serviço da nossa prática espiritual e da Vontade Divina, mesmo quando não surge de forma natural e espontânea? Neste momento de partilha, vamos abordar esta e outras questões sobre um tema tão essencial para qualquer praticante de Yoga dedicado, mas tão difícil de colocar em prática na nossa sociedade actual, em contexto pessoal, familiar, profissional ou social, onde os apegos materiais e imateriais são, não só tolerados, mas acima de tudo, encorajados…
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“É passo a passo e com firmeza que devemos avançar; e todas as dificuldades devem ser enfrentadas uma a uma e completamente, e plenamente superadas. Somente a Sabedoria, somente o Poder divino pode fazer isso por nós; e ele fa-lo-á, se nos entregarmos a ele com uma fé total e se o deixarmos agir, com uma paciência e uma coragem constantes.”
Sri Aurobindo
O Padma Yoga Shala🪷🍃 estará ENCERRADO de:
- 20/12/2015 a 1/02/2026 -
AS AULAS RETOMAM NA SEGUNDA-FEIRA, 02/02/2026.
Como sempre, acolham apenas o que ressoa para vós dentro do vosso Coração, coloquem de parte tudo o resto e lembrem-se que são sempre livres de ficar ou de partir, dependendo da forma como se sentem, ou não, em alinhamento com o que ensino, a forma como ensino ou com a própria energia do Shala🪷🍃.
“Quando o aluno está pronto, o professor aparece. Quando o aluno está realmente pronto, o professor desaparece.”
Lao Tzu
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“A natureza vital quer sempre o fruto do seu trabalho, e se o fruto parece ser-lhe negado, ou demora muito a chegar, o homem perde a fé tanto no ideal como na direção, já que a mente humana julga sempre pelas aparências. Esse é o primeiro e inveterado hábito da razão intelectual, na qual ele depositou uma confiança desmedida. Nada é mais fácil do que acusar Deus dentro do nosso coração, quando sofremos por muito tempo ou tropeçamos na escuridão, ou mesmo abjurar o ideal que estabelecemos para nós mesmos.”
Sri Aurobindo
O ensino de Yoga, quando feito de forma sincera, autêntica e dedicada, ao Serviço de Deus e do seu Plano Divino para a Libertação (मोक्ष mokṣa) da Consciência para TODOS, acontece de forma holística e multidimensional, além do Tempo e do Espaço. Pode começar pelo corpo físico e podemos mesmo pensar que é apenas aí que ele acontece, mas tudo, absolutamente tudo o que constitui o nosso Ser, é tido em conta e tocado pelas transformações mais ou menos subtis que vão acontecendo igualmente no nosso corpo energético, no corpo mental, no corpo emocional e no corpo espiritual, ao longo do tempo e de forma multidimensional. Uma lição ensinada hoje, pode ser aprendida somente muitos anos depois, mantendo-se sob a forma de semente, em estado latente, até que todas as condições necessárias para que germine, cresça, floresça e dê fruto, se encontrem reunidas. São transformações que acontecem sempre dentro do Tempo Divino e de acordo com a Vontade Divina, não podem ser impostas, forçadas, nem precipitadas sob a influência de um ego ou pela força bruta de uma vontade pessoal. São transformações que simplesmente acontecem, mas apenas se nos autorizarmos a permitir que se manifestem, fazendo a escolha consciente de não interferir, de não resistir, de não sobrepor a nossa vontade pessoal à Vontade Divina, através do nosso ego (अस्मिता asmitā) ou qualquer outra manifestação dos kleśa (क्लेश - causas de sofrimento). E, sinceramente, para a maioria das pessoas, essa é precisamente a parte mais difícil…
“Perceber intelectualmente ou sentir vitalmente uma Força maior do que a nossa e saber que somos, nós mesmos, movidos por ela, não é o suficiente para nos libertarmos do ego.”
Sri Aurobindo

Para que as fundações da nossa prática espiritual sejam firmes e estáveis, é indispensável que exista uma vontade inabalável de sentir, reconhecer e manifestar o Divino dentro do nosso Coração. É preciso Fé (श्रद्धा śraddhā). Afinal, a relação que temos connosco mesmos e a relação que temos com Deus (o Absoluto, o Universo, a Fonte Criadora, a Força Divina ou seja qual for o termo com o qual se sentem mais confortáveis!), são as duas relações mais importantes da nossa vida! Curiosamente, é muito comum que se encontrem, para a maioria das pessoas, no final da lista de prioridades, partindo do princípio que chegam, um dia, a figurar nessa lista…
Tendo em conta que a nossa prática espiritual e, mais especificamente, a nossa prática de Aṣṭāṅga Yoga, pode permitir criar uma ponte e um canal de comunicação entre essas duas relações primordiais e essenciais e torná-las complementares, a forma como nos relacionamos com a própria prática, como a manifestamos e a conexão que estabelecemos com ela, será muitas vezes um indicador claro e preciso da forma como estamos a viver, de forma mais ou menos plena, de forma mais ou menos sincera, de forma mais ou menos integrada, de forma mais ou menos consciente, em equilíbrio connosco mesmos e em harmonia com o Divino. A prática (tal como a conexão que estabelecemos com ela) encontra-se ao Serviço da União (योग yoga) e é uma porta aberta para a Verdade (सात्य sātya) sobre nós mesmos, sobre a nossa Verdadeira Natureza e Essência Divina, desde que, enquanto praticantes, escolhamos assumir a nossa responsabilidade pessoal e fazer o nosso trabalho interior, sem fechar os olhos, sem desviar o olhar ou mesmo sem fechar a porta a todas as nossas partes de sombra, a todas as nossas feridas, a todos os nossos traumas, preferindo continuar agarrados à ilusão (माया māyā) de tudo aquilo que pensamos que somos ou gostaríamos de ser e de tudo o que ainda se encontra vulnerável e submetido à influência das causas de sofrimento (क्लेश kleśa : अविद्या avidyā, a ignorância metafísica da nossa Verdadeira Essência Divina; अस्मिता asmitā, o ego e o egoísmo; राग rāga, o desejo e o apego; द्वेष dveṣa, a repulsa, a aversão, o ódio; अभिनिवेश abhiniveśa, a agitação existencial provocada pelo medo da morte ou um forte apego à vida)… No final, é tudo uma questão de escolha, ninguém pode escolher por nós o que é realmente importante ou o valor das nossas decisões.
“As portas para o mundo do eu selvagem são poucas, mas preciosas. Se tens uma cicatriz profunda, isso é uma porta; se tens uma história muito antiga, isso é uma porta. Se amas tanto o céu e a água que quase não consegues suportar, isso é uma porta. Se anseias por uma vida mais profunda, uma vida plena, uma vida sã, isso é uma porta.”
Clarissa Pinkola-Estes

Essa conexão inicial com a prática pode, evidentemente, alargar-se depois a um ou mais professores, um ou vários métodos de ensino, uma ou mais comunidades de pessoas com ideias, valores e objectivos semelhantes ou compatíveis com os nossos. Mas, no início, esse reconhecimento e essa conexão com a própria prática tem de estar presente. Sem esse reconhecimento, sem essa conexão com a prática, não teremos a Fé, a Energia, a Paciência, a Coragem e a Gratidão necessárias para manter a constância e a regularidade ao longo do tempo e do caminho, para atravessar e navegar todos os altos e baixos da mesma, assim como todas as mudanças que lhe são inerentes, sem apegos e sem gerar ou sentir um sofrimento desnecessário.
Afinal, os professores vão e vêm de acordo com o nosso próprio patamar de consciência e de evolução espiritual, os métodos mudam e adaptam-se à nossa condição do momento presente e também as comunidades aparecem, evoluem ou desaparecem, de acordo com as necessidades da nossa Alma… A mudança é sempre inevitável.
Mas quando a nossa dedicação é autêntica e sincera, independentemente de todas as variáveis, a prática mantém-se a nossa constante, não apenas como uma disciplina, mas enquanto ritual sagrado e, através dela, podemos encontrar sentido nas experiências que nos permite viver dentro e fora do tapete, em tudo o que coloca à nossa disposição para que possa ser observado, sentido e analisado em cada um dos nossos corpos (físico, energético, mental, emocional e espiritual) e consciência, e que, se o permitirmos, abrirá o caminho para a Expressão Mais Elevada da nossa Alma, dentro do Tempo Divino e de acordo com a Vontade Divina.
“O Mestre das nossas obras [o Absoluto, Deus, a Fonte Criadora…] não comete erros, não é uma Testemunha indiferente, nem se dá ao luxo de nos ver sofrer em vão. (…) No entanto, a Força Divina está presente e guiar-nos-á se confiarmos nela; ela valer-se-á das nossas falhas, assim como dos nossos poderes, para fins divinos. Se falharmos no nosso objetivo imediato, é porque Ele quis esse fracasso; muitas vezes, um fracasso ou um resultado imperfeito é o melhor caminho para encontrar uma solução mais verdadeira, que não teria sido colocada ao nosso alcance, se o sucesso tivesse sido imediato e completo. Da mesma forma, se sofremos, é porque algo em nós precisa ser preparado para uma possibilidade mais rara de felicidade. Se tropeçamos, é para finalmente aprender o segredo de um caminhar mais perfeito. Não tenhamos uma pressa demasiado excessiva em adquirir até a paz, a pureza e a perfeição.”
Sri Aurobindo

Porque a maior parte do meu percurso espiritual, se manifestou como um caminho extremamente solitário, a ligação que tenho com a minha prática pessoal de Yoga é particularmente reservada e íntima, mas ao mesmo tempo, transparente. Sem dúvida, ilimitada e infinita. Abençoada.
Porque a maior parte do meu percurso espiritual, se manifestou como um caminho extremamente solitário, cheio de atropelos e de testes de Devoção e de Fé, a minha Gratidão pelo Privilégio de ter encontrado o Professor do meu Coração durante esta encarnação (mesmo se o tempo passado na sua Presença é tão curto e esporádico ou talvez precisamente por isso…), é igualmente infinita e eterna. O trabalho efectuado na sua presença é sempre intenso, concentrado e parece passar a correr, mas os seus efeitos continuam a manifestar-se durante dias, semanas, meses e por vezes anos, em diversos planos e dimensões do meu Ser, desafiando toda e qualquer noção de tempo linear e proporcionando um terreno fértil para o cultivo do desapego e da aceitação de todas as coisas exactamente como são, no momento presente.
Também porque a maior parte do meu percurso espiritual, se manifestou como um caminho extremamente solitário, sempre muito mais enquanto praticante do que como aluna e, simultaneamente e sem contradição, sempre divinamente acompanhado e guiado, sou particularmente sensível à forma como a transmissão dos ensinamentos se efectua não só através da palavra ou dos ajustes dentro de um Shala, mas acima de tudo e também de forma subtil, através da presença, do exemplo, da capacidade de escuta, de leitura, de compreensão e de manuseamento do campo energético de cada indivíduo e de todo o grupo simultaneamente, além do Tempo, além do Espaço. Cada intenção, cada gesto, cada olhar, cada palavra, mas também cada silêncio contam, no momento e mais além. Cada intenção, cada gesto, cada olhar, cada palavra, cada silêncio adaptado e ajustado a cada aluno, mas também em equilíbrio e harmonia dentro do contexto de grupo, pode ter um profundo impacto no momento presente ou manifestar-se apenas muitos, muitos anos depois, de forma doce, gentil e compassiva e simplesmente perdurar no tempo, até ao final da nossa vida. Apenas Almas plenamente ao Serviço Divino, ao Serviço ao Outro, sem qualquer tipo de poluição egóica, sem qualquer tipo de necessidade de valorização ou reconhecimento, podem eventualmente atingir a perfeição neste modo de transmissão, tão raro e extremamente difícil de alcançar.
Pessoalmente, muito caminho já foi percorrido desde os meus inícios enquanto professora de Yoga, mas tenho consciência de que muito ainda está por percorrer… O Caminho é árduo e integral e, sinceramente, de um ponto de vista racional, ainda são muitas as vezes em que me pergunto como vim aqui parar e o que faço aqui, mas tendo em conta que a minha vontade pessoal se encontra plenamente ao Serviço da Vontade Divina, o meu Coração sabe que de nada serve resistir, pois nada faria sentido de qualquer outra maneira, neste momento presente. Aquele que encontrou o caminho, que o percorreu, que o integrou até se fundir e se tornar UM com ele, compreende que ele não lhe pertence… Assim como não lhe pertence a responsabilidade da escolha de cada um para percorrê-lo e a única coisa que se pode fazer é indicar a direcção…
“Para o aspirante ao yoga integral, por mais intensa e bela que seja, a sua realização pessoal isolada não pode ser o seu único objetivo nem a sua experiência completa. Deve chegar um momento em que o pessoal se abre ao universal e nele penetra; a nossa própria individualidade — espiritual, mental, vital e até física — deve universalizar-se: vemos que ela é um poder da Sua força universal e do Seu espírito cósmico, ou que contém o universo nessa imensidão inefável que se revela à consciência individual quando ela rompe os seus laços e se expande, para cima, em direção ao Transcendente, e para todos os lados, no Infinito.”
Sri Aurobindo

É verdade que a transmissão integral e sincera dos ensinamentos do Yoga, dentro ou fora do tapete, não pode senão ser feita a partir de um Coração puro e plenamente aberto, a partir de um Conhecimento integrado pela nossa própria experiência e prática pessoal, mas a sua recepção, para que possa ser efectuada sem manipulações do ego ou influências de forças negativas, também precisa encontrar um Coração cuja intenção seja igualmente pura, mesmo que não esteja ainda plenamente aberto, mesmo que se encontre ainda encolhido ou escondido, por detrás de uma armadura construída ao longo de múltiplas encarnações, como mecanismo de defesa à dor e ao sofrimento. Os ensinamentos do Yoga destinam-se a Corações fortes e corajosos, dispostos a baixar as armas e retirar as armaduras, para poder acolher apenas o que ressoa, com Amor, Compaixão, Humildade e Perdão e deixar de parte tudo o resto, sem apegos, expectativas ou julgamentos. Corações dispostos a assumir a sua responsabilidade pessoal para evoluir espiritualmente e alcançar a maturidade tão desejada, mas sempre ao seu próprio ritmo e de acordo com as ferramentas que têm à sua disposição. Fazendo o melhor que se pode, sempre. Nem mais, nem menos, o melhor que podemos, com as ferramentas que temos e a intenção sincera de continuar a descobrir novas ferramentas, mais adaptadas a cada nova estação de identidade alcançada… Porque independentemente do patamar de consciência em que nos encontramos, independentemente do papel que assumimos, enquanto alunos, praticantes ou professores, a necessidade de purificar o nosso corpo, a nossa mente e o nosso Coração, para poder sentir, acolher e encarnar a Sabedoria Divina, mais tarde ou mais cedo, torna-se inevitável!
Quanto mais conscientes nos tornamos, maior a compreensão da nossa responsabilidade pessoal por todos os nossos pensamentos, as nossas intenções, as nossas palavras, as nossas acções, a nossa energia e a forma como a deixamos dispersar-se ou escolhemos manifestá-la no mundo, de forma mais grosseira ou mais subtil, de forma mais ou menos consciente, de forma mais ou menos matura, assim como de todas as inevitáveis consequências e impacto que temos no mundo e nos outros à nossa volta. Esta consciência e esta responsabilidade podem inicialmente parecer-nos assustadoras e deixar-nos assoberbados, mas quando nos dedicamos a fazer um trabalho sincero sobre nós mesmos, sem medo de olhar para todas as nossas partes de sombra, este processo de purificação e de abertura do Coração, torna-se extremamente libertador e traz-nos a possibilidade de nos colocarmos plenamente ao Serviço da Vontade Divina, sem interferências, nem desvios. A nossa Intenção, o nosso Consentimento e a nossa Autoridade têm de ser claros, constantemente avaliados e corrigidos sempre que necessário. Existem outras opções e temos de ter bem claro que esta é a que realmente queremos para nós.
“O Divino opera através da nossa natureza e em harmonia com ela; e se a nossa natureza é imperfeita, a obra também será imperfeita, confusa, inadequada. Pode até ser desfigurada por erros grosseiros, falsidades, fraquezas morais, influências enganosas. A obra da Vontade divina realizar-se-á em nós apesar de tudo, mas de acordo com a nossa fraqueza, não de acordo com a força e a pureza da sua fonte.”
Sri Aurobindo

Parece lógico que, enquanto estamos dedicados a construir força e flexibilidade, o nosso corpo físico possa ficar dorido. Compreendemos que há que retirar todas as tensões, a rigidez, a programação e os condicionamentos de uma vida inteira de hábitos mais ou menos saudáveis, mais ou menos compatíveis com o que lhe estamos a pedir agora. Mesmo se sabemos que esta etapa não dura para sempre, às vezes avançamos motivados e quase sem esforço, concentrados e focados no objectivo, aproveitando e desfrutando a “viagem”, outras vezes fugimos ao desconforto, à dor ou simplesmente à possibilidade da sua existência, sofrendo por antecipação, criando tensões e alimentando o espírito do medo, de cada vez que surge algo pouco familiar, novo, desconhecido. Às vezes não é tão pouco familiar, nem tão novo, nem tão desconhecido quanto isso, mas face ao desconforto, enraizados no medo, angustiados com a possibilidade que possa durar para sempre, esquecemos que tudo passa e deixamos o ego tomar as rédeas do nosso veículo grosseiro e subtil e encontrar justificações para removê-lo do trilho, para voltar mais tarde ou não voltar de todo. Mas aquilo que nos está destinado, aquilo que a nossa Alma quer que vejamos e experimentemos, para que possamos criar espaço para que possa descer e instalar-se de forma plena e consciente no nosso corpo físico (muito espaço ocupa o ego, deixando pouco espaço disponível para algo mais…), não desaparece quando nos desviamos do caminho, quando saímos dos carris. Aquilo que é nosso é da nossa responsabilidade e, agora ou mais tarde, é algo com que teremos de lidar. Como repete o Peter Sanson, uma e outra vez, incansavelmente : “Se não olharmos para os nossos problemas, quem o fará?”.
Parece tão lógico e, no entanto, somos especialistas a resistir a essa lógica, a esse simples bom senso… E mais ainda, quando se trata dos nossos corpos subtis, do corpo energético, do corpo mental, do corpo emocional, do corpo espiritual, da nossa Consciência, do nosso Coração… Porque não é diferente para nenhum dos corpos subtis…
Como poderia um Coração (हृदय hṛdaya) abrir-se sem esforço ou sem dor, disposto a acolher plenamente e sem condições, os ensinamentos destinados a libertá-lo de forma definitiva e permanente do sofrimento (दुःख duḥkha) inerente à condição humana, por causa da dor, da doença, do envelhecimento ou da morte, depois de tantas vidas condicionado pela ilusão (माया māyā), pela ignorância (अविद्या avidyā), pelo ego (अस्मिता asmitā), pelo apego (राग rāga), pela aversão (द्वेष dveṣa), pelo medo (अभिनिवेश abhiniveśa)? Como podemos pensar ou esperar que tudo isto possa acontecer de um dia para o outro? E como podemos pensar ou esperar que isto possa acontecer sem que coloquemos a intenção de colocar ao serviço deste processo de Libertação da nossa Alma, da nossa Consciência, de todo o nosso SER, todas as ferramentas que temos disponíveis e todas aquelas que o Divino coloca constantemente à nossa disposição, se estivermos dispostos a acolhê-las? E acima de tudo, como podemos permitir-nos a arrogância de nos julgarmos a nós mesmos ou de julgar os outros, sabendo o quão difícil é, para cada um de nós? A Verdade não precisa de competir com julgamentos, nem tão pouco com indulgências ou complacências excessivas. Nada impede a Verdade de ser firme e gentil ao mesmo tempo e nada nos impede de a reconhecer, assumir, exprimir e encarnar plenamente dentro de nós, através do mundo exterior, mas de dentro para fora, que não existe outro caminho para que se manifeste…
“Estou demasiado consciente das imperfeições da espécie à qual pertenço, para me irritar com qualquer membro dela. O meu remédio é lidar com o erro sempre que o vejo, não prejudicar quem o comete; assim como não gostaria de ser prejudicado pelos erros que continuamente cometo.”
M.K. Gandhi
Os bons professores de Yoga são geralmente repetitivos. Extremamente repetitivos… Tão repetitivos que por vezes até eles próprios se cansam de ouvir as suas próprias palavras, de repetir os mesmos gestos (imaginem os alunos, principalmente os alunos de longa data, sempre a ouvir a mesma lenga-lenga1)… Para além disso, muitos desses professores, desenvolveram sequências de prática de āsana (आसन - postura) que são igualmente repetitivas, como é o caso do Aṣṭāṅga Vinyāsa Yoga. Tudo parece sempre igual. E, no entanto, tudo é sempre tão diferente!
As palavras, os āsana ou as sequências não nos pertencem. Há milénios que são transmitidas de professor a aluno, de geração em geração, vão tocando, ressoando e abrindo Corações, vão sendo acolhidas e compreendidas por quem as pratica com com sinceridade, devoção, disciplina e Humildade e vão ganhando uma tonalidade característica da Frequência de quem as integra plenamente e as faz suas quando se tornam o reflexo da sua Verdadeira Essência e Natureza Divina. O corpo mental nunca poderá compreender ou transmitir este processo de Libertação. O corpo mental é limitado, é apenas um fragmento de um todo e assim é também a sua compreensão e transmissão.
Por vezes, sou ainda surpreendida pela forma como certos ensinamentos espirituais, recebidos há mais de duas décadas, repetidos uma e outra vez pelos meus professores, ou lidos uma e outra vez nos mais variados textos sagrados do Yoga, finalmente se revelam além do corpo mental, finalmente decantados, finalmente emergindo delicadamente de dentro para fora, no centro do Coração, envolvidos pela Luz Divina que aí habita, como se fosse a primeira vez que os vejo, os escuto, os leio, os sinto ressoar em cada uma das minhas células, revelando-se finalmente como uma parte integrante de Quem Sou. Não estamos a aprender, mas sim a relembrar!
E mesmo se agora, a grande maioria das vezes, já é pelo Amor, pela delicadeza, pela Compaixão e pelo Perdão que se manifestam estas tomadas de consciência, assim como pela aceitação da complexidade e do tempo necessário para que este processo de libertação de tudo o que nos impede de reconhecer a Verdade, possa acontecer sem interferências, sem equívocos e de dentro para fora, já houve um tempo em que todo o meu ser se contraía e sofria com a desilusão, este remover dos véus da ilusão, ao constatar que aquilo que pensava que já tinha sido compreendido e integrado em todos os planos, afinal estava ainda insidiosamente enraizado na ignorância, no ego, no apego, na aversão ou no medo e eu, perdida na esfera mental ou no ego espiritual, não tinha “visto”… Ou pior ainda, tinha-me dado conta, mas não tinha tido coragem e humildade suficiente para reconhecer o erro, para corrigi-lo ou recomeçar de novo e tinha escolhido o caminho da negação, do orgulho, da arrogância… Dentro ou fora do tapete, na Vida, como no Yoga, que já se sabe que não são coisas diferentes…
Por isso, na Vida, como no Yoga, muitas foram as vezes em que mergulhei nas profundezas das minhas sombras, vestida com o escafandro do perfeccionismo, da arrogância, da vergonha ou de culpa, e a sensação de não estar à altura do que sentia que devia ser, fazer, realizar, como uma impostora, uma fraude, sem saber se ou quando regressaria à superfície…
Levei muito tempo até compreender e realizar que, se a âncora que me levava ao fundo era a ignorância e a corrente que me ligava a ela era o ego, o apego e a repulsa não eram mais do que uma jangada furada que mal me mantinha à superfície e que nem sequer fazia sentido que tivesse âncora… Mas o pior de tudo, o pior sempre foi o medo. Esse medo paralisante que vai além de todo o bom senso, esse medo da morte a que chamamos abhiniveśa (अभिनिवेश) e que é das causas de aflição do ser humano a mais grosseira e mais visível, afinal não era mais do que uma manifestação palpável da morte do ego (ou pelo menos de um fragmento do ego, que o ego é uma estrutura particularmente complexa e muito, muito difícil de desconstruir!) e a inevitável activação de todos os seus mecanismos de defesa, necessários para assegurar a sua sobrevivência, como uma fera ferida e encurralada que se debate com todas as suas forças, mesmo sabendo que está condenada… Mas como o ego e a Alma não podem coabitar no mesmo veículo indefinidamente, mais tarde ou mais cedo, é preciso escolher qual o caminho a seguir, declarar a sua intenção, o seu consentimento e a sua Autoridade e, em seguida, agir em conformidade, se queremos realmente ver emergir a nossa Verdadeira Essência Divina. O processo é complexo, mas a escolha é simples.
O medo fazia-me esquecer que sabia flutuar, que sabia nadar e, acima de tudo, fazia-me esquecer o mais importante! É que nesta viagem iniciática que é a tradição do Yoga, por muito solitário que possa parecer ou mesmo ser o caminho, nunca estamos realmente sós! Nunca estamos sós! Fazemos o melhor que podemos, inspirados por todos aqueles que caminharam diante de nós, acompanhados por todos aqueles que caminham ao nosso lado e abrindo caminho para os que virão depois de nós. Mas acima de tudo, avançamos com Deus dentro do nosso Coração (हृदय hṛdaya). E quem avança com Deus dentro do seu Coração, com Fé e Amor, NUNCA está só.
“Ser profundamente amados por alguém dá-nos força, ao passo que amar alguém profundamente dá-nos coragem.”
M.K. Gandhi

Sempre que temos a Coragem de olhar directamente para as sombras que temos dentro de nós, é importante não esquecer que elas só se manifestam na presença da Luz. Não importa quanto tempo ou quantas vidas são necessárias para que a Sabedoria dos ensinamentos do Yoga ou da própria Vida se manifeste dentro de nós, plenamente integrada em cada um dos nossos corpos, em cada uma das células e dos átomos que constituem o nosso Ser, tornando-se o nosso único Guia Espiritual… Mas enquanto esperamos, que possamos, com Paciência, Resiliência, Coragem, Gratidão e Humildade, aceitar o momento presente, com todas as suas benesses e os seus desafios, sem resistências, sem imposições, sem julgamentos, sem culpa, sem vergonha ou perfeccionismo. Que cada um de nós possa encontrar o caminho mais seguro para cultivar o discernimento, a equanimidade e a neutralidade, porque no final, tanto para o bom, como para o menos bom, dentro ou fora do tapete, que já se sabe que o Yoga não é diferente da Vida, o Tempo Divino não pode senão manifestar-se no momento presente e a Vontade Divina, tal como o elemento água encontrará sempre um caminho para chegar ao seu destino e realizar a sua função… Se não o encontrar, simplesmente cria-o…
“A diminuição, a divisão, a degradação, que criam aqui em baixo a sensação de um enigma insatisfatório, de um mistério de Māyā, dissipam-se e caem por si mesmas durante a nossa ascensão; os Poderes divinos assumem as suas formas reais e aparecem cada vez mais como os termos de uma Verdade que está em vias de realização aqui em baixo. Uma alma do Divino já está aqui, despertando lentamente da sua involução e saindo da Inconsciência material onde estava escondida.”
Sri Aurobindo
Palavras de Água
Fechei-me dentro dos muros
onde o meu corpo não cabia
contente de ser prisioneira
do cárcere que eu transcendia.
E fui no vento que tudo
tudo o que havia varria,
contente de ser mais veloz
que o vento que me impelia.
Fiquei suspensa dos ramos
que os meus cabelos prendiam
contente de ser o destino
da árvore em que me fundia.
E dei-me como leito às águas
dos sonhos que me transcorriam
contente de ser o curso
da água em que me esvaía.
Como sempre, deixo-vos a minha mais profunda e sincera GRATIDÃO pela vossa leitura e atenção e peço-vos que, como de costume, acolham apenas o que ressoa convosco e coloquem de parte tudo o resto, já que tudo o que partilho convosco é apenas o fruto dos meus próprios questionamentos, experiências de vida, compreensões e integrações alcançadas através dos ensinamentos do Yoga, da minha própria prática espiritual, do meu sādhana (साधन), com o apoio incondicional das minhas Equipas Divinas. Com todo o meu AMOR e REVERÊNCIA, desejo-vos coragem, bons questionamentos e boas práticas… Dentro e fora do tapete! Para que um dia, possamos ver no mundo, a mudança que ocorre em nós através do Yoga!
Namaste
✨ 💜 🙏 💜 ✨
Rita
ॐ
ॐ लोकाः समस्ताः सुखिनो भवन्तु
ॐ शान्तिः शान्तिः शान्तिः॥
Oṁ lokā samastā sukhino bhavantu
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ
Oṁ
Que todos os seres, em todos os lugares, sejam felizes.
Que haja Paz, Paz, Paz.
ॐ
🍃🪷🧘♀️💜🧘♂️🪷🍃


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