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Outubro 2025

  • Foto do escritor: Rita
    Rita
  • 20 de set.
  • 19 min de leitura

Cada fibra do nosso ser deve ser treinada para não vibrar diante do que causa sofrimento e repulsa, para não correr desesperadamente atrás do que agrada e atrai, mas sim para aceitar, enfrentar, perseverar e conquistar. Devemos ser suficientemente fortes para suportar todos os contactos, não apenas aqueles que nos são convenientes e pessoais, mas também aqueles que nascem da nossa simpatia ou do nosso conflito com os mundos à nossa volta, acima ou abaixo de nós, e com os seres que os habitam. Suportaremos tranquilamente a ação dos homens, das coisas e das forças e o seu impacto em nós, assim como a pressão dos Deuses e o assalto dos Titãs; afrontaremos e mergulharemos nos mares serenos do nosso espírito, tudo quanto nos chegue pelas vias da experiência infinita da alma.”

Sri Aurobindo



Queridos alunos e amigos ✨,


Em OUTUBRO, o horário mantêm-se às segundas, terças e quintas-feiras de MANHÃ, entre as 6h30 e as 8h30, e à TARDE, entre as 17h30 e as 19h30, mas relembro que NÃO DAREI AULAS de 6 a 17 de OUTUBRO. As aulas retomam na segunda-feira, 20/10.


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🍃🪷 ॐ 🪷🍃


Também em OUTUBRO, na 4ª quarta-feira do mês, entre as 17h30 e as 19h00, continuamos a explorar diferentes temas espirituais. Como tem sido o caso desde o início do ano, este encontro mensal é gratuito e está aberto a todos os interessados, mas requer uma inscrição prévia por parte de quem não frequenta regularmente o Shala🪷🍃, de forma a que seja possível aceder ao espaço (a menos que estejam acompanhados pelos alunos do Shala🪷🍃, que já têm o seu código pessoal).


QUARTA-FEIRA, 22/09

- das 17h30 às 19h00 -

🪷 Satsaṅga 🪷

“Os obstáculos, segundo Patañjali”



Yogasūtra I.30


व्याधिस्त्यानसंशयप्रमादालस्याविरतिभ्रान्तिदर्शनालब्धभूमिकत्वानवस्थितत्वानि चित्तविक्षेपास्तेऽन्तरायाः॥३०॥ 

vyādhistyānasaṃśayapramādālasyāviratibhrāntidarśanālabdha-bhūmikatvānavasthitatvāni cittavikṣepās te ‘ntarāyāḥ ॥30॥


« A doença, a languidez, a dúvida, a precipitação, a preguiça, a intemperança, o erro de julgamento sobre si mesmo, a falta de progresso, a regressão são os obstáculos, causas de dispersão psíquica. »


🍃🪷 ॐ 🪷🍃


Patañjali enumera 9 obstáculos que podem manifestar-se individualmente, simultaneamente ou sucessivamente na via do Yoga, impedindo o praticante de alcançar o seu objectivo, mokṣa (मोक्ष), a Libertação do sofrimento (दुःख duḥkha) e do ciclo de transmigração das almas (संसार saṃsāra). Eles podem manifestar-se na prática de āsana (आसन - postura), mas não só. Constituem um entrave à prática de Yoga enquanto ferramenta meditativa e espiritual, um entrave ao Yoga enquanto “cessação das flutuações da mente(Yogasūtra I,2) e, acima de tudo, um entrave à fluidez de uma vida estável, harmoniosa, plena e consciente, já que o Yoga não é diferente da Vida. Alguns são mais fáceis de identificar, de corrigir e de libertar que outros…


Este mês, durante o nosso momento de partilha mensal, vamos explorar de que forma podemos reconhecê-los e lidar com eles, dentro e fora do tapete. 


🍃🪷 ॐ 🪷🍃


O período de lenta ascensão para sair de um funcionamento inferior e entrar numa Luz mais elevada e numa força mais pura, é o «vale da sombra da morte» para aquele que busca a perfeição; é uma passagem assustadora, cheia de provações, sofrimentos, tristezas, obscurecimentos, tropeços, erros e armadilhas. Para encurtar e aliviar essa provação, ou para fazer com que a felicidade divina penetre nela, é necessário fé, uma crescente submissão da mente ao conhecimento que se impõe de dentro e, acima de tudo, uma aspiração verdadeira e uma prática sincera, correcta e sem falhas.

Sri Aurobindo



 

NÃO HAVERÁ AULAS no Padma Yoga Shala🪷🍃 de: 


- 6 a 17 de OUTUBRO -





Como sempre, acolham apenas o que ressoa para vós dentro do vosso Coração e lembrem-se que são sempre livres de ficar ou de partir, dependendo da forma como se sentem, ou não, em alinhamento com o que ensino, a forma como ensino ou com a própria energia do Shala🪷🍃.


Quando o aluno está pronto, o professor aparece. Quando o aluno está realmente pronto, o professor desaparece.

Lao Tzu



🍃🪷🧘‍♀️💜🧘‍♂️🪷🍃





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Mesmo depois de liberto, o sādhak [praticante de yoga] continua a viver no mundo, e viver no mundo é agir. Mas agir sem desejo, é trabalhar para o bem do mundo em geral ou para o bem da humanidade, ou para alguma nova criação que deve manifestar-se na evolução terrestre, ou ainda para realizar um trabalho imposto pela Vontade Divina.”

Sri Aurobindo 



Quando decidimos embarcar de corpo e Alma, na aventura de uma prática espiritual dedicada e sincera (seja o Yoga ou outra qualquer forma de espiritualidade…), em busca do Divino dentro do nosso Coração (हृदय hṛdaya) e da Libertação (मोक्ष mokṣa) definitiva e permanente de toda e qualquer manifestação do sofrimento, mas também das suas raízes e causas (क्लेश kleśa), é importante ter em conta que aquilo que gostamos, queremos, pedimos (a nós mesmos, aos outros, a Deus ou ao Universo!) ou mesmo que achamos que “merecemos”, nem sempre corresponde ao que realmente precisamos no momento presente


A maioria da vezes, é mesmo o oposto. O que precisamos, o que realmente precisamos, para avançar no caminho que escolhemos e que sentimos como uma evidência clara e precisa das aspirações da nossa Alma, vai no mínimo manifestar-se como um desconforto (mas muito provavelmente vai ser bem mais intenso do que um simples desconforto…), tendo em conta que, inevitavelmente, vai entrar em conflito directo com os desejos, apegos (राग rāga) e repulsas (द्वेष dveṣa), criados e alimentados pelo nosso ego (अस्मिता asmitā).


Todos os nossos desejos têm a sua origem nos kleśa (क्लेश - causas de aflição) e, de forma mais concreta, no ego. Independentemente de se manifestarem sob a forma de apegos ou de repulsas (que não são mais que outra forma de apego, desta vez ao que não queremos, não pedimos, não gostamos ou achamos que não “merecemos”…) e, mesmo que pareçam estar ao serviço da nossa Alma e da nossa evolução espiritual a curto prazo, todos carregam em si o germe do sofrimento (दुःख duḥkha) e, mais tarde ou mais cedo, inevitavelmente, criarão raízes insidiosas e profundas, muito difíceis de arrancar… Por vezes, são extremamente difíceis de identificar, de localizar, de reconhecer, de tal maneira o ego coloca à sua disposição todos os seus mecanismos de defesa, lutando incansavelmente para assegurar a sua sobrevivência, protecção e continuidade… Todos nós temos os nossos ângulos mortos, nas diferentes etapas do nosso crescimento espiritual! E mesmo quando começamos a libertar-nos da parte do ego que constitui a nossa personalidade, ainda temos de lidar com o ego espiritual, que tem o mesmo modo de funcionamento, mas mais sorrateiro, e que envolve esses desejos (agora “espirituais”), esses apegos e essas repulsas na ilusão (माया māyā), na cegueira ou na negação, criando polaridades e julgamentos, empurrando-nos para cima ou para baixo, criando sentimentos de superioridade ou de inferioridade, de certo ou de errado, de bom ou de mau, de justo ou injusto (tanto faz, desde que sejamos levados para longe do nosso centro!)… É a eterna batalha do ego para manter o seu poder e o seu reinado, para manter a vontade pessoal em escravidão e ao serviço de si mesmo, impedindo a todo o custo a prática e a manifestação de Īśvarapraṇidhāna (ईश्वरप्रणिधान), a entrega da vontade pessoal ao Serviço da Vontade Divina, a Deus, ao Absoluto, evitando tanto quanto possível o dom de si mesmo e de todas as acções e dos seus frutos (consequências) a Deus.


O ego nunca larga, nunca recua, nunca desiste. Enquanto existir um medo (अभिनिवेश abhiniveśa), ele reforçá-lo-á. Enquanto existir uma repulsa (द्वेष dveṣa), ele amplificá-la-á. Enquanto existir um apego (द्वेष dveṣa), ele intensificá-lo-á. Simultaneamente fonte destas causas de sofrimento e consequência da ignorância metafísica (अविद्या avidyā) da nossa Verdadeira Essência Divina, raiz de todos os outros kleśa (क्लेश - causas de aflição) e origem do sentimento de separação e de abandono de que padece cada ser humano durante grande parte da sua existência, até que volte a estabelecer a ligação com o Divino dentro do seu Coração e alcance a compreensão de que Somos Todos Um. O ego nunca abrirá mão da sua sobrevivência, da sua existência, do seu poder. E a única coisa que pode iniciar e consolidar o nosso processo de libertação das suas garras e enredos é a nossa intenção e decisão plena e consciente de nos colocarmos incondicionalmente ao Serviço da Vontade Divina, assim como a nossa vontade inabalável para utilizar todas as ferramentas que temos à nossa disposição para colocar em prática e realizar, dia após dia, continuamente, incessantemente, persistentemente, firmemente e incansavelmente tudo o que seja necessário para nos mantermos no nosso Verdadeiro Caminho Orgânico, ao Serviço do Dharma (धर्म - Ordem Cósmica), das Leis Universais (ऋत ṛta) e da Vontade Divina, independentemente do desconforto ou mesmo da dor que isso nos possa provocar inicialmente. É um processo que não pode existir sem  e Devoção… 


Uma consagração total, uma equanimidade completa, um obliteramento impiedoso do ego, uma libertação transformadora que desprende a nossa natureza dos seus modos de acção ignorantes, estas são as etapas que permitem preparar e realizar a submissão de todo o nosso ser e de toda a nossa natureza à Vontade Divina - uma entrega total, completa e sem reservas.

Sri Aurobindo




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Não. Não se trata de sacrifício. Aliás, é exactamente o oposto do sacrifício. 


Obviamente, não estou aqui a utilizar o termo sacrifício, para me referir a uma renúncia ou desapego [अपरिग्रह aparigrāha], a um esforço sobre si mesmo [तपस् tapas], à devoção e oferenda de si mesmo ao Divino [ईश्वरप्रणिधान īśvarapraṇidhāna], ou qualquer outro Yama/Niyama ou membro do Yoga que exigem obviamente dedicação e disciplina e, inevitavelmente, alguma forma de compromisso que pode ser visto como um “sacrifício”. A minha intenção é fazer referência aos abusos e desgastes que são cometidos sobre as reservas da nossa energia vital e saúde física, mental, emocional e espiritual, de forma compulsiva e muitas vezes inconsciente, em busca de validação, amor, louvores, etc. 


Por muito difícil que possa ser reconhecê-lo, o sacrifício, enquanto forma de abuso sobre si mesmo e, inevitavelmente, mais tarde ou mais cedo, também sobre os outros, apenas pode existir a partir do ego e em serviço a si mesmo, nunca a partir do Coração, da Alma, da Vontade Divina ou do Dharma, nunca no Serviço ao Outro. O sacrifício apenas pode existir se for alimentado pelos programas mentais e mecanismos de defesa do ego que criam e amplificam o eterno drama entre os papéis de vítima, agressor e salvador, assim como os complexos de mártir, de herói ou de messias, perpetuando inconscientemente um sistema de parasitismo e vampirismo energético, que se afasta completamente do sistema de autonomia energética, mental, emocional e espiritual, assim como a soberania e liberdade para as quais nos prepara o Yoga e que são indispensáveis à nossa evolução espiritual.


Quando nos colocamos sinceramente e plenamente ao Serviço do Dharma e da Vontade Divina, as noções de vitimização, agressão, martírio, salvação ou sacrifício são lentamente e progressivamente substituídas pela compreensão plena da nossa responsabilidade pessoal em cada um dos nossos pensamentos, intenções, palavras e acções. Através dessa compreensão da Lei do Karma, assim como das diferentes forças universais e cósmicas (positivas e negativas) em acção dentro de nós e à nossa volta, podemos trazer finalmente à Luz da nossa Consciência, a influência que ainda tem cada um desses arquétipos, nas nossas escolhas e decisões, para iniciar (ou continuar) em consciência, o processo de desenvolvimento de nosso Discernimento e da  Equanimidade que simultaneamente nos levam à Sabedoria e nos afastam, de forma definitiva e permanente, de toda e qualquer forma de sacrifício e de abuso (sobre os outros, mas acima de tudo, sobre nós mesmos!). Sempre ouvi dizer que quando há Amor, não há sacrifício… No entanto, também sempre pude testemunhar, com maior ou menor neutralidade, que na presença do espírito do sacrifício, o Amor-Próprio raramente estava incluído no “pacote”… 


Será que pode existir Amor, sem Amor-Próprio?


Os faróis não correm por toda a ilha à procura de barcos para salvar; eles simplesmente permanecem ali, a brilhar.

Anne Lamott




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Não se trata de afastar da nossa vida, de forma brutal e voluntariosa, tudo aquilo que gostamos, porque nos disseram que “não é bom” para nós, nem tão pouco de sobrecarregar a nossa existência com coisas que nos desagradam, sob pretexto que nos “fazem bem”, com atitudes que muitas vezes acabam por nos empurrar inconscientemente para uma insidiosa arrogância espiritual. Também não se trata de viver regularmente ou constantemente contrariados, a tentar fazer, além das nossas forças, o que é supostamente “correcto”, porque é assim que “tem” de ser, ou “deve” ser (mas de onde vêm estes teres e deveres?), porque o mais certo é acordar um dia com um imenso cansaço, sentimentos de inferioridade e uma imensa frustração. E, acima de tudo, nunca se trata de cair na ilusão de que somos mais úteis dentro do Plano Divino se voltarmos o nosso olhar apenas para o exterior e nos mantivermos cegos ao que está a acontecer a cada instante dentro de nós. O trabalho espiritual não acontece no exterior, no que nos rodeia, no que se passa à nossa volta, mas sim dentro de nós, essencialmente através da forma como escolhemos reagir ou agir face ao que nos rodeia, dia após dia. É precisamente quando nos autorizamos a olhar para dentro com sinceridade e honestidade, quando nos autorizamos a reconhecer e relembrar a Verdade sobre Quem Somos, em vez de escolher a distração, a ilusão e a falsa realidade das “sombras” projectadas na parede da caverna, tal como descritas por Platão, na sua “Alegoria da Caverna”, que iniciamos verdadeiramente o nosso processo de Cura, de Ascensão e de Libertação. Porque também não se trata de fazer “menos” do que aquilo que somos verdadeiramente capazes, o justo será sempre fazer o melhor que podemos, com as ferramentas que temos, no momento presente.


Quem olha para fora, sonha.

Quem olha para dentro, desperta.

Carl Jung




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O verdadeiro trabalho começa quando reconhecemos e aceitamos as coisas (as pessoas, situações, circunstâncias, etc.) pelo que são realmente e compreendemos que não é preciso “fazer”, “ter”, “alcançar” mais. A resposta nunca está no exterior, nos outros, nem tão pouco no “mais”… O “exterior” afasta-nos do centro e empurra-nos para um constante ciclo de comparação, culpa e polarização. Os “outros”, por muito próximos que nos sejam, de um ponto de vista relativo (e apenas deste ponto de vista!), continuam a ser apenas mais uma parte do “exterior” e, por essa razão também não podem ser transformados por nós, de fora para dentro. E, sinceramente, porque o faríamos? Já o “mais”, é simplesmente todo o oposto da filosofia, do método e do objectivo do Yoga e não faz mais que empurrar-nos para o passado ou para o futuro, criando assim mais ansiedade, frustração, cansaço, desmotivação e, muito provavelmente, ao fim de algum tempo, estagnação ou regressão.


É apenas quando aceitamos plenamente as coisas tal como elas são, quando aceitamos reconhecer e identificar dentro de nós o que nos impede de aceder à Expressão Mais Elevada da nossa Alma, quando aceitamos acolher a Verdade sobre cada parte de nós que se vai revelando aos poucos à Luz da nossa Consciência (e, graças a Deus, isto acontece lentamente e progressivamente, mesmo se muitos manifestam regularmente uma certa impaciência ao longo do processo, porque se acontecesse de uma vez só, muito provavelmente não teríamos força e Coragem para fazer face ao imenso trabalho que se apresentaria diante dos nossos olhos, todas as feridas, todos os traumas, todos os fragmentos de Alma, todas as memórias de vidas passadas, tudo o que fomos, somos e seremos, não de forma linear, mas multidimensional), e só quando colocamos a intenção de confiar plenamente e sem restrições no Plano Divino concebido especificamente para nós enquanto parte integrante do Plano Divino para toda a Humanidade e nos entregamos incondicionalmente à Vontade de Deus, que começamos finalmente a compreender o que significa este processo de Libertação (मोक्ष mokṣa) e qual é verdadeiramente o objectivo do Yoga.


Não é possível entrar totalmente na verdade espiritual do Eterno e Infinito se não tivermos fé e coragem para nos entregarmos ao Senhor de todas as coisas, o Amigo de todas as criaturas, e se não deixarmos completamente para trás todas as nossas limitações e medidas mentais. Chega um momento em que temos de mergulhar sem hesitação, sem reservas, sem medo e sem escrúpulos no oceano do Infinito, do Livre, do Absoluto.”

Sri Aurobindo




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Não praticamos para ficar “mais” fortes, flexíveis, disciplinados, tranquilos, puros, saudáveis, frugais, compassivos, serenos, pacientes, etc., mesmo se é óbvio que isso, com o tempo, a prática e a experiência, pode vir a acontecer. Praticamos para remover aquilo que nos está a impedir de manifestar a nossa força, a nossa flexibilidade e capacidade de adaptação, a impedir a constância no esforço sobre nós mesmos (तपस् tapas), com respeito pelos muito necessários tempos de descanso (a não confundir com preguiça ou letargia), para remover também aquilo nos causa agitação interior e todo o “lixo”, físico, mental, emocional ou espiritual, que nos mantém num estado constante de intoxicação e nos impede de abrir plenamente o Coração a nós mesmos, aos outros e ao mundo que nos rodeia, mesmo nos momentos mais difíceis e desafiantes. Afinal, não podemos encher com água um copo que já está cheio. Nem tão pouco podemos esperar que a água se mantenha pura, se o recipiente estiver impróprio para consumo. Uma única gota de veneno pode ser o suficiente para destruir uma boa quantidade de água, mas à medida que vamos purificando o recipiente, a água que contém vai-se tornando cada vez mais clara e límpida, até que um dia possa finalmente ser absolutamente pura e cristalina. E isto, obviamente, não acontece de um dia para ou outro e, na maioria dos casos para cada um de nós, nem sequer ao longo de inúmeras vidas… 


Faz sentido ter pressa? E, ao contrário, ficar sentado à espera que as coisas aconteçam sozinhas, faz algum sentido? Se soubermos verdadeiramente o que queremos para nós e porquê e reconhecermos e aceitarmos o ponto em que nos encontramos no momento presente, sem alterar (para cima ou para baixo) a realidade de tudo o que somos, aqui e agora, então a resposta torna-se perfeitamente clara e límpida, muito antes de sentirmos que o nosso “recipiente” está pronto para acolher a “água” do Conhecimento e da Sabedoria. Para alguns de nós, é precisamente essa resposta que nos mantém alinhados no nosso caminho, constantemente polindo e purificando, com Paciência e Compaixão, procurando constantemente o perfeito equilíbrio entre perseverança e desapego, dia após dia, dentro e fora do tapete…



Yogasūtra I. 12

अभ्यासवैराग्याभ्यां तन्निरोधः॥१२॥

abhyāsavairāgyābhyāṁ tannirodhaḥ 12


« A paragem das agitações mentais obtém-se através da prática constante (perseverante) [do Yoga] e do desapego. »



No entanto, por vezes este reconhecimento do “porquê” não é o suficiente para remover certos véus da ignorância e desconstruir partes do ego ou do ego espiritual que se agarram à existência e se atravessam no nosso caminho, empurrando-nos para fora dele, desviando-nos e afastando-nos do apelo da nossa Alma. O “porquê” pode não nos trazer automaticamente o “como”


Por vezes passamos anos à procura do método que nos convém, do professor que se adapta ao nosso temperamento, das leituras que nos inspiram ou das actividades que nos propulsam para a frente. Há sempre muitos obstáculos e resistências e há momentos em que temos dificuldade em perceber se estamos a avançar, se estamos estagnados ou mesmo se estamos a regredir. Mas sempre que somos inesperadamente (ou não!) empurrados para fora da nossa zona de conforto, sabemos que o Universo nos está a proporcionar uma nova oportunidade para escolher e decidir a etapa seguinte da nossa evolução espiritual. Ou, como no caso da minha preferência pessoal, desde que há uns anos, a vida me puxou o tapete por baixo dos pés, de forma bastante intensa e violenta, podemos fazer um esforço para estarmos atentos aos sinais e sincronicidades que nos vão sendo enviadas, para que sempre que possível, possamos sentir e antecipar a chegada desses momentos de desconforto e entregar-nos a eles voluntariamente, com  e Confiança no Plano Divino, criando o mínimo de resistências possível e acolhendo com responsabilidade e tanta maturidade quanto possível, o que nos vai chegando, sem nos agarrarmos a ressentimentos ou arrependimentos de eventos passados, nem ao medo e ansiedade das incertezas do futuro, mantendo o foco e a atenção no momento presente! De qualquer forma, essas oportunidades nunca se manifestam de forma fluída, pacífica ou sem esforço, tampouco terão grande efeito se continuarmos a reagir sempre da mesma maneira, enquanto esperamos resultados diferentes… 


Esquecemos regularmente que vivemos num mundo dual, onde as polaridades existem e a nós cabe-nos integrá-las da melhor forma possível, até que possamos alcançar um estado interno de equanimidade e neutralidade, que nos permita manter o nosso centro e a nossa Paz em todas as situações e, especialmente, quando nos encontramos no meio de uma tempestade (física, energética, mental, emocional ou espiritual…). 


Porquê? Para evitar o sofrimento. O sofrimento, inevitável consequência de cada vez que nos deixamos levar por estes extremos criados pela ilusão da dualidade e alimentados pela ignorância, o ego, o apego, a repulsa, o medo da morte, pela influência que ainda têm os kleśa sobre nós.


Mas como? Como evitar o sofrimento? Será que o primeiro passo não será reconhecê-lo, onde quer que ele esteja escondido ou infiltrado? Será que podemos evitá-lo ou libertar-nos definitivamente dele, se não regressarmos à sua origem e aceitarmos, com sinceridade e coragem, olhar para ele e assumir toda a nossa responsabilidade pessoal na evidência dos seus efeitos negativos? Como podemos considerar uma atitude diferente face ao sofrimento, uma atitude oposta mesmo, quando necessário, uma atitude que nos permita ser mais positivos, mais eficazes, mais serenos, mais pacientes, mais pacíficos connosco mesmos e com os outros, se não nos autorizamos a reconhecer a fonte e a origem desse mesmo sofrimento? Vem de mim? Vem dos outros? Vem do mundo que me rodeia? E o que acontece se escolher negá-lo, resistir-lhe, revoltar-me contra ele, em vez de o acolher? Transformar-me-ei numa vítima dos outros, das circunstâncias? Ou num agressor, incapaz de assumir qualquer responsabilidade no que me é dado a viver, constantemente culpando os outros por tudo o que me “acontece”? Arrancarei o Coração do peito e, com ele nas mãos, tentarei salvar o mundo inteiro, sem me dar conta que um Coração nas mãos, arrancado do peito, afastado do centro, já não está a pulsar em alinhamento com a Frequência Divina? Que caminho estamos verdadeiramente a escolher, quando nos recusamos a ver a Verdade sobre nós mesmos, sobre os outros, sobre o mundo que nos rodeia? Porque, no final, quer queiramos ou não, quer gostemos ou não, quer nos sintamos prontos ou não (até porque “estar pronto”, não é um sentimento, mas sim uma decisão que tomamos!), quer consigamos reconhecê-lo a curto, médio ou longo prazo ou não (às vezes são precisas muitas, muitas, muitas encarnações), o Dharma (Ordem Cósmica) nunca conspira contra nós, o Universo e as suas Leis Universais nunca conspiram contra nós, Deus nunca conspira contra nós!


Existem desafios, existem obstáculos, existem interferências, existem ataques energéticos e subtis, existem também forças negativas e demoníacas que podem tornar-nos a vida muito, muito mais difícil. Mas, no final, aconteça o que acontecer, por muito difícil, intenso ou violento que seja, temos sempre escolha. Porque onde existe o mal, também existe o bem! E é preciso foco e atenção, para não nos deixarmos distrair


A cada momento, o sādhak [praticante de yoga] deve permanecer vigilante, para detectar as artimanhas do ego e as armadilhas sedutoras dos Poderes das Trevas, que se apresentam sempre como a única fonte de Luz e de Verdade, e fazem da forma divina uma simulação, para melhor capturar a alma daquele que está à procura.

Sri Aurobindo


 


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Através do nosso Livre-Arbítrio, podemos escolher quais os pensamentos que queremos alimentar e desenvolver e os outros que observamos chegar, mas escolhemos deixar passar, sem sequer lhes servir um chá… Podemos escolher as palavras que proferimos e as que preferimos silenciar, e podemos também escolher corrigir as que, de vez em quando, ainda escapam de forma menos alinhada com os nossos Valores Éticos. Podemos também escolher esquecer aquelas que nos são dirigidas a partir de Corações que sofrem, que é para isso que serve o Perdão e a Compaixão. E, finalmente, podemos também escolher cada uma das nossas acções, podemos escolher agir a partir de um ponto de discernimento, maturidade, equanimidade e sabedoria, tanto quanto nos é possível no momento presente, com as ferramentas que temos, em vez de reagir de forma impulsiva ou descontrolada


Ninguém é perfeito… 


De cada vez que saímos do nosso centro e nos posicionamos consciente ou inconscientemente acima ou abaixo dos outros, de cada vez que criamos julgamentos estamos, na realidade, a autorizar e consentir um sistema de separação e polarização que, mais tarde ou mais cedo, se voltará contra nós, trazendo consigo apenas mais sofrimento, afastando-nos do objectivo do Yoga e do reconhecimento de nós mesmos enquanto seres Divinos, Soberanos e Livres.


Que os nossos olhos nunca se fechem à Verdade sobre Quem Realmente Somos. Que possamos sempre escolher, com discernimento e maturidade espiritual, cada passo dado ao longo do nosso Caminho Orgânico, para que possamos acolher plenamente dentro dos nossos Corações, com Amor e Compaixão, cada experiência que nos é trazida pela Vida, sem julgamentos, sem resistências, sem revoltas, mesmo quando não conseguimos ainda perceber, a partir do nosso corpo mental, o que está a acontecer, mesmo quando nos parece brutal ou injusto, mesmo quando pensamos que não teremos forças para lidar com tudo até ao fim. Muitos de nós sentem-se assim, neste momento, não é verdade? Mas… 


Nunca estamos sós.

Somos o Divino que vive dentro do nosso Coração.

Essa é a nossa Essência, a nossa Verdadeira Natureza.

Relembrá-lo é o verdadeiro objectivo do Yoga (योग - União)

Apenas a Verdade liberta e essa é, efectivamente, a mais importante de todas as verdades sobre Quem Realmente Somos.


O que acham que acontecerá, se tiverem a Coragem de abrir plenamente esse Coração, essa Moradia Divina, para aí depositar, com o máximo de cuidado, respeito e gentileza, todos os fardos, todas as amarras, todos os traumas e feridas que ainda carregam por cima dos vossos ombros? Será que existe outra forma de saber, além de experimentar?



“Todas as coisas se movem na direção de um desfecho divino; cada experiência, cada sofrimento, cada privação, assim como cada alegria e cada satisfação, é um elo necessário na execução de um movimento universal, que temos como tarefa compreender e apoiar. Revoltar-se ou condenar, gritar, indignar-se, é seguir o impulso dos nossos instintos ignorantes e desordenados. A revolta, como tudo, tem a sua utilidade neste jogo e é mesmo necessária. É uma ajuda, decretada no seu tempo, numa determinada etapa do desenvolvimento divino; mas o movimento de uma rebelião ignorante pertence ao estágio da infância da alma ou à sua adolescência imatura. A alma madura não condena: ela procura a compreensão e a maestria; ela não se indigna, mas aceita ou trabalha para melhorar e aperfeiçoar; ela não se revolta interiormente, mas faz um esforço para obedecer, realizar e transfigurar.

Sri Aurobindo




The Film titled WHAT NOW, WHAT NEXT was done by Hasan & Partners Helsinki advertising agency for subbrand: Now Magazine (brand: Now) in Finland. It was released in Oct 1999.



Como sempre, deixo-vos a minha mais profunda e sincera GRATIDÃO pela vossa leitura e atenção e peço-vos que, como de costume, acolham apenas o que ressoa convosco e coloquem de parte tudo o resto, já que tudo o que partilho convosco é apenas o fruto dos meus próprios questionamentos, experiências de vida, compreensões e integrações alcançadas através dos ensinamentos do Yoga, da minha própria prática espiritual, do meu sādhana (साधन), com o apoio incondicional das minhas Equipas Divinas. Com todo o meu AMOR e REVERÊNCIA, desejo-vos coragem, bons questionamentos e boas práticas… Dentro e fora do tapete! Para que um dia, possamos ver no mundo, a mudança que ocorre em nós através do Yoga!


Namaste

✨ 💜 🙏 💜 ✨

Rita



ॐ लोकाः समस्ताः सुखिनो भवन्तु

ॐ शान्तिः शान्तिः शान्तिः॥

Oṁ lokā samastā sukhino bhavantu

Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ


Oṁ

Que todos os seres, em todos os lugares, sejam felizes.

Que haja Paz, Paz, Paz.



🍃🪷🧘‍♀️💜🧘‍♂️🪷🍃


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