Setembro 2025
- Rita

- 27 de ago.
- 23 min de leitura
Atualizado: 29 de ago.
“Pode ser que, num determinado momento, o aspirante [साधक sādhaka] precise de se recolher sobre si mesmo, permanecer imerso no seu ser interior e afastar-se do barulho e da agitação da vida da Ignorância, até que ocorra uma certa mudança interior ou que uma nova base encontre estabilidade. De outra forma, sem este recolhimento, pode tornar-se difícil ou mesmo impossível continuar a agir de forma eficaz na vida. Mas isso não pode acontecer senão por um período, um episódio, uma necessidade temporária ou uma manobra espiritual preparatória; não pode ser a regra do yoga nem o seu princípio.”
Sri Aurobindo
Queridos alunos e amigos ✨,
Em SETEMBRO, regressamos ao horário habitual, novamente com aulas às segundas, terças e quintas-feiras. De MANHÃ, entre as 6h30 e as 8h30. À TARDE, entre as 17h30 e as 19h30.
🍃🪷 ॐ 🪷🍃

🍃🪷 ॐ 🪷🍃
Também em SETEMBRO, na 4ª quarta-feira do mês, entre as 17h30 e as 19h00, continuamos a explorar diferentes temas espirituais. Como tem sido o caso desde o início do ano, este encontro mensal é gratuito e está aberto a todos os interessados, mas requer uma inscrição prévia por parte de quem não frequenta regularmente o Shala🪷🍃, de forma a que seja possível aceder ao espaço (a menos que estejam acompanhados pelos alunos do Shala🪷🍃, que já têm o seu código pessoal).
QUARTA-FEIRA, 24/09
- das 17h30 às 19h00 -
🪷 Satsaṅga 🪷
“A Prática ao Serviço da Vida
ou
a Vida ao Serviço da Prática?”
Fazer uma distinção entre a nossa prática espiritual e a nossa vida, é a mesma coisa que fazer uma distinção entre o mundo interior e o mundo exterior, entre o micro e o macro. Mas será que tudo aquilo que vivemos interiormente e individualmente não vai, inevitavelmente, mais tarde ou mais cedo, manifestar-se também exteriormente e colectivamente? E será que tudo aquilo que vivenciamos no exterior e, sobretudo, a forma como o vivemos, de forma mais ou menos consciente, não vai igualmente impactar a nossa prática espiritual, seja dentro ou fora do tapete? Nesta altura do ano, em que as férias rapidamente começam a parecer uma memória distante e em que o stress do trabalho regressa como se nunca tivesse partido, vamos reflectir sobre a forma como acolhemos a Vida sobre o tapete (mas também na nossa meditação e em todas as outras facetas da nossa prática espiritual!) e como/se permitimos que a prática se manifeste no quotidiano. Estamos a ser autênticos e consistentes no nosso propósito? Estamos ao serviço do ego ou da Alma? Estamos a fazer um mínimo, a fazer o suficiente, a fazer demais ou simplesmente a deixar que tudo aconteça naturalmente? E afinal, será que é preciso fazer um esforço para colocar a Prática ao Serviço da Vida e a Vida ao Serviço da Prática (se é que são coisas diferentes…), ou será que basta esperar que isso aconteça sozinho, dentro do Tempo Divino?
E depois? O que acontece depois, quando Prática se coloca plenamente ao Serviço da Vida e a Vida também se coloca ao Serviço da Prática (se é que isso é possível…)? Durante o nosso encontro, vamos reflectir juntos sobre todas estas questões, não hesitem em trazer as vossas próprias opiniões e questionamentos!
“A nossa vida aparente e as acções dessa vida não são mais do que uma série de expressões significativas, mas o que a vida verdadeiramente tenta expressar não se encontra na superfície; a nossa existência é algo muito mais vasto do que esse ser frontal aparente que assumimos como sendo nós mesmos e que oferecemos ao mundo à nossa volta.”
Sri Aurobindo
🍃🪷 ॐ 🪷🍃
Aproveito igualmente para informar que o Padma Yoga Shala🪷🍃 estará
- ENCERRADO de 6 a 17 de OUTUBRO -
🍃🪷 ॐ 🪷🍃
Como sempre, acolham apenas o que ressoa para vós dentro do vosso Coração e lembrem-se que são sempre livres de ficar ou de partir, dependendo da forma como se sentem, ou não, em alinhamento com o que ensino, a forma como ensino ou com a própria energia do Shala🪷🍃.
“Quando o aluno está pronto, o professor aparece. Quando o aluno está realmente pronto, o professor desaparece.”
Lao Tzu
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“Seja através do conhecimento, das acções, do amor ou de qualquer outro meio, o que importa é tomar consciência da verdade do nosso ser, realizá-la e torná-la activa e funcional, aqui ou em qualquer outro lugar, e esse é o objectivo do yoga.”
Sri Aurobindo
Estamos a chegar a Setembro, mês que assinala, para a maioria, o fim das férias e o regresso ao trabalho e à rotina do quotidiano e, ano após ano, repete-se o mesmo padrão de comportamento no colectivo, a mesma agitação interior e exterior que, de uma maneira ou de outra, acaba sempre por ter um impacto na nossa prática de Yoga. Para muitos, que durante o mês de Julho e Agosto, com a chegada do Verão, do calor e das férias, escolheram transformar consideravelmente a sua rotina e deixar de lado a prática de Yoga em geral e a prática de āsana (आसन - postura) em particular, esse impacto já começou a fazer-se sentir e começa a planear-se o regresso à prática ou ao Shala🪷🍃.
Com o passar dos anos e depois de afirmar vezes sem conta que “o Yoga não tira férias”, vou constatando que, cada vez mais, há quem compreenda a amplitude e a importância desta afirmação, relativa não só à prática do Yoga na sua globalidade, mas também ao cuidado do nosso corpo físico enquanto ferramenta espiritual, em todos os momentos, situações e circunstâncias, incluindo durante os períodos de férias. Na realidade, toda e qualquer separação entre o cuidado do corpo físico e do corpo espiritual constituirá, mais tarde ou mais cedo, um obstáculo a ultrapassar, tendo em conta que o corpo é o veículo da Alma, o recipiente capaz de acolher a nossa Consciência Superior e nenhum deles pode existir de forma orgânica, nesta dimensão, sem o outro… Não é por acaso que nos encarnámos, aqui e agora…
Talvez pela compreensão desta causalidade, ou simplesmente porque eu sou uma chata que nunca se cala com esta coisa de que “o Yoga não tira férias”, cada vez mais, muitos de vós escolhem manter a regularidade da prática de āsana (dentro ou fora do Shala🪷🍃, que o onde nunca é o mais importante!), apesar das alterações das vossas rotinas durante o Verão. E isto é sempre algo que me deixa bastante grata, mas acima de tudo, muito feliz, pois reconheço nessa intenção, o início de uma transformação espiritual profunda e autêntica, que abre o caminho à manifestação da Consciência no momento presente, o único espaço/tempo onde a influência dos kleśa (क्लेश - causas de sofrimento) desaparece ou, pelo menos, diminui consideravelmente.
“O corpo é a chave, o corpo contém o duplo segredo da escravidão e da libertação; da fraqueza animal e do poder divino; do obscurecimento da mente e da alma, e da sua iluminação; da submissão à dor e às limitações, e do domínio de si mesmo; da morte e da imortalidade.”
Sri Aurobindo

No entanto, durante o Verão, a época do calor e das férias, ainda são muitos os praticantes de yoga que escolhem, pelas mais diversas razões, colocar a sua prática em pausa (e não só no Padma Yoga Shala🪷🍃, o fenómeno é comum à maioria dos espaços de yoga e, muito provavelmente outros espaços ligados à espiritualidade, mas também à atividade física!) e, inevitavelmente, o mês de Setembro vem desencadear uma espécie de frenesim na comunidade do Yoga, quer por parte dos praticantes, que regressam das férias cheios de novas resoluções e prioridades para viver uma vida mais saudável, mais plena, mais consciente (o mesmo acontece novamente em Janeiro, com o início do novo calendário civil, mas até quando se mantém a motivação?…), quer por parte dos curiosos, que escolhem esta altura do ano para procurar novas actividades para experimentar, quer por parte dos professores, que de uma forma ou de outra tentam motivar os alunos desaparecidos ou “recrutar” novos alunos (algo que não faz sentido nenhum para mim!) e aproveitar para relembrar a importância da constância e da regularidade na prática, reforçando a ideia de que não há um melhor momento para começar ou recomeçar a prática de āsana (आसन - postura) ou de yoga, que o momento presente.
E assim se recomeça mais um ciclo perpetuado pela consciência colectiva (no qual eu própria fui participando, à minha maneira, ao longo dos anos, de forma mais ou menos consciente), que sinto que acaba por vulgarizar e banalizar este constante “pára/arranca” da prática espiritual (seja através da prática de āsana, outro membro do Yoga, ou qualquer outra forma de espiritualidade). No entanto, neste momento e a partir do patamar de consciência em que me encontro actualmente, sinto uma profunda necessidade de me afastar de forma definitiva e permanente dele, seja enquanto praticante, enquanto discípula ou enquanto professora.
Adaptar a intensidade, a duração ou os horários da nossa prática durante o Verão ou as férias, de forma a ter mais disponibilidade para outras actividades estivais, dormir até mais tarde, sobreviver aos dias de calor intenso ou simplesmente descansar mais, faz-me todo o sentido. No entanto, colocar a prática em pausa, empurrando-a para o fim da lista das prioridades, é algo que nunca recomendo nem valido, é algo que não ressoa de todo dentro do meu Coração e que sinto mesmo como uma distorção da verdadeira essência do Yoga, e uma espécie de armadilha trabalhando a favor do ego espiritual e desviando quem se deixa envolver por ela do seu Verdadeiro Caminho Orgânico.
“Todas as formas de actividade da vida que se revelarem incapazes de suportar a mudança deverão desaparecer; todas aquelas que forem capazes de suportá-la, sobreviverão e entrarão no Reino do Espírito.”
Sri Aurobindo

Por experiência pessoal, ao longo dos anos, pude constatar que as ausências prolongadas da prática (excepto quando são absolutamente necessárias, por questões de saúde ou de viagem, por exemplo), raramente são benéficas para o praticante, seja a curto, médio ou longo prazo… Quem interrompe a prática com regularidade, tem mais tendência a desistir ao longo do caminho ou a fragmentar a prática de modo a que se adapte à sua zona de conforto, destituindo-a da sua parte de esforço, da sua parte de desapego ou da sua componente espiritual, castrando-a do seu objectivo final, que é a União com o Divino (योग yoga) e a consequente Libertação do sofrimento e do ciclo de reencarnações (मोक्ष mokṣa). Quanto maior o tempo de pausa na prática, maior a probabilidade de não regressar a ela, maior a possibilidade de a corromper, de a fragmentar. Há excepções, claro… Mas não fazem mais que confirmar a regra… E como já se sabe, o Yoga não é diferente da Vida…
“A persistência garante que os resultados sejam inevitáveis.”
Paramahansa Yogananda

Reconheço, é claro, que cada um de nós (praticantes, discípulos e professores), está a fazer o melhor que pode, com as ferramentas que tem e é da inteira responsabilidade de cada um, escolher o que é melhor para si, em cada instante, à medida que vai avançando no seu caminho espiritual, acolhendo apenas aquilo que ressoa no seu Coração e deixando de parte tudo o resto. Por isso, não emito qualquer julgamento sobre as escolhas que fazem os outros, nem interfiro com o seu livre-arbítrio. Mas acordo-me o direito de exprimir livremente a verdade que ressoa em cada uma das minhas células, no mais profundo do meu ser, fruto da minha experiência pessoal ao longo dos anos, enquanto praticante, enquanto discípula, entanto professora. E o fruto dessa experiência é que a procura de Deus dentro do nosso Coração, a procura da nossa Verdadeira Essência Divina, da União (योग yoga) entre o corpo, a respiração e a mente, através de uma prática espiritual (seja ela qual for!) que permitirá a manifestação da Consciência Superior de cada um de nós neste plano de existência, será muito mais atribulada e sujeita a obstáculos e entraves, se for considerada uma actividade “extra-curricular” ou “sazonal”, algo que se pára quando não corresponde às nossas expectativas, algo que se retoma quando o desconforto de não praticar se torna novamente maior que o desconforto da prática.
Adaptar sim, sempre que necessário! Mesmo quando a nossa mente resiste a esses ajustes. Até porque a nossa Alma encontra sempre um caminho mais propício às necessidades do momento, para que possamos continuar a avançar em toda e qualquer circunstância, e é importante aprender a escutar o seu sussurro!
Já o nosso ego, gosta de compartimentar, fragmentar, planificar, criar expectativas e, acima de tudo, marcar datas, sendo a sua preferida o dia de “amanhã” (mas também pode ser para a semana, para o próximo mês, para o ano, no dia de São Nunca à tarde ou, ao contrário, para ontem ou já de seguida, criando um sentimento de urgência que nada tem de orgânico ou divino…)! E o que dizer do ego espiritual, que arranjará mil e uma justificações para validar a procura de Deus, às terças e quintas-feiras, em cima do tapete entre as 6h30 às 7h30, para encher o “reservatório espiritual” para o resto da semana, que depois não há tempo nem necessidade para mais… E o ego fala bem mais alto que a Alma, não é preciso qualquer esforço para ouvir o que tem para dizer!
“Uma Força divina está em ação e escolherá a cada momento o que deve ser feito e o que não deve ser feito, o que deve ser integrado momentaneamente ou de forma permanente, o que deve ser abandonado momentaneamente ou definitivamente. Pois, desde que não substituamos essa força pelo nosso desejo ou pelo ego — e é por isso que a nossa alma deve estar sempre desperta, sempre em guarda, consciente da direção divina e resistindo a qualquer engano não divino, interno ou externo —, essa Força é suficiente e a única qualificada, e ela levar-nos-á ao objectivo por caminhos e meios demasiado vastos, demasiado interiores, demasiado complexos para que a mente possa segui-los, e muito menos ditá-los. É um caminho árduo, difícil, perigoso, mas não há outro.”
Sri Aurobindo

Por todas estas razões, este ano escolho extrair-me completamente deste movimento colectivo que sinto que está, conscientemente ou inconscientemente, a banalizar e mesmo a validar este “pára/arranca” da prática espiritual em geral e da prática de āsana em particular, retiro-lhe todo e qualquer consentimento da minha parte que lhe estivesse ainda eventualmente associado e declaro claramente e sem equívocos que reconheço que não serve o propósito mais elevado da minha Alma, nem enquanto praticante, nem enquanto discípula, nem enquanto professora. Uma prática espiritual (seja o Yoga ou qualquer outra!) é uma prática. E, como em toda e qualquer prática, a regularidade, a maestria, a perfeição só serão alcançadas se nos comprometermos verdadeiramente, plenamente, completamente com ela, dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano.
Podemos fazer mais ou menos? Claro que sim! Cada um é livre de escolher o quanto de si entrega, na procura do Divino dentro do seu Coração. Não há qualquer julgamento nas minhas palavras, nem sequer uma vontade de convencer os outros a agir de acordo com a minha voz interior, que não é válida senão para mim e apenas para mim. Cada um agirá em acordo com a sua consciência, sabendo que o que entrega ao Divino, recebe do Divino, dentro da mais perfeita Ordem Cósmica (धर्म Dharma). Nem mais, nem menos. Tudo o resto, não são mais que ilusões criadas pelo ego espiritual, para nos manter prisioneiros das suas limitações…
À medida que vamos quebrando e ultrapassando essas limitações, com humildade, paciência, compaixão, sem julgamentos e plenamente conscientes de que este é apenas mais um passo específico do nosso percurso espiritual, uma consequência inevitável de todos os passos dados anteriormente, de todas as escolhas e decisões que nos trouxeram até aqui, agora, neste momento presente, construindo etapa por etapa cada novo patamar de maturidade espiritual, não há forma de voltar para trás. Não faz sequer sentido voltar para trás. O caminho que vamos abrindo, que vamos pavimentando, único e pessoal, construído da melhor forma que podemos e conseguimos, com as ferramentas que temos disponíveis e que vamos adquirindo ao longo do percurso, sem que exista um certo ou um errado, não é mais que um infinito campo de possibilidades capaz de nos levar de regresso a casa, no mundo de Deus, se assim o desejarmos sinceramente. Nós, e apenas nós, saberemos como explorar esse campo de possibilidades, dia após dia, através dos nossos pensamentos, das nossas intenções, das nossas palavras e das nossas acções. Para isso nos encarnámos. Para isso tivemos o privilégio de ter um corpo físico, de sermos humanos. Que possamos reconhecer esse privilégio, acolhê-lo plenamente e usá-lo para libertar a nossa Alma de todo e qualquer sentimento de separação. Somos seres Divinos. Somos seres Ilimitados. Somos UM. Que possamos relembrá-lo sempre, enquanto vamos fazendo as nossas escolhas, para que sejam feitas com maturidade e em Consciência.
“Uma personalidade madura… é capaz de escolher o seu próprio caminho e, de forma autoconfiante, permanece fiel à sua própria lei interior. Especialmente em tempos de neurose colectiva, a existência deste tipo de pessoas maduras é de importância crucial.”
Marie-Louise von Franz

Se o Yoga não tira férias (o que para mim, é um facto que se aplica igualmente a qualquer outra forma de espiritualidade, mesmo que para vós, possa ser apenas a minha opinião, que merece o valor que lhe queiram acordar…), isto não significa que nunca precisamos de momentos de pausa, de momentos de menor intensidade ou de momentos em que a prática de āsana (आसन - postura) ou de qualquer outro dos oito membros do Yoga (aṣṭāṅgayoga) se transforma profundamente para se adaptar às nossas necessidades, que estão permanentemente em constante transformação (quem já praticou cansado, lesionado, doente, grávida, etc., sabe bem do que falo!).
A nossa prática espiritual enquanto seres multidimensionais e parte integrante do Dharma (धर्म - Ordem Cósmica) deveria sempre, em todas as situações e circunstâncias, com discernimento, ser adaptada às nossas condições pessoais e espirituais (e se o fizéssemos em consciência, será que precisaríamos de tirar “férias”?). Se, por momentos, a prática exige de nós muita intensidade, fogo e calor, para trazer à superfície tudo aquilo que precisa ser visto, reconhecido, curado, purificado e transmutado, noutras alturas, exige momentos de pausa, de recolhimento, de interiorização e de acalmia, para que possa haver uma estabilização e enraizamento do trabalho pessoal realizado sobre as nossas feridas, sobre as nossas partes de sombra, sobre o reconhecimento e a libertação da influência dos kleśa (क्लेश - causas de sofrimento) sobre cada um dos nossos cinco envelopes ou recipientes da Alma (कोश kośa - annamayakośa, o envelope material; prāṇamayakośa, o envelope dos sopros vitais; manomayakośa, o envelope do pensamento; vijñānamayakośa, o envelope do discernimento; e finalmente, ānandamayakośa, o envelope espiritual), ou seja, o corpo físico, o corpo energético, o corpo mental, o corpo emocional e o corpo espiritual. Por vezes precisamos simplesmente parar ou diminuir consideravelmente a intensidade da nossa prática, para que o trabalho realizado até então possa, em segurança, criar e estabelecer fundações firmes, capazes de sustentar de forma estável os próximos degraus e patamares da nossa evolução espiritual.
No entanto, esses momentos raramente podem ser previstos com antecedência ou estão naturalmente sincronizados com o Verão, o calor ou as férias… Na realidade, quando surgem de forma orgânica e espontânea, em vez de serem programados pelo corpo mental, manifestam-se frequentemente quando nos é menos “conveniente”, durante a transição entre diferentes patamares de consciência, quando a desconstrução e desmantelamento do ego personalidade ou do ego espiritual se torna mais intensa e difícil, e são sempre sussurrados ao nosso ouvido pela nossa voz interior, brotando de dentro do nosso Coração, com clareza e compreensão, uma sensação de paz interior, de gratidão, diria mesmo de alegria e também de plena e perfeita aceitação daquilo que é (mesmo quando tudo é extremamente difícil e intenso, mesmo quando temos de fazer mudanças importantes ou radicais na nossa forma de viver, mesmo quando as pessoas que nos são próximas ou que nos rodeiam não conseguem compreender o que está a acontecer connosco, etc.…) e, quando nos autorizamos a escutar e permitimos que aconteçam, eles criam ao redor de cada um dos nossos corpos uma espécie de bolha propícia à solitude, mas também ao auto-cuidado, à auto-estima, à auto-compaixão e ao amor-próprio e, inevitavelmente, à transformação dos limites saudáveis dos quais depende não só a nossa sobrevivência, mas também o nosso bem-estar.
Se e quando deixamos que aconteçam, todo o nosso Ser se enraíza no momento presente e mais naturalmente sentiremos a Ajuda e o Apoio Divinos que nos são constantemente enviados (mas muitas vezes escolhemos ignorar…), para que não nos desviemos do nosso Caminho Orgânico, para que continuemos a avançar em alinhamento com as Leis Universais, com o Dharma, com o nosso svadharma e com a Vontade Divina.
Se e quando os ignoramos ou lhes resistimos, inevitavelmente reforçamos o poder do ego (अस्मिता asmitā), dando-lhe carta branca para que tome as rédeas do nosso destino, para que intensifique a influência dos kleśa (क्लेश - causas de sofrimento) que dele derivam, como o medo (अभिनिवेश abhiniveśa), o apego (राग rāga) e a repulsa (द्वेष dveṣa) e para que reforce a ignorância (अविद्या avidyā) que lhes dá origem. A partir desse instante, torna-se muito mais difícil mantermo-nos no momento presente e, constantemente, somos empurrados para as memórias do passado ou para as expectativas e a ansiedade do futuro, novamente prisioneiros da ilusão (माया māyā) e do sofrimento (दुःख duḥkha), novamente afastados e desligados da nossa Verdadeira Essência Divina…
“Todos os pontos de vista e todas as regras de acção humana que ignoram a totalidade indivisível do movimento cósmico são, à luz da Verdade espiritual, sinal de uma visão imperfeita e uma lei da Ignorância, independentemente da sua utilidade prática exterior.”
Sri Aurobindo

Assim, a verdadeira questão não é se podemos ou devemos ou não fazer pausas ou tirar férias da prática de āsana, do Yoga, das aulas, do Shala🪷🍃 ou da prática espiritual na sua globalidade, mas sim como e quando fazê-lo e, acima de tudo, de acordo com o quê?
Obviamente, a resposta varia de indivíduo para indivíduo.
Será de acordo com o calendário escolar? Será de acordo com o calendário civil? Será de acordo com a nossa vontade pessoal ao serviço do ego? Será que podemos ou devemos verdadeiramente programar estes momentos de pausa na prática? Ou será que só beneficiaremos verdadeiramente destas pausas e dos períodos de intermitência quando se manifestam de acordo com a Vontade Divina, ao Serviço da Expressão Mais Elevada da nossa Alma? Será que lhes podemos chamar “férias” ou “pausas”, se estiverem em alinhamento com a nossa voz interior, com o apelo da nossa Alma, com o nosso svadharma (dever pessoal)?
Só quando tivermos a Coragem necessária para sermos plenamente e inelutavelmente honestos connosco mesmos (tão mais difícil do que gostaríamos de admitir…), poderemos reconhecer e discernir sem qualquer sombra de dúvida ou equívoco a diferença entre o desejo do ego e o apelo da Alma e escolher em consciência aquilo que efectivamente é benéfico para nós a curto, médio e longo prazo, longe de toda e qualquer necessidade de gratificação instantânea. E isto, muitas vezes, não é inato. É preciso aperfeiçoar com o tempo e a experiência, através de inúmeras tentativas e erros, que vão desenvolvendo o nosso discernimento e Sabedoria.
“Os caminhos do espírito não são caminhos mentais; não é uma regra mental nem uma consciência mental que podem determiná-lo ou guiá-lo.”
Sri Aurobindo

Quem nunca viveu a experiência de arranjar inúmeras justificações por se sentir incapaz de sair da cama cedo para ir praticar yoga, por estar demasiado “cansado”, para depois, em situações semelhantes, ser capaz de pular da cama num ápice, para estar no aeroporto de madrugada, para uma “viagem de sonho”? Ou mesmo para ir trabalhar, porque se sente “obrigado”? Qual é a diferença?
Quem nunca viveu a experiência de chegar a casa de rastos, depois de um dia de trabalho intenso, mas ainda assim, ser capaz de ignorar esse cansaço e ficar sentado no sofá, a ver televisão até às tantas da madrugada, apenas para acordar novamente cansado no dia seguinte? Porquê?
Quem nunca viveu a experiência de não ter tempo para ler um livro de 200 páginas ou mesmo um simples artigo espiritual de 15 minutos, para depois passar uma hora ou mais nas redes sociais a consumir de forma inconsciente um amontoado de informação com pouco ou nenhum interesse pessoal, vital ou espiritual? Para quê?
Quem nunca viveu a experiência de se entregar de corpo e Alma (e muitas vezes, entregar também a sua saúde física, mental e emocional…) ao trabalho, à família ou qualquer outra instituição ou organização, como se fosse uma questão de sobrevivência, como se fosse indispensável, gastando toda a sua energia pessoal no momento presente, agarrado à ilusão de ter tempo e energia suficientes no futuro para “compensar” o tempo perdido, até se dar conta que a vida passou a correr e é impossível recuperar o tempo que já passou? Valeu a pena?
E quando tudo isso ainda acontece (porque até ao momento definitivo da Libertação [मोक्ष mokṣa], em vida ou no momento da nossa morte, haverá sempre um ou outro momento de distracção…), será que somos capazes de reconhecer o que está a acontecer e colocar a intenção de agir em consciência ou será que ainda nos deixamos levar pela ilusão (माया māyā) do momento? Será que podemos reconhecer que a disciplina e o esforço sobre si mesmo (तपस् tapas) que a prática de Yoga exige de nós, se encontra precisamente no meio desses extremos de “gratificação instantânea” e de “obrigação”, que permanentemente criam uma dissonância cognitiva entre o que realmente somos e o que fazemos?
Nesta realidade dual em que vivemos, os exemplos desta dissonância são infinitos e, se ninguém está imune a eles, também ninguém, absolutamente ninguém, além de nós mesmos, pode corrigi-la ou eliminá-la definitivamente dos nossos pensamentos, das nossas palavras, das nossas acções, de toda a nossa vida. Ninguém pode dizer-nos o que fazer ou como fazê-lo. Ninguém pode sequer inspirar-nos, se não estivermos dispostos a deixar-nos inspirar. Ninguém pode fazer-nos acreditar naquilo que não estamos dispostos a acreditar, nem a ver aquilo que não podemos, não conseguimos ou não queremos ver. Nem os nossos pais, nem os nossos professores, nem os “especialistas”, nem a sociedade em geral. Ninguém. A responsabilidade da libertação dessa dissonância e do sofrimento que nos causa (a curto, médio ou longo prazo e quer estejamos conscientes dele ou não…) é sempre nossa e apenas nossa.
A mudança é inevitável e ocorre constantemente e permanentemente em nós e à nossa volta, independentemente da nossa vontade pessoal, trazendo maiores ou menores graus de sofrimento. Mas a transformação profunda de todo nosso Ser, a mudança definitiva dos padrões de comportamento e atitudes que não servem a Expressão Mais Elevada da nossa Alma, essa terá sempre de vir de dentro para fora e acontecerá apenas quando a nossa vontade pessoal for intencionalmente e incondicionalmente colocada ao Serviço da Vontade Divina, dentro do Tempo Divino para cada um de nós. E quando assim for, o mês de Setembro (ou qualquer outro mês do ano), o fim das férias, o regresso ao trabalho, o regresso às aulas ou qualquer outro movimento da consciência colectiva não terá qualquer tipo de influência duradoura, permanente ou definitiva na nossa vida…
“Em certos momentos, um Poder divino vem à tona para dirigir e impor, ou para instruir e iluminar; noutros, ele retira-se para um segundo plano e parece abandonar-nos aos nossos próprios recursos. Surge tudo o que há de ignorante no ser, obscuro, perverso ou simplesmente imperfeito e inferior, talvez levado ao seu paroxismo, manipulado, corrigido, esgotado, obrigado a ver os seus próprios resultados desastrosos e forçado a invocar o seu próprio fim ou transformação por ser sem valor e incorrigível. Tal trabalho não pode ser realizado de forma unida e sem sobressaltos; há alternâncias de dia e noite, de iluminação e escuridão, de calma e construção ou de batalha e agitação, períodos em que cresce a presença da Consciência divina e outros em que ela parece ausente, picos de esperança e abismos de desespero; há o abraço do Bem-Amado e a angústia da sua ausência, a invasão opressiva dos Poderes hostis e as suas irresistíveis mentiras, a sua oposição feroz, as suas farsas paralisantes, e também a ajuda, o conforto, a comunhão dos deuses e dos Mensageiros divinos.”
Sri Aurobindo

Eu cresci a ouvir dizer que “para baixo, todos os santos ajudam”. Mas a minha avó, que utilizava uma versão alargada deste provérbio, afirmava que “para cima, é só um e é coxo!”.
Em miúda, esta versão, que durante anos pensei que tinha sido ela a inventar (até descobrir que muitas pessoas antigas a diziam igualmente!) fazia-me rir. Depois de adulta, começou a fazer-me reflectir. Desde que iniciei a minha busca espiritual e o caminho que me levou a Deus dentro do meu Coração (essencialmente através da prática de Yoga, mas não só!), as reflexões associadas a este provérbio e todas as suas possíveis interpretações, têm sido muito diversas e têm evoluído ao longo dos anos de prática pessoal, enquanto discípula e também de ensino.
Neste caminho de Ascensão e Libertação (मोक्ष mokṣa), o que não faltam são “santos” (será que o são verdadeiramente?) que nos puxam para baixo. Muitos! Com a intenção aparente de ajudar, de facilitar, de criar atalhos, estes “santos” que acabam muitas vezes por se revelar mais tarde como distrações, obstáculos e entraves, são, a maioria das vezes, apenas manifestações de sombras a querer fazer-se passar por Luz.
Encontramo-los fora de nós, nos nossos pais, nos nossos professores, nos nossos amigos, nas figuras de “autoridade” e “especialistas”, no próprio inconsciente colectivo. Mas encontramo-los também dentro de nós, nas nossas feridas, nos nossos traumas, nas nossas partes de sombra e, acima de tudo, no nosso ego espiritual, completamente criado e construído a partir dos miasmas provocados pela influência dos kleśa, ao longo desta vida e de todas as nossas múltiplas encarnações. E isto é algo que inevitavelmente teremos que reconhecer e admitir, num momento ou noutro do nosso percurso, por muito doloroso que seja, se quisermos ser verdadeiramente responsáveis pela nossa evolução espiritual e sair de todo e qualquer programa de atribuição de culpa aos outros, às situações, às circunstâncias, à Vida, ao Universo ou mesmo a Deus…
Mas aquele Único, aquele “santo” que apesar de sozinho e coxo, imparavelmente e incansavelmente continua a segurar a nossa mão, a guiar-nos e a acompanhar-nos para cima, na direcção da Ascensão, da Libertação (मोक्ष mokṣa), esse nunca o encontraremos no exterior, esse reside apenas dentro do nosso Coração, esse é aquele que além de todas as mágoas, de todas as feridas, de todos os traumas, de todo o sofrimento (दुःख duḥkha) inevitavelmente associado à condição da existência humana nesta dimensão e neste planeta, reconhece a nossa Verdadeira Essência Divina, Soberana e Livre, escolhe a Compaixão e o Perdão e nunca, nunca, nunca, em circunstância alguma, se deixa distrair do Verdadeiro Caminho Orgânico, nunca perde a bússola, nunca perde o Norte. A Fé. A nossa Fé.
Quando estamos verdadeiramente determinados a encontrar Deus dentro do nosso Coração e a encarnar plenamente essa Divindade no nosso quotidiano, deixando-a transbordar e impregnar todos os nossos pensamentos, intenções, palavras e acções, num momento ou noutro, ao longo do nosso percurso espiritual, inevitavelmente sentir-nos-emos “coxos” face a uma imensa montanha… Cada um de nós a fazer o melhor que pode, face a todas as dificuldades e adversidades, com as ferramentas que tem e que vai recuperando ao longo do caminho, por vezes derrapando, caindo e levantando-nos de novo, uma e outra vez, as vezes que sejam necessárias, sem nunca desistir, carregados e transportados pela Fé… Não importa se temos frequentemente a sensação de caminhar sozinhos ou a contra-corrente, se tudo parece difícil, se o esforço físico, mental, emocional e espiritual é imenso, por vezes quase sobre-humano, enquanto a gratificação material e o reconhecimento pessoal parecem manifestar-se em proporção inversa, já que infelizmente essa ainda é a frequência da dimensão onde nos encontramos… Pois dentro do nosso Coração, manifesta-se ainda assim a clareza, a compreensão, a paz interior, a gratidão, a alegria e a aceitação de estar encarnado aqui e agora, no momento presente, a caminhar na direcção certa, escutando o apelo da nossa Alma, ao Serviço das Leis Universais, da Ordem Cósmica (धर्म Dharma) e de Deus…
“Coxos” talvez (e com os joelhos doridos também!), mas sempre subindo, ascendendo, ao nosso próprio ritmo, dentro do Tempo Divino. Sem nos deixarmos distrair por todos os “santos” que querem “ajudar-nos” a descer. Sem necessidade de “retomar” a prática espiritual, pois nunca a abandonamos. É ela que define onde vamos, quando vamos, como vamos, é a nossa motivação, o nosso caminho, o nosso guia, o nosso transporte, o nosso destino também. Também não temos necessidade de discursos exteriores de motivação dependendo das épocas, pois somos guiados pela voz do nosso Coração, pelo apelo da nossa Alma. E, nos dias bons, conseguimos fazer tudo isto, sem comparações, sem julgamentos, sempre com o Coração aberto, cheio de Amor, Compaixão e Gratidão. Nos dias menos bons, usamos o Perdão, a Paciência, a Humildade e a Fé como bússola, para não nos desviarmos de forma permanente e definitiva do nosso caminho, sempre único, sempre pessoal. Fazemos o melhor que podemos, com as ferramentas que temos. Não, não tentamos. Simplesmente fazemos. De acordo com a Vontade Divina.
“Tentar não. Fazer ou não fazer. Não há tentativas.”
Mestre Yoda
Como sempre, deixo-vos a minha mais profunda e sincera GRATIDÃO pela vossa leitura e atenção e peço-vos que, como de costume, acolham apenas o que ressoa convosco e coloquem de parte tudo o resto, já que tudo o que partilho convosco é apenas o fruto dos meus próprios questionamentos, experiências de vida, compreensões e integrações alcançadas através dos ensinamentos do Yoga, da minha própria prática espiritual, do meu sādhana (साधन), com o apoio incondicional das minhas Equipas Divinas. Com todo o meu AMOR e REVERÊNCIA, desejo-vos coragem, bons questionamentos e boas práticas… Dentro e fora do tapete! Para que um dia, possamos ver no mundo, a mudança que ocorre em nós através do Yoga!
Namaste
✨ 💜 🙏 💜 ✨
Rita
ॐ
ॐ लोकाः समस्ताः सुखिनो भवन्तु
ॐ शान्तिः शान्तिः शान्तिः॥
Oṁ lokā samastā sukhino bhavantu
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ
Oṁ
Que todos os seres, em todos os lugares, sejam felizes.
Que haja Paz, Paz, Paz.
ॐ
🍃🪷🧘♀️💜🧘♂️🪷🍃


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