“É sensato não esquecer que os pensamentos são coisas, são as sementes a partir das quais o nosso jardim cresce e que, para transformar a nossa colheita, é preciso primeiro semear novas sementes.”
Lisa Renee
Queridos alunos e amigos ✨,
Em MAIO (sim, já estamos a chegar a Maio!!), devido aos inúmeros feriados que ocorrem este mês, muitos de vós aproveitam este período para viajar ou simplesmente descansar. É uma altura do ano em que o Shala🪷🍃 fica naturalmente mais vazio e, por essa razão, sinto que se justificam alguns ajustes nos horários. Se estiverem presentes este mês, por favor estejam atentos às alterações para este mês de MAIO, assinaladas abaixo :
🪷 Segunda-feira, 6/05 🪷
AULA GUIADA às 8h00
ENCERRADO à tarde
ॐ
🪷 Segunda-feira, 20/05 🪷
AULA GUIADA às 8h00
ENCERRADO à tarde
ॐ
🪷 Quarta-feira, 22/05 🪷
Excepcionalmente, aulas de manhã e à tarde
às 7h00 e às 17h30
ॐ
🪷 Quinta-feira, 23/05 🪷
ENCERRADO
ॐ
🪷 Quinta-feira, 30/05 🪷
AULA GUIADA às 8h00
ENCERRADO à tarde
ॐ
Relembro que, apesar de estar agora ENCERRADO às quartas e sextas-feiras, assim como aos fins-de-semana e alguns feriados (excepto datas excepcionais, sempre previamente assinaladas, como é o caso este mês), o Shala🪷🍃 está sempre disponível em qualquer dia e qualquer hora, para os alunos que aí queiram fazer a sua auto-prática, como tem acontecido até agora (a menos que seja necessário encerrar para fazer limpezas ou obras).
🧘♀️💜🧘♂️
“Educar a mente sem educar o coração não é educação.”
Aristóteles
Durante uma das minhas viagens a Mysore, na Índia, o meu professor de Sânscrito, Lakshmisha Bhat, disse algo que ressoou em mim de tal maneira que me acompanha até hoje e se transformou numa das minhas principais ferramentas de auto-análise. De certa forma, a questão que nos colocou na altura, continua até hoje a ajudar-me a alargar a minha perspectiva sobre os ensinamentos e a minha prática de Yoga, a verificar se continuo a avançar na direcção certa, sem me desviar do meu Caminho Orgânico, se estou a escutar e a respeitar a vontade da minha Alma, a cumprir o meu svadharma (स्वधर्म - dever pessoal) e se estou ao serviço da Vontade Divina, única e exclusivamente. Várias vezes afirmei que apenas podemos partilhar, transmitir ou ensinar aquilo que vivenciámos pessoalmente e integrámos em cada uma das células e átomos que constituem o nosso Ser, transformando assim o mero conhecimento intelectual em experiência orgânica e em verdadeira Sabedoria, e quanto mais avanço e observo tudo aquilo que acontece em mim, mas também nos outros e à minha volta, mais sinto esta afirmação como uma evidência. O mundo que construímos à nossa volta, começa sempre dentro de nós…
Lakshmisha disse :
“Quando os indivíduos vão buscar água à fonte, muitos são aqueles que se questionam sobre a pureza da água.
Mas quantos se questionam verdadeiramente sobre a pureza do recipiente que a recolherá?”
Para quem frequenta as minhas aulas, é muito provável que esta frase já não seja uma novidade… Sempre que sinto a frequência do medo sobrepor-se à frequência do Amor, em mim ou à minha volta, ela brota naturalmente de dentro de mim, como um precioso lembrete, sempre no sítio certo, à hora certa! Está presente de cada vez que sinto a manifestação de uma energia de separação ou dispersão, sempre que a atenção de um indivíduo ou de todo o grupo começa a dispersar-se e a voltar-se para o exterior, quando certas feridas características da superioridade do ego espiritual começam a dar origem a comparações, ou que sentimentos de superioridade, inferioridade, críticas, intolerância ou julgamentos sobre os outros ou sobre o mundo exterior começam a manifestar-se, o que muitas vezes acontece de forma inconsciente e traz como consequência inevitável o reforço dos véus da ilusão (māyā - माया), que nos mantêm prisioneiros da ignorância sobre Quem Somos (avidyā अविद्या), sobre a nossa Essência Divina.
“Deixa que te julguem. Deixa que te interpretem mal. Deixa-os coscuvilhar sobre ti. As opiniões deles não são o teu problema. Mantém-te gentil, empenhado no amor e livre na tua autenticidade. Independentemente do que façam ou digam, não te atrevas a duvidar do teu valor ou da beleza da tua verdade. Simplesmente continua a brilhar como brilhas.”
Scott Stabile
Esta frase está igualmente presente a cada instante na minha própria vida e na minha prática, de cada vez que interajo com os outros ou que sou confrontada a novas informações ou ensinamentos que desafiam o meu corpo mental, emocional ou espiritual, empurrando-me para fora da minha zona de conforto. Como acolho o que vem de fora para dentro e como ecoa de dentro para fora? O que em mim é capaz de acolher a Verdade, mesmo se à partida me é desconfortável ou mesmo dolorosa? E o que em mim ainda resiste a essa mesma Verdade quando, apesar de tudo, consigo reconhecê-la e tenho plena consciência que, no final, ela será sempre uma fonte de libertação? E porquê?
“O objetivo da religião [espiritualidade] é controlarmo-nos a nós próprios e não criticar os outros. Pelo contrário, temos de nos analisar a nós mesmos. O que estou a fazer em relação à minha raiva? Em relação ao meu apego, ao meu ódio, ao meu orgulho, ao meu ciúme? São estas as coisas que devemos verificar na vida quotidiana.”
Dalai Lama
Tendo em conta que a prática de Yoga repousa sobre um trabalho individual e interior, sempre que a nossa atenção começa a voltar-se mais para o exterior do que para o interior (dentro ou fora do tapete), é sinal que chegou o momento para fazer um esforço para regressar ao centro, que é altura certa para tentar reconhecer e identificar os mecanismos de defesa do ego que estão na origem dos inúmeros ângulos mortos que nos impedem de reconhecer Quem Realmente Somos e nos empurram para esta sensação de separação, seja da nossa verdadeira essência, do Outro ou de Deus… Este espírito de divisão que nos leva a acreditar que existe um “nós” diferente/melhor/pior que os “outros” é uma pura manifestação de avidyā (अविद्या - ignorância) e a arma de predilecção de quem cria e alimenta toda e qualquer guerra…
Como gostava de dizer o meu professor de Vedanta, Arvind Pare, da mesma forma que podemos usar uma barra de ouro para fazer inúmeras jóias ou artefactos com as mais diferentes formas, tamanhos e feitios, mas sem nunca perder o valor intrínseco ou a essência da matéria prima, também o Divino se manifesta através da criação de milhões de formas diferentes, nos diferentes seres e em todas as formas de vida orgânica, mantendo-se Permanente e Inalterado na sua essência, quer sejamos capazes de o reconhecer ou não…
“O primeiro gole do copo das ciências naturais fará de ti um ateu, mas no fundo do copo, Deus está à tua espera.”
Werner Heisenberg
Esta sensação de separação, que num momento ou noutro dará inevitavelmente origem a sentimentos de comparação e, assim, de superioridade ou de inferioridade e que, não só está completamente enraizada nas fundações da sociedade actual, mas é altamente cultivada e estimulada pelo próprio sistema energético dentro do qual evoluímos e que, num ciclo vicioso, dela se alimenta, não é mais que uma ilusão concebida para nos manter prisioneiros de avidyā (अविद्या - ignorância). É nesta ignorância e nesta ilusão que se encontra a origem de todo o sofrimento (duḥkha दुःख) e o atropelamento constante, insensível e sem escrúpulos dos valores éticos e morais presentes em todas as tradições ou espiritualidades do mundo, que as mais diversas formas de “autoridade” tanto gostam de apregoar e exigir dos outros, mas que pouco interesse manifestam em praticar! Consequentemente, daí advém igualmente toda a miséria existencial, todos os abusos, todas as formas de violência, assim como todas as guerras, sejam internas ou externas.
“Outrora fabricavam-se armas para combater guerras. Agora as guerras são fabricadas para vender armas.”
Arundhati Roy
Se nos dias que correm, é praticamente impossível não ser testemunha das desigualdades, intolerância, manipulações, abusos, violência, guerras, genocídio e sofrimento individual ou colectivo à nossa volta, a verdade é que nem todas as pessoas estão dispostas a testemunhar igualmente esses aspectos e manifestações de violência (hiṃsā हिंसा) dentro de si mesmas e reconhecer em si as características ou tendências que as afastam do seu propósito e missão de Vida, ao serviço do Bem Comum, da Verdade, da Liberdade ou da Vontade Divina.
Isto é, obviamente, algo que se observa igualmente em inúmeros indivíduos e comunidades espirituais e, infelizmente, o mundo do Yoga não é uma excepção. Não é tão raro quanto isso verificar que os princípios éticos e de disciplina pessoal que constituem os Yama/Niyama, são frequentemente esquecidos ou “adaptados”, de forma a servir interesses pessoais ou reforçar egos espirituais. Também não é extraordinário encontrar professores, guias espirituais e mesmo praticantes que ensinam aquilo que não praticam, transmitem o que ainda não integraram, apregoam valores que não encarnam ou partilham conhecimento cuja compreensão é puramente intelectual, não tendo passado pelas experiências pessoais e espirituais necessárias que constituem o trabalho pessoal que confirma e valida o conhecimento além do corpo mental, transformando-o em Sabedoria.
“A magia que procuras está no trabalho que estás a evitar.”
Dipen Parmar
Apenas a título de exemplo, ainda me lembro da surpresa e do espanto que senti da primeira vez que me fizeram chegar um “excelente artigo” do blog de uma professora de yoga, que “iria certamente ressoar no meu Coração”, mas que afinal era uma das minhas Newsletters (completa, do princípio ao fim, mas sem qualquer referência à fonte…). Ou quando vi as minhas palavras usadas como mote de inspiração nas redes sociais, acompanhando a fotografia de uma postura complexa, perfeitamente executada por outra professora de yoga, vestida com umas leggings bonitas, numa paisagem idílica… (Sorrio enquanto escrevo, só de imaginar os sorrisos e mesmo as gargalhadas de quem me conhece bem, ao ler isto! Tudo eu, não acham? 😉🤣)
Então e a prática de sātya (सात्य - verdade), de asteya (अस्तेय - honestidade) e de ahiṃsā (अहिंसा - não-violência), pensei eu na altura? Anos depois, quando ainda acontece (pois…), limito-me a voltar a minha atenção para dentro, evitar os julgamentos, agradecer profundamente a minha intuição, que continua a manter-me afastada das redes sociais e escolho simplesmente colocar em prática aparigrāha (अपरिग्रह - não-possessão ou desprendimento) e seguir em frente com o meu caminho, pois é apenas dele que sou responsável.
“Aquele que acredita em si próprio
não precisa de convencer os outros.”
Lao Tzu
Neste tipo de casos e situações, se aquilo que está a ser transmitido não foi ainda plenamente integrado por quem está a transmitir, a frequência da mensagem pode mais facilmente ser alterada, manipulada ou mal interpretada e também induzir quem a recebe em erro, com todas as consequências que isso acarreta e que a Lei do Karma acaba por naturalmente manifestar, tanto para quem transmite a mensagem, como para quem a recebe… Por isso é tão importante escutar o nosso Coração e acolher apenas aquilo que ressoa para nós, deixando de lado tudo o resto! Infelizmente, quando não nos conhecemos profundamente ou quando temos pouca Confiança em nós mesmos, podemos ser mais facilmente influenciados ou manipulados por certas informações que veiculam o medo ou pelos outros, principalmente se considerarmos que se encontram numa posição de “autoridade”…
“A sociedade não quer indivíduos atentos, perspicazes, revolucionários, porque esses indivíduos não se enquadram no padrão social estabelecido e podem rompê-lo. É por isso que a sociedade procura manter a vossa mente no seu padrão e que a vossa chamada "educação" vos encoraja a imitar, a seguir, a conformar-vos.”
Jiddu Krishnamurti
Autor desconhecido
Poderíamos pensar que isto acontece apenas nos primeiros anos de busca espiritual, por falta de experiência ou de compreensão das Leis Universais e, mais especificamente, da Lei do Karma e do Dharma, mas a verdade é que enquanto não nos libertamos completamente da influência dos kleśa (क्लेश - causas de aflição do ser humano), dos medos (abhiniveśa अभिनिवेश), dos apegos (rāga राग) e repulsas (dveṣa द्वेष), de todos os mecanismos do ego (asmitā अस्मिता) e do ego espiritual, assim como da ignorância da nossa Verdadeira Essência Divina (avidyā अविद्या), é necessário uma atenção plena e uma imensa integridade pessoal e humildade, para continuar a avaliar todos os nossos pensamentos, todas as nossas palavras, todas as nossas acções e especificar claramente onde se situa a nossa intenção, o nosso consentimento e a nossa Autoridade. Afinal, onde quer que nos situemos no nosso percurso espiritual, todos estamos sujeitos a diferentes graus da influência dos kleśa (क्लेश) e do mundo em que vivemos, até finalmente alcançarmos mokṣa (मोक्ष), a Libertação…
“Não vendas a tua alma em troca de nada.
É a única coisa que trouxeste para este mundo.
E a única coisa que podes levar de volta.”
Rumi
Enquanto não transcendermos o mundo da dualidade, enquanto não encarnarmos plenamente o princípio do Yoga, a União com o Divino dentro do nosso Coração, é indispensável manter a observação constante dos nossos pensamentos, das nossas palavras, das nossas acções, apenas enquanto testemunhas, com compaixão e sem julgamentos, até sermos capazes de acolher aquilo que somos e estarmos prontos para libertar aquilo não somos, com muita aceitação e amor por nós mesmos e por tudo aquilo que somos levados a experimentar e viver, fazendo com que tenhamos a sensação de morrer e renascer vezes sem conta, ao longo desta encarnação, tal como a fénix morre, arde e depois renasce das suas próprias cinzas.
“Não pode haver renascimento sem uma noite negra da alma,
uma aniquilação total de tudo aquilo em que acreditavas e pensavas que eras.”
Hazrat Inayat Khan
O Yoga, enquanto método e enquanto prática, pode funcionar como uma espécie de espelho entre o interior e o exterior, entre o microcosmos e o macrocosmos, oferecendo-nos a oportunidade de nos colocarmos em questão, de ver, ouvir, tocar ou sentir mais além dos nossos cinco sentidos e utilizando principalmente a inteligência intuitiva do nosso Coração para aprofundarmos o conhecimento que temos sobre nós mesmos no momento presente, através do reflexo que encontramos no exterior, seja nos nossos familiares, colegas de trabalho ou qualquer outra pessoa, situação, entidade ou organismo, abrindo-nos assim as portas para possibilidade de alcançar a Libertação (mokṣa मोक्ष) e de realizar a União (yoga योग) com Deus dentro do nosso Coração.
“Cada um vê o invisível na proporção da clareza do seu coração.”
Rumi
Já perdi a conta ao número de vezes que repeti que a prática de Yoga não é diferente da Vida… Pessoalmente, acredito que esta prática ficará sempre incompleta enquanto se limitar à prática de āsana (आसन - postura) ou se se mantiver circunscrita às fronteiras do nosso tapete…
Quando escolhemos entregar-nos plenamente à nossa prática de Aṣṭāṅga Yoga, ou seja, à prática dos seus oito membros, yama (यम - princípios éticos), niyama (नियम - princípios de disciplina pessoal), āsana (आसन - postura), prāṇāyāma (प्राणायाम- controlo do sopro e expansão da energia vital), pratyāhāra (प्रत्याहार - retracção dos sentidos), dhāraṇā (धारणा - concentração) e dhyāna (ध्यान - meditação), até chegar ao samādhi (समाधि - meditação profunda, estado contemplativo e de absorção meditativa), quando escolhemos acolhê-la com consciência, dedicação e humildade, uma das primeiras características que podemos ver desenvolver-se ou expandir-se em nós, é precisamente essa capacidade de Observação. Observação do mundo à nossa volta e idealmente, porque isso sim é primordial, observação de nós mesmos e de tudo o que acontece em nós, não só durante a prática, mas também antes e depois, ao longo de todo o dia, na nossa vida quotidiana, na forma como reagimos, agimos ou interagimos, nas mais diversas situações e circunstâncias. Esta capacidade de estar à escuta, de observação e de atenção constante exige esforço e disciplina pessoal (tapas - तपस्). Mas acima de tudo, exige de nós que sejamos autênticos, íntegros e muito, muito Corajosos, porque olhar para as coisas como elas realmente são, sem filtros, nem maquilhagens ou véus, pode por vezes ser bastante difícil e doloroso…
“Não podes ser verdadeiro se não fores corajoso. Não podes ser afetuoso se não fores corajoso. Não podes ser íntegro se não fores corajoso. Não podes aceder à realidade se não fores corajoso. Assim, a coragem vem primeiro e tudo o resto vem a seguir.”
Osho
Para alguns, essa capacidade de estar à escuta ou atentos ao mundo exterior, pode ser inata ou ter sido desenvolvida e cultivada em diferentes áreas da vida, seja na esfera familiar, social ou profissional. No entanto, quando se trata de voltar essa mesma capacidade de escuta, de observação e de atenção para dentro, para si mesmo, com honestidade e, ao mesmo tempo, com humildade, neutralidade, compaixão e sem julgamentos, tudo parece tornar-se muito mais difícil, muito mais complicado… A maioria das pessoas que conheço é tão mais exigente consigo mesmos, do que com os outros… E é muitas vezes deste excesso de exigência pessoal, deste perfeccionismo, que nasce o medo de falhar, de não estar à altura das expectativas (suas ou dos outros), de ser criticado, excluído ou de não ser amado e que, aos poucos, o ego se vai reforçando e criando múltiplos mecanismos de defesa e inúmeras máscaras (o medo reforça sempre o ego, assim como os apegos e as repulsas), tornando cada vez mais difícil ver e reconhecer os tais “ângulos mortos” ou feridas psicológicas, emocionais ou espirituais, que fazem com que nos sintamos “separados” de tudo o resto…
“Enquanto nos rejeitarmos e causarmos danos aos nossos próprios corpos e mentes, não faz sentido falar em amar e aceitar os outros.”
Thich Nhat Hanh
Se formos suficientemente corajosos, é nessa altura que escolhemos observar de que forma se manifestam em nós todos os nossos filtros, todos os nossos condicionamentos e a influência que os kleśa (क्लेश - causas de sofrimento) ainda têm sobre nós e de que forma continuam a moldar ou turvar o nosso discernimento (viveka विवेक), numa tentativa desesperada de nos enraizar no medo e de nos afastar da nossa Verdadeira Essência Divina que é o Amor.
É quando começamos a questionar, a identificar todas as solicitações, pressões e influências externas (tão intensas nos dias que correm!) e quando colocamos a intenção de nos libertarmos de tudo aquilo que não somos, para deixar lugar a Quem Realmente Somos, que começa a verdadeira batalha pela Libertação da nossa Consciência… É apenas quando encontramos em nós a força, a coragem, a honestidade, a humildade, a paciência e a determinação para honrar a nossa intenção e compromisso para encontrar e realizar a União com o Divino dentro do nosso Coração, que iniciamos a mais importante, e provavelmente também a mais difícil, de todas as “viagens” da nossa vida, a única capaz de nos levar de volta ao centro do nosso Ser, a única capaz de nos manter em alinhamento com o verdadeiro apelo da nossa Alma, independentemente de todos truques e ilusões que o ego utiliza constantemente para nos manter distraídos e ocupados a alimentar os seus desejos insaciáveis e infinitos, a única capaz de nos revelar, finalmente, a nossa Verdadeira Essência Divina. Não há milagres, nem truques, nem atalhos. Não é algo que simplesmente aconteça. Se desejamos efectivamente libertar a nossa consciência, precisamos fazer essa escolha e depois colocar toda a nossa fé e energia ao serviço dessa Realização.
Yogasūtra I.20
श्रद्धावीर्यस्मृतिसमाधिप्रज्ञापूर्वक इतरेषाम्॥२०॥
śraddhāvīryasmṛtisamādhi-prajñāpūrvaka itareṣām ॥20॥
« Para os outros, a fé, [precede] a energia, a memória, a concentração, a alta inteligência [tomadas de consciência]. »
Quando fazemos esta escolha, iniciamos finalmente o caminho que nos permitirá realizar Quem Somos, o que fazemos aqui, qual o nosso svadharma e de que forma podemos honrá-lo. A partir do centro do nosso Ser, a partir da essência divina dentro do nosso Coração, realizamos plenamente que SOMOS TODOS UM e que nunca estamos sós, que avançamos todos juntos, mesmo se cada um avança ao seu próprio ritmo.
Ao longo do Capítulo XVI da Bhagavad-Gītā, Kṛṣṇa descreve a Arjuna as características dos seres divinos (deva देव) e dos seres demoníacos (asura असुर) (podem facilmente encontrar inúmeras traduções deste texto online, se estiverem interessados em saber um pouco mais sobre este tema). Mais uma vez, é um erro pensar que existe aqui uma separação entre os “bons” e os “maus”, entre aqueles que só possuem virtudes e os outros que estão cheios de defeitos… Num momento ou noutro, todos somos atravessados por estas diferentes consciências, energias, vibrações e frequências e manifestamo-las em nós e à nossa volta. Já sabemos que da qualidade dos nossos pensamentos, das nossas palavras, das nossas acções, depende a nossa frequência e vibração pessoal, assim como a nossa intenção, o nosso consentimento e a nossa autoridade e, para mim, como para muitos de vós, é precisamente porque temos consciência disso que continuamos a praticar Yoga, dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano, por vezes desde a infância, até ao momento da nossa morte (e os praticantes do Shala🪷🍃 são, sem dúvida, um belo exemplo disso, inspirando-me a mim e inspirando-se uns aos outros, desde os 12 aos 78 anos! Estou tão grata pela oportunidade de poder partilhar este espaço e estas experiências convosco durante esta encarnação! 🙏🥰)…
“Esta é uma verdade subtil.
O que quer que tu ames, tu és.”
Rumi
Pintura de Victor Nizovtsev
Infelizmente, não é porque compreendemos algo através do nosso corpo mental, que imediatamente a realizamos e integramos plenamente. Apenas através da experiência, da prática e da realização do conhecimento, acedemos ao verdadeiro Conhecimento e acedemos a uma Sabedoria que se instala em todo o nosso Ser, em cada um dos nossos corpos, físico, energético, mental, emocional e espiritual e que não desvanece ou desaparece com o tempo, nem se altera consoante as circunstâncias. Só então podemos compreender plenamente e em cada uma das nossas células que tudo está interligado e que a forma como tratamos os outros não é diferente da forma como nos tratamos a nós mesmos. A forma como nos tratamos a nós mesmos e como cuidamos do nosso jardim interior, do nosso corpo, da nossa respiração, da nossa mente, das nossas emoções, do nosso espírito, vai inevitavelmente refletir-se na forma como agimos com os outros, assim como a forma como agimos no mundo que nos rodeia. O que damos, recebemos. E se é importante saber dar, é igualmente importante aprender a receber, de forma a encontrar um equilíbrio na nossa relação com os outros e com o mundo à nossa volta, livres de todo e qualquer sistema de parasitismo.
“Os vampiros energéticos, na sua essência, tiram mais do que dão, consomem mais do que criam. Vivem uma vida com base na energia, no tempo e nos recursos dos outros, em vez de os gerarem dentro de si próprios.
Aqueles que são criadores de energia dão generosamente, geram mais do que consomem e respeitam o tempo e a energia que lhes dão os outros, retribuindo-os.
Todos nós temos a opção de viver uma vida assente num sistema de consumo ou uma vida com base na criação, dependendo da forma como gastamos o nosso tempo e utilizamos a nossa energia e do quanto honramos o tempo e a energia dos outros.”
Laura Matsue
O ego tentará iludir-nos tanto quanto possível, voltando sempre a nossa atenção para fora, para o “outro” (seja qual for a forma sob a qual se apresenta), empurrando sempre para amanhã o nosso trabalho pessoal e evitando a nossa responsabilidade pessoal sobre o estado do nosso corpo, da nossa mente, das nossas emoções, da nossa Alma. Mas, para todos aqueles que estão sinceramente determinados a dar ouvidos ao seu Coração e colocar um travão aos desejos insaciáveis do ego, aqueles que fazem da sua vida espiritual uma prioridade (e isto, contrariamente ao que a maioria das pessoas pensa, não implica fechar-se num mosteiro ou numa caverna, mas simplesmente trazer o sagrado para todos os aspectos da vida quotidiana), pouco a pouco vão avançando nesse trabalho pessoal que vai substituindo os defeitos pelas virtudes, o egoísmo pelo altruísmo, o materialismo pela espiritualidade, o serviço a si mesmo pelo Serviço ao Outro, através da prática de Īśvarapraṇidhāna (ईश्वरप्रणिधान - a entrega ao Absoluto/Deus ou o dom de si mesmo, a “oferenda de todas as suas acções a Deus”) e colocando-se plenamente, sinceramente e incondicionalmente ao serviço da Vontade Divina, libertando-se de toda e qualquer necessidade de reconhecimento externo. É importante reconhecer, no entanto, a clara distinção entre apreciar o reconhecimento que podemos receber dos outros, relativamente ao nosso trabalho ou às nossas acções e a necessidade desse mesmo reconhecimento para nos sentirmos valorizados, o que é equivalente à diferença entre ser livre ou depender da aprovação ou validação dos outros, para se sentir bem, útil ou parte de um todo… Só assim vamos permitindo que o Yoga, a União, se manifeste em cada um dos nossos pensamentos, das nossas palavras, das nossas acções, sob a forma de Karmayoga (कर्मयोग - realização espiritual pela via da Acção) e de Bhaktiyoga (भक्तियोग - realização espiritual pela via da Devoção) e recuperamos plenamente a nossa Soberania e Liberdade.
“Somos chamados a ser arquitectos do futuro, não as suas vítimas.”
Buckminster Fuller
Dentro do nosso Coração, sabemos que somos seres criadores, autónomos, divinos, soberanos, livres. É da nossa responsabilidade e apenas da nossa responsabilidade pessoal, escolher se nos autorizamos a caminhar pelo caminho que nos leva de volta à nossa Verdadeira Essência, à União, à Libertação, independentemente de todos os desafios que possam apresentar-se a nós ao longo desta longa caminhada, recuperando assim a nossa plena autonomia física, energética, psicológica, emocional e espiritual, ou se deixamos que outros decidam o nosso destino e nos convençam que existem efectivamente justificações válidas para continuar a criar e alimentar comparações, divisões, separações. Ninguém pode escolher por nós. Ao longo de toda esta aventura ou aprendizagem a que chamamos Vida, só nós podemos saber e decidir o que estamos dispostos a dar e prontos a receber, para ir além da ilusão e da ignorância, relembrar Quem Somos e fazer o necessário para encarnar plenamente os valores, as virtudes e a mudança que queremos ver manifestada no mundo!
“A coragem e o amor são as únicas virtudes indispensáveis;
mesmo que todas as outras se eclipsem ou hibernem,
estas duas manterão a alma viva.”
Sri Aurobindo
Que cada um de nós possa nunca esquecer que, através do olhar que pousamos sobre mundo à nossa volta, ou seja, de cada vez que “vamos buscar água à fonte”, é-nos igualmente oferecida a possibilidade de voltar o nosso olhar para dentro , de olhar para o nosso “recipiente que queremos encher de água pura e cristalina”, de o limpar e purificar, trabalhando sobre nós mesmos, pois só assim poderemos alcançar a plena Liberdade. Através dos nossos pensamentos, das nossas palavras, das nossas acções e, acima de tudo, da coerência, do alinhamento, da integridade e do equilíbrio que manifestamos a cada uma destas etapas de criação e manifestação, vamos deixando a nossa impressão no mundo e, eventualmente, inspirando os outros, da mesma forma que os outros nos inspiram a nós. Porque este caminho e trabalho que fazemos através do Yoga, são efectivamente pessoais e individuais, mas assim que realizamos que SOMOS UM, percebemos que nunca estivemos, nunca estamos e nunca estaremos SÓS…
🙏💜🙏
DAR
“Depois disse um homem rico:
«Fala-nos sobre o Dar».
E Almustafá proferiu:
«Dais pouco quando ofereceis as vossas posses.
Quando vos dais a vós próprios é que dais verdadeiramente.
O que são as vossas posses senão coisas que mantendes e guardais com medo de que possais precisar das mesmas amanhã?
E o amanhã, o que trará o amanhã ao cão demasiado prudente que enterrais seus ossos na areia virgem, enquanto segue os peregrinos até à cidade sagrada?
E o que é o receio da necessidade senão a própria necessidade?
Não será o pavor da sede, quando o vosso poço está cheio, uma sede insaciável?
Há aqueles que dão pouco do muito que têm e que o dão em troca de reconhecimento, mas o seu desejo oculto torna as suas dádivas inúteis.
E há aqueles que têm pouco e que dão tudo.
Estes são os que crêem na vida e na generosidade da vida, e o seu cofre nunca está vazio.
Há aqueles que dão com alegria, e essa alegria é a sua recompensa.
E há aqueles que dão com dor, e essa dor é o seu batismo.
E há aqueles que dão e que não conhecem a dor ao dar, nem procuram alegria, nem dão com a intenção de serem virtuosos; dão como o mirtilo do vale, que respira a sua fragrância para o ar.
É através das mãos destes que Deus fala e é por trás dos seus olhos que Ele sorri sobre a terra.
É correto dar quando nos pedem, mas é melhor dar quando ninguém nos pede nada, apenas através do entendimento.
E para os que estendem a mão, a procura de alguém que receba proporciona-lhes uma alegria maior do que própria a dádiva.
E existirá algo que deveis reter?
Tudo o que tendes será um dia oferecido; por isso, dai-o agora para que o momento da dádiva seja vosso e não dos vossos herdeiros.
Dizeis amiúde: “Daria, mas só aos merecedores.”
As árvores do vosso pomar não o dizem, nem as manadas do vosso pasto.
Estas dão para poderem viver, porque reter é perecer.
Pois aquele que merece receber os seus dias e as suas noites merece receber tudo o resto de vós.
E aquele que mereceu beber do oceano da vida é digno de encher a taça na vossa pequena corrente.
Que outro deserto é maior do que aquele que reside na coragem e na confiança - e até na caridade - de receber?
E quem sois vós para que os homens devam rasgar o peito e revelar o seu orgulho para que possais ver o seu valor nu e o seu orgulho despudorado
Vede primeiro se mereceis ser um dador e um instrumento da dádiva, uma vez que, na verdade, é a vida que dá vida - enquanto vós, que vos considerais dadores, sois apenas testemunhas.
E vós, os que recebeis – pois todos recebeis –, não assumais qualquer obrigação de gratidão, sob pena de vos tornardes escravos daquele que vos dá.
Elevai-vos antes com ele nas asas da dádiva. Pois quem se preocupa com a dívida está a duvidar da generosidade que tem por mãe a Terra altruísta e por pai o próprio Deus.»”
Khalil Gibran, in O Profeta(tradução de Catarina Fonte)
Para terminar, este mês, gostaria de partilhar convosco, para reflexão, caso se sintam chamados a fazê-lo, este vídeo de Lubomir Arsov. É uma curta-metragem de natureza espiritual, mas cujos efeitos visuais e principalmente o conteúdo são bastante intensos e diferentes do que habitualmente partilho convosco e para quem é mais sensível, pode ser difícil visualizá-lo (mas, na minha opinião, vale muito a pena, pois coloca em imagens a realidade sem filtros que muitos de nós sentimos e conhecemos, mas que poucos à nossa volta conseguem ver!)… Assim, peço-vos que façam uso do vosso discernimento para sentir se este é, efectivamente, o Tempo Divino para receber esta mensagem.
Kingdom, de Lubomir Arsov
Como sempre, deixo-vos a minha mais profunda e sincera GRATIDÃO pela vossa leitura e atenção e peço-vos que, como de costume, acolham apenas o que ressoa convosco e coloquem de parte tudo o resto, já que tudo o que partilho convosco é apenas o fruto dos meus próprios questionamentos, experiências de vida, compreensões e integrações alcançadas através dos ensinamentos do Yoga, da minha própria prática espiritual e do meu sādhana (साधन). Com todo o meu AMOR e REVERÊNCIA, desejo-vos coragem, bons questionamentos e boas práticas… Dentro e fora do tapete! Para que um dia, possamos ver no mundo, a mudança que ocorre em nós através do Yoga!
Namaste
🙏💜✨
Rita
ॐ लोकाः समस्ताः सुखिनो भवन्तु
ॐ शान्तिः शान्तिः शान्तिः॥
Oṁ lokā samastā sukhino bhavantu
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ
Oṁ
Que todos os seres, em todos os lugares, sejam felizes.
Que haja Paz, Paz, Paz.
Σχόλια