“Um Ideal é apenas uma fuga, um escape daquilo que é, uma contradição daquilo que é. Um ideal impede a ação direta sobre o que é. Para termos paz, teremos de amar, teremos de começar a viver não uma vida ideal, mas a aceitar ver as coisas como elas realmente são e a agir sobre elas, a transformá-las.
Alguns de vós acenarão com a cabeça e dirão: “Concordo”, mas no final, sairão daqui para continuar a fazer exatamente o mesmo que têm feito nos últimos dez ou vinte anos. Neste caso, o vosso acordo é meramente verbal e, por essa razão, não tem qualquer significado.
As misérias e as guerras do mundo não serão travadas pelo vosso consentimento casual. Só serão travadas quando realizarem o perigo, quando compreenderem plenamente a vossa responsabilidade, quando pararem de colocar a responsabilidade da mudança sobre os outros.
Se compreenderem o sofrimento, se virem a urgência da ação imediata e não a adiarem, então transformar-se-ão.”
Jiddu Krishnamurti
Queridos alunos e amigos ✨,
E assim, num piscar de olhos, chegamos ao final de mais um ano, com a chegada do mês de DEZEMBRO… O horário mantém-se inalterado e haverá aulas todas as segundas, terças e quintas-feiras, de MANHÃ e à TARDE.
ॐ
Este ano, o Shala🪷🍃 estará ENCERRADO para descanso, durante o período das festas natalícias, de 23/12/24 a 3/01/25. As aulas retomarão na segunda-feira, 06/01/25, com um horário actualizado.
ॐ
E, porque vários alunos já me colocaram a questão, aproveito igualmente para informar que, apesar do aumento visível do custo de vida (e principalmente por esta razão!), não tenho a intenção de aplicar um aumento no valor recomendado para as contribuições mensais, a partir do próximo ano, porque ainda me custa bastante aceitar a possibilidade de que alguns praticantes dedicados possam sentir-se obrigados a desistir das aulas, por se encontrarem na impossibilidade de contribuir com um montante mais elevado, à medida que todos os preços aumentam…
Como fui manifestando várias vezes ao longo dos últimos anos, nunca considerei o PADMA YOGA SHALA🪷🍃 como um “negócio”, mesmo se estou muito grata por representar a fonte da minha sobrevivência. Apesar de tantos anos de prática, infelizmente ainda não consegui desenvolver a capacidade de “viver do ar” (mesmo se ainda não desisti da ideia! 😉) e, obviamente, manter este espaço físico implica despesas e encargos que, como tudo o resto, aumentam de ano para ano, e que são colmatados apenas pelas vossas contribuições e donativos. No entanto, felizmente, ao longo dos últimos anos, muitos de vós foram igualmente espontânea e voluntariamente aumentando também o valor das vossas contribuições mensais e dos vossos donativos, de acordo com as vossas próprias possibilidades financeiras e com o valor pessoal que acordam tanto às aulas, como ao benefício que delas retiram e que vêem manifestar-se em cada esfera da vossa vida, mantendo assim um equilíbrio na manutenção e funcionamento do Shala🪷🍃.
Queria aproveitar, neste final de ano, para agradecer cada um de vós (não vos nomeio porque sei que essa não é a vossa vontade, mas vocês sabem quem são1 🙏💜), em meu nome, mas também em nome de cada um dos membros da comunidade do PADMA YOGA SHALA🪷🍃, pois é apenas graças a vós e à vossa Generosidade, que o Shala🪷🍃 pôde manter as portas abertas ao longo dos últimos cinco anos, desde que 2020 virou as nossas vidas do avesso! A todos aqueles que, de uma forma ou de outra, contribuíram de forma desinteressada e altruísta, muito além daquilo que vos foi pedido, deixo a minha profunda Gratidão! Sem vós, não estaríamos hoje aqui, todos juntos, a fazer o melhor que podemos para levar além do tapete, aquilo que o Ashtanga Yoga nos ensina dentro do tapete… De uma forma de outra, todos beneficiámos e beneficiamos cada dia, com a vossa Generosidade e a vossa Diligência! 🙏🙏🙏
Entre os extremos de quem não suporta abordar questões materiais ou financeiras, com medo de destruir a essência espiritual do Yoga (ou outras práticas espirituais), e aqueles que transformaram aquilo que era suposto ser uma busca e uma vida espiritual num negócio, através de constantes formações e retiros altamente lucrativos, eu não procuro mais que um justo equilíbrio, como em tudo na minha prática e na minha vida. Assim, para mais informações sobre as contribuições mensais e esse equilíbrio ao qual aspiro, por favor consultem o site do PADMA YOGA SHALA🪷🍃. Aí encontrarão todas as informações úteis para decidir de forma informada e consciente qual é a forma como desejam contribuir a partir do próximo ano, de acordo com a vossa vontade e possibilidades.
Por favor, NUNCA deixem de praticar por questões financeiras, existe sempre a possibilidade de encontrar uma solução que seja conveniente a ambas as partes, nem que seja através de uma troca de serviços ou de bens. Mesmo quando achamos que não temos nada para dar, é importante relembrar que não há nada mais precioso que o nosso tempo e a nossa disponibilidade, quando partilhados com o Coração aberto.
“Dais pouco quando ofereceis as vossas posses.
Quando vos dais a vós próprios é que dais verdadeiramente.
(…)
É correto dar quando nos pedem, mas é melhor dar quando ninguém nos pede nada, apenas através do entendimento.”
Khalil Gibran, in O Profeta(tradução de Catarina Fonte)
Como de costume, com o aproximar do final de mais um ano civil, a maioria das pessoas costuma aproveitar para fazer um balanço dos últimos meses ou anos, afim de proceder às mudanças necessárias para poder continuar a avançar em direcção a uma melhor versão de si mesmo, a uma Expressão Mais Elevada da sua Alma.
À medida que nos vamos aproximando do Solstício de Inverno e da noite mais longa do ano, enquanto aguardamos o regresso da luz, é comum surgir igualmente uma vontade de mergulhar mais e mais nas profundezas do nosso Ser, observar tudo o que Somos, todas as nossas partes de sombra, todas as nossas dores, todas as nossas vulnerabilidades, mas também todos os raios de luz que atravessam os inúmeros fragmentos criados pelas nossas feridas e os nossos traumas, trazendo consigo infinitas possibilidades de Cura e de Libertação. Talvez por essa razão. as Newsletters de final de ano revestem sempre um tom mais pessoal e exigem sempre uma maior abertura e exposição da minha parte, ao outro e ao mundo, o que nem sempre me é confortável, mas já se sabe que vai muito além da minha simples vontade pessoal… Se dependesse exclusivamente da minha vontade pessoal, muito provavelmente nem sequer escreveria nada… Mas se nos recusamos a escutar a Vontade Divina e a agir em função dela, então estamos à mercê de quê ou de quem?
Assim, de forma consciente, escolho colocar a minha intenção, o meu consentimento e a minha Autoridade em Deus e simplesmente escrever e partilhar o que escrevo. Ao longo dos anos, pude ir constatando que, a maioria das vezes sentimo-nos sós não porque somos os únicos a ver o que vemos, a ouvir o que ouvimos, a sentir o que sentimos, a intuir o que intuímos, através dos nossos cinco sentidos ou mais além. Muitas vezes sentimo-nos sós porque não ousamos e não nos autorizamos a partilhar com os outros o que vemos, o que ouvimos, o que sentimos, o que intuímos, com medo de eventuais conflitos, incompreensões, julgamentos, exclusões… Calamo-nos e fechamo-nos, duvidando das nossas percepções e do nosso discernimento, ou talvez por medo de interferir com o livre-arbítrio dos outros ou de represálias que nos cheguem por parte daqueles que não estão prontos para acolher a nossa verdade, neste ou noutros planos de existência… Mas, mais uma vez, pergunto-me quem servimos verdadeiramente através do nosso silêncio, quando este se encontra enraizado na dúvida ou no medo?
“Observa-te a ti mesmo, no momento em que te anulas, te censuras, ou tens medo de falar, não só apoias uma agenda que é anti-humana e anti-divina, como também te trais a ti mesmo, trais a tua própria alma.”
Bernhard Guenther
Apesar da densidade energética característica dos meses de Outubro e Novembro ainda não se encontrar propriamente para trás, ainda assim, DEZEMBRO, para além de todas as suas luzes, músicas, distracções e festividades, traz igualmente o início do Inverno❄️, que abre definitivamente as portas a um período de introspecção e reflexão pessoal sazonal muito, muito necessário. É tempo de parar, reflectir, olhar para dentro de forma a identificar e localizar em cada um dos nossos corpos (físico, energético, psicológico, emocional e espiritual) tudo aquilo que está a entravar a nossa evolução espiritual, de modo a poder retirar tudo o que já não nos serve e reparar tudo o que precisa ser corrigido, para que possamos manter-nos alinhados ao nosso Verdadeiro Caminho Orgânico. Apesar de qualquer altura do ano se adaptar bem a este tipo de auto-análise individual (que deveria, aliás, ser quotidiana) e de transformação pessoal, sinto que esta época do Inverno❄️ e de final de ano é, sem dúvida, o momento preferencial para a maioria das pessoas iniciar este tipo de reflexão pessoal e tentar perceber melhor onde se situa também de um ponto de vista colectivo, humano e mesmo cósmico.
“O auto-conhecimento requer trabalho. E ouvir coisas que não se quer ouvir. E admitir que se está errado muitas vezes. Não é para toda a gente. Apenas para aqueles que preferem ser mais felizes do que ter razão.”
Neil Strauss
O passado mês de NOVEMBRO trouxe a notícia da morte de R. Sharath Jois, com apenas 53 anos, deixando a comunidade de Ashtanga Yoga mergulhada num misto de tristeza pela sua súbita transição e, ao mesmo tempo, de Gratidão por todos os ensinamentos transmitidos aos milhares de alunos que tinha espalhados pelo mundo inteiro.
Apesar de ter dito muitas vezes que não se tratava do professor do meu Coração, Sharath Ji foi sem dúvida o melhor professor de āsana que conheci em toda a minha vida. A sua Presença num Shala operava milagres nos nossos corpos e sinto e sentirei sempre uma imensa Gratidão por tudo o que tive o privilégio de aprender com ele.
No entanto, no início de 2021, escolhi conscientemente afastar-me dele e dos seus ensinamentos, por já não encontrar ressonância com o que transmitia ou a forma como o fazia (tal como vos recomendo constantemente que façam em relação aos vossos próprios professores, incluindo eu, pois reconheço que o tempo dos gurus já acabou…) e, muito provavelmente por esta razão, não posso dizer que tenha sentido da mesma forma o impacto da sua morte.
Plenamente consciente que a prática de Ashtanga Yoga não reconhece nem valida os limites da morte, reconheço, obviamente, a imensa influência que tinha Sharath Ji no mundo do Yoga em geral e no mundo do Ashtanga Vinyasa Yoga em particular, assim como a consequente responsabilidade para com a sua comunidade e os seus alunos, aos quais envio toda a minha Compaixão…
Que a Paz e a Serenidade possam acompanhá-lo ao longo de todo o processo de reequilíbrio kármico associado à sua presente encarnação, assim como o processo de transição. Que a Luz Eterna de Deus envolva ternamente a sua Alma, enquanto avança para a próxima etapa do seu destino, de acordo com o seu svadharma e a Lei do Karma. Que a Paz e a Serenidade acompanhem igualmente todos aqueles que sofrem com a sua súbita partida e a inevitável Verdade que a acompanha, quebrando todas as ilusões, a sua família, os seus amigos, os seus alunos, a sua comunidade…
Namaste Sharath Ji!
🙏✨🕊️✨🙏
ॐ
ॐ असतो मा सद्गमय । तमसो मा ज्योतिर्गमय ।
मृत्योर्मा अमृतं गमय । ॐ शान्तिः शान्तिः शान्तिः ॥
oṁ asato mā sad gamaya । tamaso mā jyotir gamaya ।
mṛtyor mā amṛtaṁ gamaya । oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ ॥
Oṁ
Possamos nós ser conduzidos da ilusão para a verdade.
Possamos nós ser conduzidos da escuridão para a luz.
Possamos nós ser conduzidos da morte para a imortalidade.
Que haja Paz, Paz, Paz.
O passado mês de NOVEMBRO trouxe-me igualmente um bicho-pau, símbolo de adaptação espiritual, de paciência, de resiliência, de persistência. Até agora, foi o terceiro a chegar até mim, os dois primeiros anunciando o início de novas etapas de grande transformação pessoal e espiritual, longas, profundas e mais ou menos dolorosas, dependendo da minha própria resistência à inevitável mudança que constitui a própria Vida, assim como da influência dos kleśa (क्लेश - causas de aflição ou sofrimento) sobre mim, no instante em que apareceram e ao longo de todo o processo de transformação que ocorreu nos anos seguintes. Todas as acções (कर्मन् - karman) enraizadas nos kleśa (a ignorância metafísica da nossa Verdadeira Essência Divina [अविद्या avidyā], que cria em seguida o ego [अस्मिता asmitā], o sentido de individuação que nos separa do outro, reforçado depois pelos apegos [राग rāga], pelas repulsas [द्वेष dveṣa], que não são mais que outra forma de apego, e pelo medo da morte [अभिनिवेश abhiniveśa]) geram sofrimento (दुःख duḥkha) e mais karman… Apenas à medida que vamos conseguindo libertar-nos da influência das causas de sofrimento sobre a nossa consciência e que vamos sendo capazes de colocar a nossa vontade pessoal ao Serviço da Vontade Divina, entregando as rédeas do nosso veículo à Alma em vez do ego, entregando todos os frutos das nossas acções a Deus (ईश्वरप्रणिधान - Īśvarapraṇidhāna), é que nos vamos libertando do karman e, consequentemente, do sofrimento inerente à condição humana e ao saṃsāra (संसार - ciclo de reencarnação ou transmigração das almas).
Yogasūtra II.12
क्लेशमूलः कर्माशयो दृष्टादृष्टजन्मवेदनीयः॥१२॥
kleśa-mūlaḥ karma-aśayo dr̥ṣṭa-adr̥ṣṭa-janma-vedanīyaḥ ॥12॥
« As latências das acções enraizadas nas causas de sofrimento, são vivenciadas agora ou mais tarde. »
ॐ
Yogasūtra II.13
सति मूले तद्विपाको जात्यायुर्भोगाः॥१३॥
sati mūle tad-vipāko jāty-āyur-bhogāḥ ॥13॥
« Enquanto essas raízes existirem, elas vão influenciar nascimento, longevidade e experiência. »
ॐ
Yogasūtra II.14
ते ह्लादपरितापफलाः पुण्यापुण्यहेतुत्वात्॥१४॥
te hlāda paritāpa-phalāḥ puṇya-apuṇya-hetutvāt ॥14॥
« As suas consequências serão o prazer ou a dor causado pela virtude ou pelo vício, respectivamente. »
O primeiro bicho-pau estava à minha espera junto à entrada do Jardim António Borges. Nunca tinha visto um antes. Peguei nele e coloquei-o em segurança numa árvore dentro do jardim. Foi no final de Setembro de 2016, momento em que todo o meu mundo material e a minha “segurança” tinham acabado de sofrer um abalo de tal maneira importante, que a minha vida nunca mais voltaria a ser a mesma. De um dia para o outro, dei comigo sem casa, sem trabalho, sem dinheiro, sem saber como seria a minha vida ou a vida dos meus filhos… Hoje reconheço que essa “tempestade”, que durou cerca de três anos e cuja intensidade revelou e desconstruiu grande parte da influência que os kleśa tinham ainda na minha vida e da qual nem sequer tinha consciência, foi essencial para que o Padma Yoga Shala🪷🍃 pudesse deixar de ser apenas uma ideia perdida no meio de tantas outras, à mercê de medos, desejos e de uma vontade pessoal ainda surda à Vontade Divina.
Hoje reconheço isso. Hoje sei que nunca teria permitido a manifestação do Padma Yoga Shala🪷🍃, se não tivesse sido empurrada pelas minhas Equipas Divinas, para fora da minha zona de conforto. Hoje sei que nunca me abandonaram e que seguraram a minha mão a cada instante, abrindo portas, criando oportunidades, indicando o caminho, mas sem nunca interferir com o meu livre-arbítrio.
No entanto, enquanto estava no meio da tempestade, até conseguir alcançar a Paz no seu centro, a única coisa que conseguia ver era a dor, o sofrimento, a violência perpetuada sobre cada um dos meus corpos e a aparentemente infindável luta para sobreviver a mais um dia… Só mais um dia… E um dia, simplesmente, a tempestade tinha passado e a libertação encontrava-se manifesta na palma das minhas mãos, como se estivesse estado estado ali o tempo todo, à espera que eu pudesse vê-la, reconhecê-la, acolhê-la, amá-la, com todo o meu Ser.
“Muitos são chamados. Poucos escolhem responder ao chamamento. A recusa do chamamento é o que mantém muitas pessoas presas nas suas vidas. O chamamento tem de chegar ao mais profundo do ser, se este for recetivo. A alma regozija-se com o chamamento. O ego-personalidade sente-se ameaçado por ele.”
Bernhard Guenther
Foram ficando para trás inúmeros apegos e repulsas e o que ainda sobrava do medo da morte, raiz de todos os outros medos… Cresceu o Amor pela Vida, reforçou-se a Fé, a Humildade e a Paciência, assim como a intenção de deixar para trás o sofrimento, mantendo presente na memória a Abundância de informações permitindo ampliar o Conhecimento de mim, dos outros e do mundo, fruto de todas as experiências passadas, afim de transformar tudo isso em Sabedoria para as experiências futuras e de estar plenamente ao Serviço do Dharma (धर्म - Ordem Cósmica) e de Deus.
ॐ
धर्मो रक्षति रक्षितः ।
dharmo rakṣati rakṣitaḥ |
“O Dharma protege aquele que protege o Dharma.”
O segundo bicho-pau esperava por mim nas escadas do Shala🪷🍃, no final de Novembro de 2020, numa altura em que começava a perguntar-me se teria forças suficientes para continuar a estabilizar o campo energético do Shala🪷🍃, para manter o alinhamento às Leis Universais e à Consciência de Unidade, para continuar a dizer a Verdade, plenamente consciente que tudo o que estava a dizer e a fazer nesse momento, de acordo com a Vontade Divina, não estava a ser plenamente compreendido ou aceite pela maioria e, muito provavelmente não o seria senão muito, muito mais tarde (ou talvez nunca!). Levei-o para cima e pousei-o sobre outro tipo de árvore, “A árvore generosa”, de Shel Silverstein, um livro “infantil” que toca infinitamente o meu Coração e que tanto me ensinou.
Nessa altura, há quatro anos, cada dia que passava, plenamente consciente da instabilidade e da intensidade dos tempos que testemunhávamos, dava graças pelas sementes que eram acolhidas por alguns Corações abertos que escolheram então manter-se presentes, mesmo não compreendendo plenamente tudo o que transmitia e o impacto futuro das suas escolhas, mas confiando na sua intuição. Mesmo se cada um o viveu à sua maneira, a partir dos seus próprios véus de ilusão (माया - māyā) e da influência dos kleśa sobre a sua consciência, o abalo trazido por 2020 foi obviamente colectivo, mexendo consideravelmente com a estrutura material e energética de todo o sistema em que vivemos e nos limita, criando uma inevitável bifurcação na nossa sociedade, cujo resultado apenas só pode ser plenamente revelado e compreendido, individualmente e colectivamente, dentro do Tempo Divino. A Verdade não se apressa, nem se impõe…
São tempos extremamente intensos, estes que vivemos e não se passa um único dia sem que sejamos empurrados aos limites das nossas capacidades (físicas, energéticas, mentais, emocionais, espirituais) e da nossa consciência… O objectivo é, sem dúvida, expandir esses mesmos limites, até que simplesmente deixem de existir, já que o ser humano é Ilimitado, tal como o Divino dentro do seu Coração. No entanto, todo este processo exige de nós o máximo cuidado, paciência, compaixão e Amor por nós mesmos. Será mais fácil se formos pacientes, se cuidarmos de nós e da nossa criança interior com gentileza e ternura, sem precipitações ou agitações, deixando de lado o ego e escutando apenas a Vontade Divina, respeitando o Tempo Divino, confiando plenamente na nossa intuição profunda, na voz do nosso Coração. Se não teimarmos em desviar o olhar, cada coisa revelar-se-á no seu tempo e, um dia, a tempestade terá passado…
“Perder a paciência é perder a batalha.”
Mohandas K. Gandhi
2020 veio revelar a existência de uma imensa batalha espiritual, uma batalha dhármica, uma luta entre o Bem e o Mal, a nível colectivo e planetário, que ainda hoje, nem todos conseguem reconhecer. Face a essa falta de reconhecimento, face à incapacidade de ver ou à negação, face à ignorância, às mentiras ou ao silêncio, senti-me muitas vezes zangada, impaciente, irritada, frustrada, desmotivada. O meu ego foi revelado uma e outra vez. Os seus mecanismos de defesa identificados e desconstruídos uma e outra vez. Tudo veio à superfície para ser visto e, eventualmente, curado e liberto. Por muito doloroso que possa ser todo esse processo da morte do ego, quanto maior a capacidade para sair da sombra e acolher a Verdade e a Luz, maior a Libertação (मोक्ष mokṣa)!
Os frutos da dedicação, da entrega e da disciplina que colocamos na nossa prática dentro do Shala🪷🍃, no nosso tapete, mais tarde ou mais cedo, acabam sempre por se manifestar na nossa vida quotidiana, que é na realidade, o único sítio onde são verdadeiramente úteis! Assim, de cada vez que levamos as nossas dores, a raiva, a tristeza, a frustração, a impaciência, a irritação, a intolerância, o medo, a angústia, etc, para o nosso tapete, é importante termos consciência que nos está a ser oferecida a possibilidade de uma escolha importante e que as consequências dessa escolha podem não ter resultados visíveis imediatos, mas são sempre inevitáveis!
Podemos aceitar o que é, acolher e transmutar, agindo de forma consciente, paciente, tolerante e disciplinada ou podemos ceder aos impulsos destrutivos dos mecanismos de defesa de um ego ferido e arrogante, reagindo impulsivamente, podendo magoar-nos a nós mesmos e aos outros à nossa volta, a curto, médio ou longo prazo.
Na vida, como dentro do Shala🪷🍃 e nas minhas aulas, eu encorajo sempre a primeira opção, pois sinto que é a escolha que nos afasta progressivamente mas definitivamente do sofrimento, uma manifestação sincera de maturidade espiritual. É uma escolha que exige Coragem e também disciplina para manter o equilíbrio subtil entre esforço justo e desapego, indispensável à evolução no caminho do Yoga.
No entanto, sempre que me encontro face à manifestação da segunda opção (o que ainda acontece de vez em quando…), faço o melhor que posso para a acolher com Paciência e Compaixão, com tanta neutralidade quanto possível, desde que não constitua um ataque ao respeito dos Yama/Niyama e das Leis Universais, nas quais assenta a estrutura energética do Shala🪷🍃 e, nesse caso, limites saudáveis são necessários. Reconheço, no entanto, nesta segunda escolha a prova inegável do sofrimento e do controle mental a que todos somos submetidos neste planeta num momento ou noutro da nossa vida e isso pode deixar-me por vezes bastante triste… Não é fácil viver neste mundo de intensa dualidade, mas não nos podemos esquecer que temos sempre escolha…
“Podemos perdoar facilmente uma criança que tem medo do escuro. A verdadeira tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.”
Platão
Este segundo bicho-pau, que ainda hoje me pergunto como fez para chegar até meio das escadas de acesso ao Shala🪷🍃, chegou no momento em que estava a escrever a NL de Dezembro 2020, a mais longa de todas as Newsletters que escrevi até hoje e cuja leitura ou re-leitura recomendo vivamente neste momento!
Na altura, pensei que seria a última. Acho que queria mesmo muito que fosse a última, de tal maneira me sentia cansada, e também porque acho que ainda não tinha integrado plenamente que a minha vontade pessoal só faz verdadeiramente sentido se estiver ao Serviço da Vontade Divina.
As Newsletters não surgem porque me apetece, porque não tenho mais nada que fazer ou porque tenho muito tempo livre (quem me dera!). Elas simplesmente acontecem, saem de dentro para fora e reconheço hoje que não permitir que se manifestem, simplesmente não é uma opção, pois neste momento ainda fazem farte do meu svadharma. É o que é (mas confesso que, apesar de ter deixado de resistir-lhes, continuo a pedir regularmente “férias” delas ou a ter esperança que o meu svadharma mude, porque nem sempre são fáceis de manifestar 😏)…
“O óbvio é aquilo que nunca é visto até que alguém o manifeste com simplicidade.”
Khalil Gibran
Para alguns de vós, muito provavelmente só agora esta NL de Dezembro 2020 fará sentido. O que foi então transmitido precisava de tempo para ser reconhecido, para que cada um encontrasse o seu alinhamento com a Verdade, dentro do seu próprio Tempo Divino. Para mim, esta NL foi a manifestação de uma intensa iniciação espiritual, que me preparava para desafios posteriores. Não há nada mais importante que a VERDADE, em toda e qualquer circunstância.
“Deus é Verdade. Ao falar a verdade em todas as circunstâncias, um estado de integridade surge naturalmente.”
Anandamayi Ma
Quando decidi reler esta Newsletter escrita há precisamente quatro anos, divinamente guiada pela chegada de um terceiro bicho-pau, no início de Novembro (este terceiro estava no meu quintal e não fui eu que o encontrei, foi trazido até mim!), percebi o quanto sofri, o quanto resisti à Vontade Divina que me pedia que expusesse a Verdade com Humildade, mas a partir de um ponto de Neutralidade, com Discernimento e Compaixão, sem apegos aos frutos das minha acções e o quanto me foi difícil fazê-lo. Percebi o quanto me senti sozinha, o quanto me senti espiritualmente traída pelos professores e comunidades de Yoga, e outras comunidades espirituais, que vi afastarem-se progressivamente mas profundamente dos Valores Éticos e de Disciplina Pessoal que constituem os Yama/Niyama, assim como do Dharma, envoltos nos seus próprios véus de ilusão, na ignorância ou simplesmente vítimas do seu ego espiritual. Percebi o quanto me senti abandonada por todos aqueles que não podiam compreender a mensagem que transmitia naquele momento e o quanto sofri por ter plena consciência das consequências e do sofrimento implícito nessa incompreensão e nas escolhas feitas a partir da ignorância. Percebi igualmente a força interior, a autonomia, a resiliência, a soberania e a conexão a Deus dentro do meu Coração que nasceram de todas as provas a que fui/fomos submetidos durante os últimos cinco anos e o seu impacto na pessoa que sou/somos hoje.
“O que achas 2020, marcamos encontro para 2025, para ver como a Humanidade escolheu lidar com tudo o que nos trouxeste? Achas que, daqui até lá, o tempo vai trazer a união a todas as verdades relativas e revelar-nos a VERDADE? Achas que sobreviveremos ao vírus, à fome, ao medo? Achas que teremos tido a coragem necessária para reconhecer que está dentro de nós a cura para o nosso sofrimento?”
Excerto da NL de Dezembro/20
Reconheço hoje que, como sempre, por muito difíceis que tenham sido essas lições espirituais, elas eram absolutamente necessárias para que pudesse passar às etapas seguintes do meu próprio percurso espiritual e foram mesmo indispensáveis para que a integração plena do Divino dentro do meu Coração pudesse manifestar-se em cada um dos átomos e células que constituem o meu Ser e que o reconhecimento de Quem Sou pudesse acontecer. São tantas as vezes em que chegamos à Sabedoria através do sofrimento e isso é tão, mas tão difícil… No entanto, depois fica a compreensão plena de que não podemos retirar as pedras do caminho dos outros. Fica a realização de que não podemos interferir com o seu livre-arbítrio, pois cada um tem as suas próprias aprendizagens para fazer e esta vida não é mais que uma pequena migalha indicando o imenso caminho percorrido pela nossa Alma, ao longo das suas inúmeras encaranações. Fica a aceitação de que somos apenas responsáveis pelos nossos pensamentos, as nossas palavras e as nossas acções e que o aparente sucesso ou fracasso dos outros, não dependem de nós.
“Tu tens o poder sobre a tua mente, não sobre os acontecimentos exteriores. Compreende isto e encontrarás a tua força.”
Marco Aurélio
Para mim, ficou claro que apenas através do exemplo posso ensinar, mas não posso, nem quero pedir ou forçar os outros a seguir o meu exemplo, assim como não posso, nem quero sentir-me forçada a seguir cegamente e sem discernimento os outros, sejam eles quem forem. Ficou claro que o tempo dos gurus, que fez todo o sentido até meados do século XX, quando os véus da ilusão eram mais espessos e difíceis de levantar, já não se adapta aos nossos tempos. Ficou claro que cada um deve seguir a sua própria intuição, trabalhar sobre as suas próprias sombras, abrir o seu Coração e expandir a sua Consciência, mas que não estamos sós e que não somos os únicos a fazê-lo. Ficou claro que somos seres multidimensionais, trabalhando mão na mão e sem qualquer diferença de valor com todos aqueles que, aqui e agora, colocaram a intenção sincera de curar todas as suas feridas, de se libertar de todos os kleśa e aceder à Verdade (सत्य - satya), arrancando até à última raiz de avidyā (अविद्या), a ignorância, afim de acabar com o sofrimento (दुःख duḥkha) e atingir a Libertação (मोक्ष mokṣa), estejam eles onde estiverem. E finalmente, ficou inscrito em todo o meu Ser que de nada serve resistir ao que é, de nada serve abrir mão da nossa responsabilidade pessoal em tudo, absolutamente tudo o que vivemos, de nada serve ficar zangado com os outros (sejam eles quem forem) ou culpá-los pela nossa miséria e pelo nosso sofrimento.
De cada vez que abrimos mão da nossa responsabilidade pessoal, abrimos mão da nossa integridade e abrimos mão da nossa Soberania. De nada serve criar comparações ou julgamentos que nos façam pensar que somos melhores ou piores que os outros, pois isso apenas reforça o ego e a ignorância, deixam-nos amargos e ressentidos, afastam-nos dos Valores Elevados do Yoga, assim como da Consciência de Unidade, deixando a porta aberta a inúmeros programas de vitimização. Quem somos realmente, se impedimos que a Empatia se transforme naturalmente em Compaixão? Quem somos realmente, se permitimos que a ilusão ou a arrogância do ego limitem o nosso campo de visão? Quando um Coração se fecha, quem fica de fora? O Outro? Eu? Deus?
Se SOMOS TODOS UM, é mais que tempo de aprender a assumir a nossa Verdadeira Essência, a encarnar plenamente esta Responsabilidade Pessoal sobre os nossos pensamentos, palavras, acções e a própria Vida, a colocar limites saudáveis quando necessários, sem nunca, nunca, nunca fechar o Coração, aos outros, a si mesmo, a Deus. O que acham? Não será essa a verdadeira mensagem da Consciência Crística Universal, que milhões de pessoas, por todo o planeta, celebram neste final de ano?
“Só o amor conduz à ação correcta. O que traz ordem ao mundo é amar e deixar que o amor faça a sua vontade.”
Jiddu Krishnamurti
Não tenho dúvidas que o terceiro bicho-pau (acabadinho de chegar!), anuncia mais uma período intenso de provas e desafios inevitáveis e necessários à constante evolução espiritual que constitui a principal razão da minha existência aqui e agora, durante esta encarnação. Há algum tempo que o tinha sentido e intuído e, de qualquer forma, como para todas as formas de Vida, estas etapas de maior intensidade são “sazonais”. Não é o objectivo de vida de todas as pessoas, mas é definitivamente o meu e estou determinada a resistir o mínimo possível (idealmente nada, se conseguir!), de forma a minimizar tanto quanto possível o sofrimento associado à mudança.
Sei que sou divinamente guiada e acompanhada e que quanto menos entravar o meu próprio svadharma (dever pessoal ou missão de vida), quanto mais abrir o meu Coração e permitir que Deus se manifeste nas minhas acções quotidianas, mais estarei plenamente ao Serviço do Plano Divino pela Libertação da Consciência não só para mim, mas para Todos (मोक्ष mokṣa). Realizo que a Verdade pode ser dita de muitas formas. Mas só encontra o eco necessário dentro de cada Coração, para poder ressoar claramente e manifestar-se de dentro para fora, se for partilhada com Amor…
“A vida pulsa nos ritmos que encontramos nas revoluções do dia e da noite, na mudança das estações e no bater do nosso próprio coração.”
Khalil Gibran
Assim, peço a Deus que me permita atravessar todas as tempestades que me estão ainda destinadas, tanto quanto possível a partir do seu centro, com Discernimento, Paciência, Humildade e a necessária capacidade de adaptação (tal como o bicho-pau!) para fazer face a todas as dificuldades que se apresentem.
Peço a Deus que continue a dar-me Força e Coragem para expor a Verdade que me revela cada dia o meu Coração, mesmo quando ela não é compreendida, mesmo quando ela (e eu!) é atacada, mesmo que anos e vidas se passem sem que seja reconhecida, seja por ignorância, por orgulho, por vergonha ou qualquer outro mecanismo de defesa do ego ou influência de forças negativas.
E acima de tudo, peço a Deus que continue a proteger e a apoiar todos os membros da comunidade do Padma Yoga Shala🪷🍃, assim como tantas outras comunidades espirituais sinceras e autênticas, todos aqueles que procuram a Verdade sobre si mesmos, sobre os outros, sobre o mundo que os rodeia, com o Coração aberto e com Humildade.
Peço a Deus que proteja todos aqueles que, de uma forma ou de outra, procuram a compreensão, o equilíbrio e a maestria de cada um dos seus corpos (físico, energético, mental, emocional e espiritual) e que, dia após dia, se apoiam na prática dos Yama/Niyama, no Dharma e nas Leis Universais, procurando incessantemente a Consciência de Unidade, construindo o seu próprio caminho e prática espiritual a partir da Compaixão e do Respeito por tudo e todos, independentemente do patamar existencial ou estação de identidade em que se encontram.
Peço a Deus não só que ouça as minhas preces, mas acima de tudo, que me dê o discernimento necessário para poder reconhecer e acolher as Suas indicações em todas as circunstâncias e poder, nesse sentido, colocar o Padma Yoga Shala🪷🍃, as minhas aulas, os meus ensinamentos, o meu corpo, a minha mente, o meu Coração, a minha Consciência, a minha Alma e todo o meu Ser apenas ao Serviço de Deus e da Vontade Divina, deixando nas mãos do Absoluto todos os frutos das minhas acções e confiando plenamente que o que daí virá, fácil ou difícil, prazeroso ou doloroso, fará sentido, agora ou mais tarde. Que a minha capacidade de escuta e a minha capacidade de expressão possam sempre encontrar um justo equilíbrio e manifestar-se em Harmonia com o Tempo Divino e a Vontade Divina…
“Quando ouvimos alguém, completamente, com atenção, estamos a ouvir não só as palavras, mas também o sentimento do que está a ser transmitido, o todo, não apenas uma parte.”
Jiddu Krishnamurti
Autor desconhecido
A todos vós, aproveito igualmente para desejar desde já um Feliz Natal e umas excelentes festas de Ano Novo, plenamente enraizadas no espírito do Cristo. Desejo-vos igualmente um bom Solstício de Inverno, acompanhado de profundas reflexões sobre a Verdadeira Essência do vosso Ser e tudo o que vos rodeia. Que as luzes se Natal possam iluminar os vossos Corações. E que a Consciência Crística Universal possa libertá-los de forma definitiva e permanente. Acima de tudo, que possa finalmente haver Paz, Paz,Paz, para que todos os seres, em todos os lugares, possam ser felizes…
ॐ
ॐ लोकाः समस्ताः सुखिनो भवन्तु
ॐ शान्तिः शान्तिः शान्तिः॥
Oṁ lokā samastā sukhino bhavantu
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ
Oṁ
Que todos os seres, em todos os lugares, sejam felizes.
Que haja Paz, Paz, Paz.
ॐ
🍃🪷🧘♀️💜🧘♂️🪷🍃
Como sempre, deixo-vos a minha mais profunda e sincera GRATIDÃO pela vossa leitura e atenção e peço-vos que, como de costume, acolham apenas o que ressoa convosco e coloquem de parte tudo o resto, já que tudo o que partilho convosco é apenas o fruto dos meus próprios questionamentos, experiências de vida, compreensões e integrações alcançadas através dos ensinamentos do Yoga, da minha própria prática espiritual e do meu sādhana (साधन). Com todo o meu AMOR e REVERÊNCIA, desejo-vos coragem, bons questionamentos e boas práticas… Dentro e fora do tapete! Para que um dia, possamos ver no mundo, a mudança que ocorre em nós através do Yoga!
Namaste
✨ 💜 🙏 💜 ✨
Rita
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